Ameaças, perseguições, lesões causadas por agressões variadas, homicídios e feminicídios — incluindo as tentativas —, estupros. É um resumo dos ataques sofridos pelas mulheres diariamente. E se somarmos os registros de cada uma destas modalidades de violência no ano de 2023, o cenário é ainda mais assustador: eles equivalem a população de três cidades do Espírito Santo. É como se todos que vivem nestas localidades tivessem sido alvo da brutalidade daqueles com quem compartilham a vida.
O levantamento foi realizado a partir dos dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, totalizados até o ano passado e discriminados no gráfico abaixo. E dá dimensão do problema a ser enfrentado pela segurança pública. Foi considerado cada registro como tendo sido feito por uma vítima. A soma deles equivale a população das cidades de Apiacá, Dores do Rio Preto e Mucurici.
Uma violência cujo desfecho extremo resultou em mortes como as de Sara da Cruz Moulin Merçon e Aline Ribeiro da Rosa, vítimas da crueldade dos seus companheiros em crimes cometidos neste mês. A primeira foi executada em casa, em Venda Nova do imigrante, a facadas. A segunda com diversos disparos de arma de fogo, em uma via pública, em Aracruz, Norte do Estado.
Exemplos do agravamento dos casos de violência contra a mulher no primeiro semestre deste ano, principalmente em relação as situações de feminicídio, a reta final de um ciclo de violências. Até julho deste ano já são 24 mulheres que perderam a vida de forma brutal, e que correspondem a quase 70% dos casos registrados em todo o ano passado (35).
Um ano em que até os casos de homicídio de mulheres, que seguem a tendência de queda dos homicídios em geral, que incluem todos os assassinatos no Espírito Santo, e que vem apresentando crescimento. Já foram 55 no primeiro semestre deste ano, pouco mais de 60% do total registrado no ano de 2023.
A diferença entre homicídio de mulheres e feminicídio é a motivação. No segundo caso a morte ocorre em função da vítima ser do gênero feminino.
O que fazer?
Para Michelle Meira Costa, gerente de Proteção à Mulher na Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), não há falhas do Estado no combate a este tipo de violência. “Crimes como feminicídio são de extrema proximidade e a segurança não consegue montar um planejamento para evitar que eles ocorram. Mas estamos falhando como sociedade”, pondera.
Na avaliação dela, é preciso um trabalho integrado com diversas áreas e a sociedade civil para se garantir uma mudança cultural, que envolva uma cultura de paz, com discussão sobre o tema nas escolas, nos lares.
Destaca que o Estado vem estruturando os serviços para acolhimento das mulheres que buscam ajuda da polícia para romper o ciclo da violência. “Estamos desenvolvendo projetos para apoiar estas mulheres, como é o caso das Salas Marias, da Patrulha Maria da Penha, que este ano não registrou nenhuma vítima inserida no programa. E ainda com os homens, focando em uma cultura de mudanças de comportamento”, relata.
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