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Dúvidas marcam júris de grupo denunciado por noites sangrentas no ES

Nesta terça-feira (25) está agendado o primeiro julgamento dos réus por crimes ocorridos no Morro da Piedade, em 2018; mas júri corre o risco de ser adiado

Vitória
Publicado em 25/06/2024 às 03h30
Julgamento Piedade
Crédito: Arte - Sabrina Cardoso com Microsoft Designer

Está marcado para esta terça-feira (25), a primeira de três audiências em que será julgado o grupo de pessoas denunciado pelos assassinatos que tornaram sangrentas as noites no Morro da Piedade, em 2018. Mas há dúvidas se o júri será realizado,  segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), em decorrência de “frequentes pedidos de adiamento”.

Foram crimes brutais, seguidos de ataques e ameaças a moradores que foram expulsos do bairro, localizado em Vitória. Resultado da guerra do tráfico de drogas na disputa por territórios. Oito caíram assassinados, além de duas tentativas de homicídio.

“Infelizmente, percebemos tentativas reiteradas para o adiamento desses júris. Estamos enfrentando inúmeros pedidos de adiamentos em processos importantes, sob alegações diversas”, relatou o promotor Rodrigo Monteiro, que atua no Tribunal do Júri de Vitória.

Monteiro destaca que o Ministério Público trabalha para que os processos sejam julgados, porque é a forma de levar justiça à sociedade capixaba. “É uma resposta às comunidades de que os crimes não ficarão impunes. Na Piedade, pessoas sem envolvimento em qualquer crime foram covardemente assassinadas”, acrescenta.

As investigações levaram a oito denúncias do MPES, uma delas acabou sendo arquivada porque o acusado de um dos crimes também foi morto no conflito entre os traficantes. Foram agendados três dias de julgamento:

  • 25 de junho - Vão ser julgados os acusados pelo assassinato de Lucas Verly. Seis foram denunciados.
  • 18 de julho - Sete pessoas vão ser julgadas pela morte de Walace de Jesus Santana. 
  • 9 de agosto - Julgamento de outras cinco pessoas acusadas pela morte dos irmãos Ruan e Damião Reis. Três já foram condenados, cada um a 60 anos de prisão.

Se não houver adiamentos, a expectativa é de que a sessão desta terça-feira tenha início às 9h, no Fórum Criminal de Vitória.

Crimes

As investigações sobre os crimes ocorridos em 2018 apontaram que desde o final do ano anterior, um grupo de cerca de 12 pessoas portando armas de fogo e trajando toucas ninjas, coletes e coturnos se revezavam na procura pelos chefes do tráfico de drogas local, com o objetivo de eliminá-los e tomar o controle da região da Piedade, Fonte Grande e Moscoso. 

Esse grupo, junto com suas famílias, tinha sido expulso dessas localidades por volta do ano de 2012, pelos que estavam chefiando o tráfico na região. O comando do tráfico na ocaisão passou para as mãos dos integrantes da Família Ferreira Dias, e foi em busca deles que estava o grupo. Contavam com o apoio da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCV/Trem Bala), que fornecia armas, munições e "mao de obra" para as ações criminosas.

Na busca pelas lideranças do tráfico, foram praticados os seguintes crimes:

  • 25 de março de 2018 - o grupo armado matou os irmãos Damião Marcos Reis, 22, e Ruan Reis, 19, que não sabiam a localização do chefe do morro. Nas semanas que se seguiram, os ataques ao bairro em busca dos traficantes que comandavam a região continuaram.
  • 27 de maio de 2018 - foi morto a tiros Aladir de Oliveira Filho, apontado pela polícia como um dos homens que colaboraram no assassinato dos irmãos Reis. Ele era pai de um dos acusados pelo crime dos irmãos. Segundo a polícia, ele foi morto por Walace de Jesus Santana, que era uma das lideranças do tráfico na Piedade.
  • 28 de maio de 2018 - foi assassinado Lucas Teixeira Verli, de 19 anos, segundo a polícia, com mais de 15 tiros durante outro ataque ao Morro da Piedade. Um bando encapuzado entrou no local atirando em quem estivesse pela frente. Segundo as investigações, o ataque foi vingança pela morte de Aladir, e deixou outros moradores feridos.
  • 10 de junho de 2018 - Os criminosos invadiram a comunidade mais uma vez, e mataram Walace de Jesus Santana, apontado como braço direito do "dono" do morro, João Paulo Ferreira Dias, o JP. Após o homicídio, a família dele foi expulsa da Piedade e teve a casa incendiada. Segundo a investigação policial, após a execução de Walace, o grupo fez ameaças aos moradores, gritando pelo morro e exigindo a saída de todos os familiares das pessoas que comandavam o tráfico local, e deram um prazo de 30 dias. Nos meses que se seguiram, dezenas de moradores decidiram abandonar suas casas na Piedade.
  • 14 de janeiro de 2019 - Mais uma noite sangrenta, desta vez na divisa entre os Morros da Piedade e Moscoso, em uma área conhecida como "Poeirão", três jovens foram assassinados, atingidos por cerca de 10 a 15 perfurações, cada um, segundo informações da polícia. Outros dois conseguiram sobreviver. 

Após os crimes a comunidade chegou a realizar protestos pedindo por mais segurança. Dezenas de moradores acabaram deixando o bairro em decorrência do avanço da criminalidade e do medo de novos confrontos.

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