Oito dos 10 bandidos mais procurados do Espírito Santo estão escondidos em comunidades localizadas no Complexo da Maré e na Rocinha, entre outros pontos da capital do Rio de Janeiro. E é de lá que comandam as facções criminosas em solo capixaba, dando ordens para a execução de diversos crimes, como ataques a rivais, execuções, expansão de território, extorsões, comercialização de drogas.
A lista — confira abaixo — é produzida pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e o critério para a inclusão é a atuação de cada um deles na criminalidade. “Todos os listados são figuras de comando, estão na hierarquia dos grupos criminosos”, explica o subsecretário de Estado de Inteligência, Romualdo Gianordoli Neto.
Além dos que foram listados, outros criminosos capixabas buscaram o mesmo tipo de abrigo, em uma atuação que se assemelha a um "home office do crime", como os exemplos elencados mais à frente.
“O fenômeno atinge vários estados brasileiros, com traficantes de vários pontos do país migrando para o Rio, onde pagam taxas aos traficantes locais para permanecerem escondidos”, observa o subsecretário.
É uma situação, reconhece Romualdo, que afeta o combate às ações criminosas no Espírito Santo, considerando que é mais difícil prendê-los fora do território capixaba. Além do fato de continuarem promovendo ações violentas, com mortes, em bairros e cidades do interior e da Região Metropolitana de Vitória.
“Mas esforços vão continuar sendo feitos para viabilizar a prisão desses criminosos, mesmo fora do Espírito Santo. E quando retornam, prendemos”, assinala.
Ele se refere a casos como o de Fernando Moraes Pereira Pimentel, o Marujo, que durante anos liderou a lista dos mais procurados e que também estava escondido no Rio. Acabou voltando ao Estado durante uma fase de guerra do tráfico e foi preso.
“Home office do crime”
Um dos exemplos do que se pode chamar de “home office do crime” vem de Bryan Lyrio Deolindo, 33 anos, um dos integrantes da Tropa do Urso, grupo criminoso responsável por ações violentas em bairros de Colatina e outras cidades do Norte e Noroeste, e determinadas à distância. Contra ele há dez mandados de prisão, oito deles envolvendo situações de assassinatos e outros dois por tráfico de drogas e posse ilegal de armas.
Ele também é apontado como sendo o intermediador e facilitador de acordos estabelecidos entre criminosos do Espírito Santo e os do Estado do Rio de Janeiro. Bryan fugiu para o estado vizinho, onde também se escondem mais três integrantes do mesmo grupo criminoso, incluindo outra liderança, Hugo Henrique dos Santos.
De acordo com informações do delegado Deverly Pereira Junior, titular da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de Colatina e coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática Noroeste (Ciat Noroeste), os criminosos do Norte e Noroeste capixaba tem recebido ordens de ataques e execuções vindas do comando que está no Rio de Janeiro.
Não é diferente com Bruno Gomes Farias, o Nono, conhecido como um dos “irmãos Vera”, denominação que se refere à mãe dele e de outros dois irmãos presos no final do ano passado — Luan Gomes Faria, o Kamu; e Gabriel Gomes Faria, o Buti. Assim como os irmãos, que também se esconderam no Rio, Nono comanda de lá o Terceiro Comando Puro (TCP), e a prática de diversos crimes no Espírito Santo, incluindo os de extorsão.
Em relato feito à coluna, empresário do ramo de internet conta que paga pedágios para atuar em bairros de Vitória. Extorsão sob ameaças a funcionários, que chegaram a ser detidos pelos traficantes, e ainda a seus familiares.
As exigências de pagamento são feitas por vídeo chamada, em conversas realizadas diretamente com Bruno Gomes Faria. E segundo o empresário, todas as chamadas são feitas de bairros do Rio. O objetivo dos traficantes era implantar um sistema próprio de internet, o "gatonet", semelhante ao que ocorre no Rio.
Localização
A coluna apurou, a partir da lista divulgada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) — confira abaixo —, que dos oitos criminosos que se escondem no Rio, pelo menos três estariam no Complexo da Maré, localizado na Zona Norte da Capital do Rio.
A região envolve 16 comunidades e, segundo o jornal O Dia, está sob a influência de três grupos criminosos em seu território: o Comando Vermelho (CV), maior facção de tráfico de drogas do estado do Rio; o Terceiro Comando Puro (TCP) e um grupo miliciano.
Outros três teriam optado pela Rocinha, localizada na Zona Sul da Capital do Rio — que reúne várias regiões —, dominada predominantemente pelo Comando Vermelho, segundo informações do jornal O Globo.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.