
Após dois dias de julgamento, quatro pessoas foram condenadas a penas que totalizam 592 anos de prisão, a serem cumpridas em regime fechado, pelos crimes cometidos contra seis jovens, em 2020. Quatro deles morreram no local e outros dois sobreviveram feridos — um deles fingindo de morto —, no caso que ficou conhecido como a chacina da ilha.
Foi determinado ainda o pagamento de 100 salários mínimos para a família de cada vítima de homicídio, bem como 50 salários mínimos para cada vítima de homicídio tentado, a pedido do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), feito ao júri.
De acordo com a sentença do Tribunal do Júri, da 1ª Vara Criminal de Vitória, as condenações foram as seguintes:
- Felipe Domingos Lopes, conhecido como “Cara de Boi” ou “Boizão” - 178 anos e 4 meses
- Adriano Emanoel de Oliveira Tavares, “Balinha” ou “Bamba”- 154 anos e 8 meses
- Victor Bertholini Fernandes, o “Vitinho” - 140 anos e 9 meses - único absolvido pelo crime de corrupção de menores
- Werik Sant”Ana dos Santos da Silva, o “Mamão” - 119 anos e 4 meses
O júri, que foi iniciado na última segunda-feira (14), chegou a ser suspenso, temporariamente, por cerca de 3 horas, após o fornecimento de energia para o prédio ser suspenso. Um galho havia atingido a rede elétrica da região. Nesta terça-feira (15) o trabalho foi reiniciado por volta das 8h30. A votação dos jurados foi finalizada às 23h50 e o júri encerrado por volta da 1h desta quarta-feira (16), com a leitura da sentença.
As vítimas, seis jovens, foram confundidas com integrantes de uma facção criminosa rival quando curtiam o dia de praia na Ilha do Doutor Américo, em Santo Antônio, Vitória. Foram subjugados e alvo de disparos de arma de fogo. Suas mortes foram divulgadas em redes sociais.
Termina o luto das famílias, diz MP
Participaram do júri os promotores Rodrigo Monteiro e Bruno de Oliveira. Ambos destacaram o compromisso e a luta do Ministério Público em favor da vida. "Crimes dessa natureza, que abalaram não apenas a comunidade de Santo Antonio, mas toda nossa cidade e nosso Estado, jamais ficarão impunes. Hoje encerra-se o velório de quase cinco anos das famílias enlutadas!", assinalou Monteiro.
Oliveira acrescentou que as condenações representam uma uma resposta firme à barbárie. "Reafirmam o compromisso do MP com a justiça, a defesa da vida e o enfrentamento à impunidade”, acrescentou.
O que diz a defesa
As defesas de todos os condenados recorreram contra a sentença que atribuiu penas pelos crimes de homicídio contra 4 vítimas e tentativa de homicídio contra dois jovens, além de associação ao tráfico e corrupção de menores.
O advogado Ailton Ribeiro Silva, que faz a defesa de Adriano, relatou que a decisão dos jurados foi contra as provas existentes no processo. “Meu cliente não atirou nos jovens, não tem envolvimento ou associação ao tráfico de drogas. Vou recorrer contra a condenação, já comuniquei ao juiz”, relatou.
A advogada Paloma Gasiglia, que faz a defesa de Victor, seguirá o mesmo caminho. Seu cliente foi condenado por todos os homicídios e por associação ao tráfico. "Ele foi absolvido na corrupção de menores", informou.
Os advogados dos outros dois denunciados não foram localizados, mas o espaço segue aberto para se manifestarem.
O crime
O crime aconteceu em 28 de setembro de 2020. Os seis jovens curtiam o dia de praia na Ilha Doutor Américo Oliveira, localizada na Baía de Vitória, próximo ao bairro Santo Antônio. Na outra margem, fica o bairro Porto de Santana, já em Cariacica. O local é um ponto usado por moradores das duas localidades para diversão e passatempo.
Dos seis, quatro morreram no local:
- Pablo Ricardo Lima Silva, 21 anos
- Wesley Rodrigues de Souza, 23 anos
- Yuri Carlos de Souza Silva, 23 anos
- Victor da Silva Alves, 19 anos
Outros dois, mesmo feridos, conseguiram escapar após os tiros e fugir dos assassinos. Um deles precisou se fingir de morto. Seus nomes não vão ser divulgados por serem vítimas de um crime.
As mortes foram consequência das constantes disputas do tráfico de drogas. Os jovens foram confundidos com integrantes da facção Primeiro Comando de Vitória (PCV), com sede no Bairro da Penha, na Capital.
O grupo rival, que à época atuava no Morro do Quiabo, em Cariacica, facção conhecida como Associação Família Capixaba (AFC), foi quem promoveu os disparos.
As investigações da Polícia Civil apontaram que o crime foi cometido de forma cruel, com as vítimas subjugadas por mais de meia hora, sob a mira de armas de fogo, com ameaças de morte. Os jovens foram interrogados, filmados, e fotografados. Seus celulares foram roubados e vasculhados, antes de eles serem alvejados. O crime foi divulgado pelas redes sociais.
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