Apesar de estarem em contextos sociais diferentes, jovens de periferias e os de classe média têm em comum semelhanças quando se fala em uso do celular e o consumo das mídias sociais. Pesquisa sobre o tema aponta que eles ficam muito tempo em tela, não percebem o quanto são influenciados e que necessitam ter o seu comportamento validado pelas redes sociais.
Os dados foram identificados em estudo realizado pela Faesa Centro Universitário, com jovens entre 16 a 29 anos. O levantamento foi realizado em visitas a escolas particulares de Vitória e pública de Cariacica. E ainda em uma consulta aberta com questionário on-line.
“São similaridades que nos impressionaram. Há uma necessidade de viver essa conexão o tempo todo. Nos relataram, por exemplo, que na situação em que esquecem o celular em casa, voltam para buscá-lo porque não é possível ficar sem o equipamento”, conta o professor de comunicação Felipe Dall’Orto, que coordenou o estudo.
O objetivo era entender o impacto das tecnologias digitais no comportamento e nas relações pessoais da Geração Z, nascidos entre os anos de 1997 e 2012 e considerados nativos digitais.
Dall’Orto destaca que para este grupo as redes sociais funcionam como um espaço de pertencimento, onde busca validação e conexões com seus pares de maneira constante, para se expressar e participar ativamente dos processos.
“A forma de se vestir, de se comportar, eles precisam muito, segundo a fala deles, dessa legitimação que vem pelas redes sociais. Precisam delas para se sentir pertencente e estabelecer conexão", acrescenta.
Há diferenças?
A pesquisa também procurou entender se a diferença geográfica e de contexto social teria impactos no consumo em relação às mídias digitais.
“O que percebemos é que o consumo é muito próximo. O que muda são as referências, de gamers, de cantores, de influencers. O que está em alta em um local, por exemplo, nem é considerado no outro”, relata.
No relato dos entrevistados eles afirmam não se sentirem diretamente influenciados pelas redes. Mas 68% admitiram já ter consumido produtos indicados por influenciadores, especialmente itens de beleza e moda. “Nas entrevistas foi perceptível que, apesar de negarem a influência, não percebem o impacto dela no consumo”, observa Dall’Orto.
Outro ponto é que 67% dos participantes relataram sentir desconforto ao compararem suas vidas com as representações vistas nas redes.
Tempo em tela
O estudo revelou que 72,8% dos jovens ficam mais de 4 horas por dia conectados, sendo que 13,6% ultrapassam 8 horas diárias nas redes sociais.
“Essa conexão, em grande parte realizada pelo smartphone, é intensificada pela velocidade de estímulos gerados pelos algoritmos das plataformas, como Instagram, TikTok e WhatsApp, que se tornaram ferramentas centrais de comunicação e consumo de informação para essa geração”, é relatado no estudo.
Ele cita como exemplo a ausência de consumo de televisão. É uma geração que, quando assiste TV, o faz pelo celular. “Quando eu era jovem brigava para ter uma televisão no quarto. Hoje eles querem um celular, porque precisam mais desse do aparelho”, observa o professor.
Ele explica que, para esta geração, é fundamental ter internet. “Utilizam um pré-pago ou lançam mão de internet pública ou vão a lugares que liberam o Wi-Fi.”
Uma outra curiosidade é o que partilham. “Nos bairros de classe média há o compartilhamento de streaming entre os amigos, é um hábito comum entre eles. Na periferia partilham internet”.
O levantamento também identificou que o tempo on-line, aliado ao ritmo acelerado de conteúdos consumidos, tem influenciado a forma como a Geração Z percebe o mundo. "Criam uma fusão entre o real e o virtual e uma visão muitas vezes fragmentada da realidade", destaca o estudo.
Foram entrevistados 200 jovens de 16 a 29 anos, teve a duração de um ano e foi liderado pelo professor de comunicação Felipe Dall’Orto com a colaboração das alunas Anna Lara Kapitzky Dias, Otilia Maria dos Santos Almeida, Laísa Rocha Barreto, Nicoly Reis e Evelyn Souza.
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