Advogada, coordenadora de Projetos CADH, mestre em Direitos e Garantias Fundamentais (FDV) e especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública

Apagão em São Paulo: a imprevisibilidade já deveria estar prevista

Repassar toda essa ladainha do clima, se assim pudermos chamar, se faz necessária, pois muitas pessoas não compreenderam o nexo de causalidade

Publicado em 21/10/2024 às 03h00

Era sexta-feira, 11 de outubro, quando a maior cidade da América do Sul e uma das maiores do planeta sofreu com um temporal cerca de uma hora, que deixou um rastro de destruição. Um apagão afetou diretamente cerca de 3 milhões de pessoas, e uma semana depois milhares de pessoas ainda se encontravam sem energia. Claro, os mais pobres.

Passado o temporal, enquanto os prejudicados ainda às escuras tentavam avaliar prejuízos, a empresa responsável já determinava que a autoria era da natureza e que estava prevista a contratação de mais profissionais. Encaminhamentos pífios para problemas gigantes.

Pressões não faltaram de todos os lados e um verdadeiro “jogo de empurra” se instalou, colocando sempre na conta do outro a responsabilidade.

A questão da violência dos eventos climáticos e da sua imprevisibilidade não é surpresa para ninguém. Uma prevista imprevisibilidade. As mudanças climáticas têm diversas consequências negativas na vida das pessoas.

As mudanças climáticas podem aumentar os fatores que levam as pessoas à pobreza e as mantêm nessa situação. O aumento da temperatura do planeta pode causar hipertermia e morte. As mudanças climáticas também podem aumentar o risco de surgimento de novas pandemias e doenças infecciosas. A escassez de água pode afetar a agricultura, comprometendo a subsistência e a produção de alimentos. Inundações podem assolar favelas urbanas, destruindo casas e meios de subsistência. As temperaturas mais altas fazem com que a água se evapore mais depressa, o que faz com que a vegetação murche mais rápido. O calor pode dificultar o trabalho ao ar livre.

São Paulo convive com apagões desde a última sexta-feira (11) devido ao temporal
São Paulo conviveu com apagões durante a última semana. Crédito: Mathilde Missioneiro/Folhapress

Ainda, as mudanças climáticas podem reduzir a biodiversidade, aumentar o nível do mar, provocar o derretimento do gelo polar e provocar tempestades catastróficas, como a que aconteceu em São Paulo no último dia 11.

Repassar toda essa ladainha do clima, se assim pudermos chamar, se faz necessária, pois muitas pessoas não compreenderam o nexo de causalidade entre a irresponsabilidade com o meio ambiente e com a vida coletiva com os desastres e outras tantas, incluindo as autoridades, fazem discursos panfletários que não coadunam com as ações de prevenção.

As tragédias por si só já são uma verdadeira desgraça na vida de uma pessoa, família e comunidade, no entanto, o ser humano consegue piorar a situação, quando, ao invés de incidir para amenizar as consequências, faz da tragédia moeda de troca, econômica e política.

O teatro de cunho trágico ou funesto, surgido no século VI a.C, conhecido como tragédia grega, durante as festas em homenagem ao deus Dionísio, tinha a função de gerar a catarse ou purgação dos sentimentos por provocar terror e compaixão no público. Com personagens mitológicos, o enredo das tragédias era composto por um conflito, uma revelação e uma punição, se aproximando e muito das tragédias contemporâneas. A única diferença: naquela época, eram ficcionais e tinham o objetivo lúdico e lírico, e as de hoje são reais e consequências da irresponsabilidade humana, com CEP e CNPJ.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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