Desde o início do ano, 27 mulheres tiveram seus futuros roubados no Espírito Santo por parceiros ou ex-parceiros que acreditavam ter algum direito sobre seus corpos e suas vidas. Foram mortas com tiros, facadas, espancamentos. Executadas pelo simples fato de serem mulheres. Um cenário que leva a um questionamento: o que fazer não só para garantir justiça às vítimas de feminicídio, mas impedir novos casos?
As experiências de diversos profissionais — como magistrados, delegados, peritos, advogados, funcionários públicos, promotores, policiais militares, entre outros — no combate à violência de gênero, foram reunidas em um livro, com as várias frentes de luta contra esse crime.
“Este livro nasce da necessidade urgente de entender o feminicídio em todas as suas dimensões — legais, sociais, psicológicas e culturais — para melhor prevenir e combater essa violência”, destaca o promotor Rodrigo Monteiro, que atua no Tribunal do Júri de Vitória.
O trabalho foi desenvolvido em parceria com a também promotora do Rio de Janeiro, Simone Sibilio do Nascimento, que entre os anos de 2018 e 2021, esteve à frente das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Juntos reuniram as experiências de diversos profissionais no país que atuam na luta contra o feminicídio em diversas áreas.
O livro foi dividido em 21 artigos, com abordagens multidisciplinares sobre o tema. A proposta, segundo os dois promotores, é aprofundar a discussão sobre o feminicídio. Relatam que são abordados desde aspectos técnicos da investigação policial até reflexões sobre o papel da mídia e a legislação vigente.
“Essa diversidade de perspectivas é essencial para compreender a complexidade do feminicídio e as várias frentes de luta contra esse crime”, aponta Monteiro.
Ele acrescenta que o objetivo é colaborar com a produção de provas. “Traz reflexões e orientações práticas que podem auxiliar na investigação dos processos relacionados aos casos de feminicídios e para a atuação de profissionais de direito, saúde e segurança pública, tornando-se uma ferramenta indispensável para a formação e atuação desses profissionais”, pondera.
Guerreiras de Jardim Carapina
Todos os recursos que vão ser angariados com a comercialização dos livros vão ser destinados ao coletivo Mulheres Guerreiras, com atuação em Jardim Carapina, na Serra. O grupo foi criado em 2020 após o feminicídio de Shirley Simões, 31 anos, em Guarapari, cometido pelo ex-companheiro.
“Ela trabalhava com uma de nossas amigas e decidimos nos mobilizar”, relata a presidente do grupo, Camila Lopes.
Logo depois elas descobriram que outras mulheres foram vítimas da mesma violência no bairro. “Contamos mais de 11 vítimas nesta situação, uma delas a Maria Madalena dos Santos, de 38 anos, morta pelo ex-marido em 2019 e moradora do nosso bairro. A irmã dela, Liliene, ainda está no coletivo”, relata Camila.
Desde então, o coletivo vem se dedicando à luta contra o feminicídio e violência doméstica. O trabalho é desenvolvido por 13 mulheres voluntárias que atendem e auxiliam vítimas de abusos e violências, com ações que vão de assistência psicológica e jurídica a capacitação para geração de renda.
Ela relata que o apoio da comercialização da venda dos livros será muito importante para o coletivo. “Não temos renda. Tudo o que fazemos é com a colaboração das integrantes. Vai ser uma ajuda importante para o trabalho na comunidade”, relata.
Lançamento
“Enfrentando a tempestade. Caminhos para vencer o feminicídio” será lançado às 17h30 desta quinta-feira (29), às 17h30, no auditório da sede do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), em Santa Helena. O prédio está localizado na Rua Procurador Antônio Benedicto Amâncio Pereira, 121.
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