
Pouco mais de um ano após a enfermeira Íris Rocha de Souza ter sido assassinada, seu ex-namorado, Cleilton Santana dos Santos, será julgado pelo crime. Grávida de oito meses, ela foi encontrada em uma ribanceira, às margens de uma estrada no interior de Alfredo Chaves, Sul do Estado.
A sentença de pronúncia — que encaminha o réu para o Tribunal do Júri — é do juiz Arion Mergar, da Vara Única de Anchieta, onde o processo tramita. “No que tange aos indícios de autoria, restou corroborado pela farta prova testemunhal produzida na instrução”, informou em seu texto.
Ele vai responder por homicídio qualificado (feminicídio), crime praticado contra a mulher em razão do sexo feminino, por motivo torpe. E mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa.
Foi considerado ainda a tentativa dele de destruir ou ocultar o corpo da enfermeira. Em sua denúncia, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) informa que após efetuar os disparos, ele arrastou a vítima e a jogou em um terreno com declive acentuado. “Despejando sobre o corpo cal desidratado, objetivando ocultar a sua localização, disfarçar o odor e otimizar o processo de decomposição”.
Outro ponto, segundo a sentença, foi o fato dele provocar aborto, sem o consentimento da gestante.
Na sentença o juiz informa que, como o crime aconteceu em janeiro de 2024, Cleilton não será julgado com base na mudança da lei — ocorrida em outubro de 2024 —, e que tornou as penas do feminicídio mais gravosas, com condenações de 20 a 40 anos. No caso do ex-namorado, a condenação varia entre 20 a 30 anos.
O assistente de acusação Fábio Marçal, que representa a família da vítima no processo, destaca que a pronúncia foi uma resposta para a sociedade.
“No contexto em que vivemos, com tantos casos de feminicídio, é uma importante resposta de que estes crimes não ficarão impunes. Esperamos agora que haja condenação”, assinalou.
Crime
Íris Rocha tinha 30 anos e estava grávida de oito meses, de uma menina que se chamaria Rebeca. Ela foi encontrada morta, por quatro disparos de arma de fogo de uso restrito, no dia 11 de janeiro.
Sobre seu corpo foi jogada cal, material que teria sido utilizado com o objetivo, segundo a polícia, de disfarçar o odor e agilizar o processo de decomposição.
O motivo do crime, segundo as investigações da Delegacia de Alfredo Chaves, era o fato dele ter dúvidas sobre a paternidade do filho que a vítima esperava, mas resultados do exame de DNA comprovaram que ele era o pai de Rebeca.
Denúncia do MPES relatou que Cleilton e Íris mantinham relacionamento amoroso em que ele exercia sobre a vítima extremo controle de suas atitudes e comportamentos. “Com acentuado sentimento de posse, não admitindo qualquer contrariedade, o que o levou, pelo sentimento egoístico, a ceifar a vida da vítima”
Sofrimento
À Justiça, testemunhas e familiares relataram como tinha sido o último ano de vida de Íris. Ela era monitorada o tempo inteiro, não podia sair de sua sala, conversar com outros homens. Passou a vestir roupas que cobriam todo o seu corpo e mais largas. Chorava o tempo inteiro.
Mas nem assim conseguiu se livrar das agressões. Em uma delas sofreu um mata-leão aplicado pelo ex-namorado. “Ela poderia ter morrido naquele dia”, relatou a delegada Maria da Glória Pessotti. Três meses depois a jovem e seu bebê foram mortos.
O que diz a defesa
O advogado Rafael Almeida Souza faz a defesa de Cleilton. Ele informou que ainda avalia se irá, ou não, apresentar embargos de declaração ao juiz, em relação a pontos não abordados na sentença de pronúncia.
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