Traficantes da Grande Vitória criaram um serviço de plantão para a comercialização de drogas por aplicativo de mensagens. Com atendimento 24h, a entrega é oferecida para vários bairros, com destaque para os localizados em áreas nobres. O delivery do tráfico cobra mais caro, mas os anúncios oferecem promoções para a venda de quantidades maiores, entregue na localização oferecida pelo “cliente-usuário”.
O grupo foi descoberto em investigações que tinham como alvo as lideranças da organização criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC. Denominado de “Negócios de sucesso”, ele não tem vinculação com a facção paulista, mas com alguns de seus integrantes que o mantém como atividade em paralelo.
Dele fazem parte pelo menos 16 traficantes que utilizam apelidos que fazem alusão a nomes de cidades internacionais, tais como: Xangai, Roma, Buenos Aires, Los Angeles, Luxemburgo, Berlim, Dubai, Miami, Pequim, Chicago, Santiago, Barcelona, entre outras. Há uma referência também ao PSG, que pode estar relacionado ao clube de futebol Paris Saint-Germain.
Os acionamentos são feitos por intermédio de um aplicativo de mensagens, como uma espécie de call center que recebe as demandas e checa quem tem a droga escolhida e se está em condições de fazer a entrega no local solicitado.
“O que sugere que os ‘clientes’ fazem contato com o plantonista, e este repassa no grupo o tipo de droga e local a ser feita a entrega do produto, de modo que o atendimento e delivery é feito por aquele que se habilita”, relata denúncia apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) à Justiça estadual.
No texto é dito ainda que o grupo informa em mensagem automática visualizada no início da conversa, além dos horários dos turnos do plantão, os produtos disponíveis, os preços e as promoções, que variam de acordo com a quantidade e a qualidade.
As entregas ocorrem em horários variados do dia. Há registros de conversas por volta das 10h, 13h, 16h, a partir das 21h, e por toda a madrugada. Algumas citações apontam para locais onde ocorrem festas nas ruas, bares ou boates, mas há entregas em apartamentos, nos horários diurnos.
Entre os bairros citados em algumas conversas estão:
- Jardim Camburi
- Bento Ferreira
- Praia do Canto
- Jardim da Penha
- Itapuã
- Jardim Colorado
- Bairro de Fátima
Nas mensagens trocadas entre os traficantes há menções de que alguns clientes são regulares e que precisam ser atendidos com rapidez. “Cliente bom. Deixa esperando não”, informa uma conversa. Em outras há informações sobre as drogas e os locais de entrega, alguns com dados do prédio ou casa, ou o indicador de localização.
Há ainda comemorações de quem conseguiu “bater a meta” de vendas de promoções em uma noite ou em algumas horas. Em uma delas é informado, por volta das 14h, a venda “agora cedo” de 50 pinos de cocaína.
A descoberta
O delivery foi descoberto em investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco Central), do MPES e que visava lideranças do PCC com atuação no Espírito Santo.
Entre eles Luiz Matheus Menezes Neves, conhecido como Ferrugem ou Santiago, apontado como integrante do setor disciplinar da facção, sendo membro do grupo conhecido como "Os 14 do ES".
Foi identificado que além de sua atuação junto ao PCC, Ferrugem mantém outras atividades em paralelo, também no tráfico, que envolveria o seu cunhado, Lucas Morais de Freitas e sua companheira, Luiza Morais de Freitas, na região de Andorinhas e Joana D’Arc, em Vitória.
Entre as atividades ilícitas estava o grupo do delivery de drogas, e um outro, com o objetivo de garantir a segurança, monitorando as entradas das polícias nos bairros.
“Mantendo contato constante com os demais associados, para manutenção de vigilância sobre incursões de agentes estatais na área, e também para a manutenção do abastecimento nos pontos de venda de drogas, de modo a organizar o preparo, guarda, distribuição e comércio ilegal de substâncias entorpecentes, praticado com emprego de arma de fogo, crimes praticados de forma estável e reiteradamente”, informa o texto da denúncia.
No final de setembro foi realizada busca e apreensão na residência de Lucas e Luiza, onde foram encontradas armas, munições, drogas e dinheiro. A casa, segundo as investigações, era utilizada pelos três como ponto de produção, armazenamento e fornecimento das drogas.
A denúncia apresentada pelo MPES contra os três já foi aceita pela Justiça estadual. Ao decidir sobre a prisão de Ferrugem, o Juízo da 2ª Vara Criminal da Serra informou que era necessária por ele ter condições de influenciar e coagir outros membros da facção, destruindo provas e interferindo na coleta de informações para o processo.
“O histórico de comunicação intensa entre os membros do PCC, por meio de grupos de WhatsApp controlados pelo próprio réu, evidencia sua capacidade de manipular a organização para frustrar as investigações. Ademais, por sua posição de liderança, há um risco concreto de fuga, já que o réu possui acesso a recursos logísticos e financeiros, dificultando sua localização e captura”, é dito na decisão judicial.
Ferrugem ou Santiago, como é mais conhecido, permanece preso. Há mandado de prisão contra Lucas, que está foragido. Luiza é ré em ação penal, assim como os demais.
A defesa dos denunciados não foi localizada, mas o espaço segue aberto para as suas manifestações.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.