Um levantamento realizado pela Polícia Militar revela o impacto dos conflitos entre facções criminosas nas comunidades do Espírito Santo. Nos últimos três meses do ano passado, na região no entorno do Bairro da Penha — que reúne nove bairros e comunidades — ocorreram quase metade dos confrontos com a polícia registrados em Vitória. Entre as localidades está Jaburu, alvo da guerra do tráfico no último final de semana, com quatro mortos e 11 presos, e que demandou intervenção militar.
E se a comparação for ampliada, a região do aglomerado da Penha fica com 13% dos embates com a polícia em relação a outros bairros da Região Metropolitana. Quando consideramos todos os bairros do Estado, o total de conflitos chega a 10%.
O aglomerado urbano, conhecido como Território do Bem, está localizado entre as regionais de Jucutuquara e Maruípe, e reúne os bairros da Penha, Bonfim, São Benedito, Consolação, Itararé, Gurigica, e as comunidades de Jaburu, Engenharia e Floresta. A última pesquisa populacional da região, do ano de 2019, aponta que lá vivem mais de 32 mil pessoas.
Zona de conflito
Foi identificado ainda que sete bairros da Capital são mais vitimizados pela violência do tráfico: Tabuazeiro (Morro do Macaco), Itararé, Bairro da Penha, Forte São João, Santos Dumont, São Benedito e Conquista.
Duas organizações criminosas têm suas bases nessas localidades: o Primeiro Comando de Vitória (PCV) e o Terceiro Comando Puro (TCP). Foram seus integrantes que promoveram os ataques em Jaburu no final de semana, na disputa por territórios.
Em entrevista para a TV Gazeta, o secretário de Segurança Pública, Eugênio Ricas, explicou que quatro pessoas morreram durante os conflitos, sendo três em confronto com policiais e um antes da chegada das forças de segurança.
“Foi uma operação de guerra montada pelo PCV, que queria tomar o território que hoje, é dominado pelo TCP. Eles se vestem para a guerra, vão armados para a guerra, e com disposição para matar. Se não fosse a intervenção da Polícia Militar, mais gente teria morrido”, relatou o secretário.
O levantamento realizado pelos militares foi entre 5 de outubro e 31 de dezembro, que coincide com o ponto alto de outra leva de ataques e disputas entre as duas organizações criminosas.
E que fizeram com que a principal liderança do PCV, na ocasião, Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, que estava escondido no Rio de Janeiro, voltasse ao Estado. Ele acabou sendo preso em março deste ano e transferido para o presídio federal em Catanduvas, no Paraná.
Na época da pesquisa também foram presas duas lideranças do TCP, os irmãos Luan Gomes de Faria e Gabriel Gomes Faria, dois dos ''Irmãos Vera'' — assim conhecidos em homenagem à mãe —, e que figuravam na lista dos dez criminosos mais procurados do Estado.
Foram considerados no estudo os seguintes eventos criminosos com uso de arma de fogo:
- Disparos
- Confronto com forças de segurança
- Tentativa de homicídio
- Homicídio
E que tinham as seguintes características:
- As que somente o infrator efetuou disparos contra os policiais e o policial não pôde reagir à agressão em virtude das circunstâncias do local
- Aquelas em que somente os policiais efetuaram disparos de arma de fogo contra o infrator
- E as situações em que houve disparos tanto dos infratores quanto dos policiais
Plano para reduzir criminalidade
Os dados sobre confrontos fazem parte de um estudo realizado pela Polícia Militar, apresentado ao Governo do Estado no início do mês de março, com propostas para reduzir os índices de criminalidade nas áreas mais vulneráveis do Estado.
Foram propostas ações de cunho social, voltadas ao desenvolvimento da região, com melhorias na infraestrutura que garantam mobilidade urbana e acessibilidade; geração de emprego e renda; ampliação de serviços públicos, como a abertura de novas ruas e alargamento das vielas e becos, além de pavimentação; regularização fundiária e iluminação pública.
Por nota, o governo do Estado informou que o documento "passará por avaliações de viabilidade nas instâncias governamentais competentes".
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