Um estudo desenvolvido por um aluno da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) confirma o que a população percebe ou vivencia no dia a dia das cidades, principalmente na Região Metropolitana de Vitória: os crimes contra o patrimônio, como roubos e furtos, são mais frequentes nas áreas nobres; já os homicídios e outros crimes contra a vida ocorrem em maior número nas periferias. Esse é um reflexo de como a violência urbana acompanha a desigualdade econômica e social.
O geógrafo William Carlos Rodrigues Gonçalves analisou o padrão de distribuição dos crimes — contra o patrimônio e contra a vida — para verificar se o que aponta o senso comum era de fato a realidade. “E foi o que constatamos”, relata sobre a tese de dissertação desenvolvida para a Pós-Graduação em Geografia.
O estudo identificou alguns bairros e cidades onde ocorrem com mais frequência os crimes como furtos e roubos — de veículos, residências, condomínios, celulares, entre outros — e aqueles contra a vida, como homicídio, lesão corporal e estupro. Confira:
- Crimes contra o patrimônio
- Cariacica - Campo Grande
- Serra - Laranjeiras e Região de Carapina
- Vitória - Centro, Jardim da Penha, Praia do Canto e Camburi
- Vila Velha - Praia da Costa, Centro, Praia de Itapuã, Coqueiral de Itaparica e Glória
- Crimes contra a pessoa
- Serra - Feu Rosa, Vila Nova de Colares, Região de Carapina e Jardim Carapina
- Cariacica - Aparecida, Flexal ll, Nova Rosa da Penha e Castelo Branco
- Vitória - São Pedro, Ilha do Príncipe, Caratoíra, Santo Antônio, Bonfim, São Benedito, Gurigica e imediações
- Vila Velha - Vale Encantado, Divino Espírito Santo, Aribiri, Santa Rita, Ataíde, Barramares e Ulisses Guimarães
Foram analisados os crimes contra a pessoa — o homicídio, tentado ou consumado; o estupro, tentado ou consumado; e as lesões corporais — entre os anos de 2014 e 2020. Já os crimes contra o patrimônio — furtos e roubos, tentados ou consumados — referem-se ao período entre 2018 e 2020.
Os locais onde são mais frequentes os furtos e roubos são bairros que têm semelhanças entre si, como residências mais elitizadas e grande circulação de pessoas. Alguns dele são áreas populosas, como o bairro Jardim Camburi, em Vitória.
“Há também o fato de todos esses bairros serem cortados por trechos rodoviários importantes, aumentando ainda mais a circulação de pessoas nesses locais”, diz o no estudo.
A análise aponta ainda que nas regiões periféricas, onde as condições de vida são mais precárias, com níveis mais altos de pobreza, há uma concentração mais alta dos crimes contra a pessoa, como os homicídios.
Ocupação
Um ponto destacado no estudo é a ocupação territorial destas cidades da Região Metropolitana. A expansão promovida a partir dos anos 1970 levou muitos moradores vindos do interior a construírem suas casas em morros, mangues, baixadas, o que promoveu o surgimento das aglomerações.
“A geografia aparece para entender o processo de ocupação da cidade, considera os aspectos econômicos, sociais e culturais, e contribui para explicar a maior incidência de certos tipos de crimes em determinadas áreas da cidade”, pontua o geógrafo.
Segundo Gonçalves, a Região Metropolitana da Grande Vitória apresenta um padrão de urbanização excludente e desigual, ocasionando um processo de segregação social e espacial, como fruto da dinâmica de modernização econômica. “A formação de áreas periféricas são consequências desses processos, que provocaram o maior empobrecimento na região, já que os piores índices de criminalidade estão centrados nessas áreas de pobreza”, destaca.
Confira as características de cada cidade:
- Vitória
- É o município que possui um maior número de bairros com melhores condições de vida. Esses bairros estão praticamente enfileirados, formando uma espécie de rota;
- Há uma tendência aos crimes contra o patrimônio em alguns bairros, como o Centro, Enseada do Suá, Praia do Canto e imediações de Jardim da Penha. Destaque para o trecho entre o Centro e a Enseada do Suá, região com grande circulação de pessoas, presença de comércio, prestação de serviço, shoppings, órgãos públicos e poderes, como o Judiciário e a Assembleia Legislativa;
- Já os crimes contra a pessoa são mais frequentes em outros locais, como os bairros da Região de São Pedro, e nas áreas mais centrais, como Bonfim, São Benedito, Gurugica e imediações.
- Vila Velha
- Áreas mais valorizadas estão concentradas na porção litoral da cidade, alvo do mercado imobiliário, enquanto os bairros mais ao Sul mostram ter as piores condições de vida;
- As altas taxas de crimes contra o patrimônio em Vila Velha estão concentradas em localidades que estão no litoral ou perto dele, que também têm grande fluxo de pessoas transitando pelas praias;
- Os crimes contra a pessoa são mais comuns na região mais ao Sul, mais periférica, com menor renda e piores condições de vida, como a Grande Terra Vermelha. Há registros também na área Noroeste do município, local também marcado por muita disputa de território pelo tráfico de drogas, que engloba regiões como Santa Rita, Paul, Argolas, São Torquato, Alecrim, entre outras.
- Cariacica
- Os crimes contra o patrimônio são mais frequentes em bairros como Campo Grande e seus adjacentes, como Cruzeiro do Sul e Rosa da Penha, um local de grande comércio, prestação de serviços e circulação de pessoas;
- Já os crimes contra a pessoa foram observados por toda a cidade, mas são mais frequentes nas regiões mais distantes do Centro, mais nas bordas do município e onde, novamente, são piores as condições de vida.
- Serra
- As áreas centrais do município têm as melhores condições de vida, e as taxas mais altas de crimes contra o patrimônio, com destaque para Laranjeiras, que tem a Avenida Central, local de grande comércio popular, com o bairro adjacente de Jardim Limoeiro. Mais ao Sul, se destacam os bairros da Grande Região de Carapina, com grande fluxo de pessoas, comércios, prestação de serviço e além de ser cortado pela BR 101;
- Bairros como Carapina Grande, Vila Nova de Colares e Feu Rosa chamam a atenção por se manterem ao longo desses anos com elevadas taxas e casos de crime contra a pessoa.
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