"Às vezes acho que sou louca porque tudo o que consigo ver em datas como o Natal é hipocrisia. Meus familiares se odeiam e fingem estar tudo certo nesta data. Será que o problema é meu?" L.
Cara leitora, já começo te respondendo de maneira precisa do ponto de vista existencial: nossos problemas são sempre nossos. Não importa a causa, motivo ou circunstância. Se é um problema para nós, sempre tem a ver conosco, direta ou indiretamente. Mas, acredite, isso é um grande ponto de partida para encontrar a paz neste Natal!
Há tempos o Natal não é nada senão uma ocasião para nossa sociedade de consumo aquecer a economia de supérfluos. A data, em sua origem, tem pelo menos dois significados que nada têm a ver com o velhinho simpático bancado pela gigantesca marca de refrigerantes!
O Natal é uma data que, como o próprio nome diz, marca o nascimento do avatar cristão. Sim, o Natal é uma data cristã e o foco dele deveria ser uma espécie de festa de aniversário de Jesus Cristo. É curioso, mas o Ocidente, chamado cristão, há muito tempo deixou de sê-lo, reduzindo as duas datas principais do calendário religioso a um "bacanal romano" de gastos.
Amiga, você não é louca em perceber algo estranho no Natal ordinário de nossas famílias. Sim, é um festival de hipocrisia e, como endossei acima, há muito perdeu seu significado real. Mas queria te propor minhas tradicionais perguntas: em que lugar pretende não achar hipocrisia no âmbito humano?
Não sei se também já conseguiu visualizar que no nível social a hipocrisia é uma condição de convivência. Vamos definir hipocrisia como o ato de representar uma postura, opinião ou comportamento, ou seja, quando simulamos no fato o que não sentimos no ato com um determinado objetivo - sendo este válido ou inútil. Então, volto a insistir, cara leitora, nunca fora hipócrita?
Você não é louca, com toda a certeza, mas o problema, que é seu, é que provavelmente por vir de uma família (acusada de hipocrisia e, provavelmente, sendo mesmo) perfeitamente estruturada, que te assistiu de todas as formas, você acha que o mundo real é um campo arado de perfeição esperando uma colheita de coerência!
A própria maneira como usa o termo ódio é idealizada, demonstrando o desconhecimento da manifestação real deste sentimento. Nesta confusão interpretativa da realidade, você ainda não consegue aceitar que todos naquele evento - do dia 24 ou 25, ceia ou almoço - são hipócritas, e em maior ou menor grau usam essas datas como uma catarse para acreditar na mesma fantasia (de que está tudo bem neles), que senta em cima para acusá-los!
Cara leitora, olhe para o Natal com sua capacidade crítica denunciada e, a partir da sua observação anterior, caso esteja aberta a considerar a minha observação sobre o caso, siga a conclusão de que a hipocrisia não é um problema seu quando observada num grupo, mas ela se torna sua, sem perceber, quando julga hipócrita outra pessoa enganando a si mesmo como superior a elas. Sendo que você, quando a ocasião pede, é hipócrita também!
Desculpe a sinceridade, mas se mandou o e-mail acredito estar aberta a crescer. Então para de tentar mudar o mundo quando provavelmente não arruma a própria cama! Pare! Se quer ter uma vida plena, pare de apontar os erros de fora e se responsabilize em entender os erros de dentro, porque na profundidade da sabedoria popular diz: "quando apontamos um dedo para o outro, há pelo menos três voltados para nós!"
Cara leitora, neste Natal te desejo o melhor que esta festa pode trazer: somos todos iguais, com problemas e hipócritas! Que você consiga entender que o mundo muda quando mudamos nossas perspectivas, tirando dos outros o incômodo que denota de maneira disfarçada. O problema não é exatamente o que vemos, mas quando oportunamente o vemos encontramos a paz ao resolvermos este em nós. Seja no Natal, ou em qualquer festa, o que me incomoda é problema meu!
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