
Foragido no Rio de Janeiro, um traficante do Terceiro Comando Puro (TCP) enviou um áudio para as forças de segurança no Espírito Santo com informações sobre corte de fios de internet em pelo menos nove regiões no entorno de Itararé, em Vitória.
A medida vinha sendo adotada pelos criminosos como forma de ameaça a empresários e comerciantes que se recusam a pagar “pedágios” pela prestação de serviços. Revoltados com a situação a eles imposta, moradores conseguiram garantir o retorno do sinal.
O autor do áudio é Marcos Luiz Pereira Junior, o MK, presente na lista dos onze criminosos mais procurados do Estado. Ele é o braço direito do líder do TCP, o único dos irmãos Vera que ainda está foragido, Bruno Gomes Farias, o Nonô. É o MK o encarregado pelas extorsões para a prestação de serviços na comunidade.
A coluna decidiu não divulgar o áudio ou o seu teor, que está com a Polícia Civil. O subsecretário de Inteligência (SEI) da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), o delegado Romualdo Gianordoli Neto, confirmou pertencer ao traficante MK. "Ele foi enviado às forças de segurança e faz parte das investigações que continuam sendo realizadas", informou.
Os fatos tiveram início na última semana, após a realização da Operação Conexão Perdida, no Rio e no Espírito Santo. MK determinou que fossem destruídos os fios de uma operadora, deixando centenas de famílias sem sinal de internet, diante da recusa do empresário de continuar pagando o valor da extorsão. Com a suspensão do sinal, ele comunicou o fato aos clientes de que estava suspendendo a operação na região.
Revoltados com a situação, os moradores se reuniram com lideranças locais e até com integrantes do tráfico, afirmando que o serviço é essencial, que várias pessoas dependem dele para executar suas atividades e até trabalhar de casa. Após reunião, decidiram acompanhar os técnicos a todos os pontos para garantir a retomada das operações, o que de fato ocorreu.
Um dos empresários que atuam na região confirmou as informações, disse que precisou contratar nova equipe diante do cenário de medo, e que decidiu não ceder mais ao pagamento de extorsões. “Se for preciso, saio da região, vendo minha empresa”, relatou.
Operação Conexão Perdida
Para o subsecretário de Inteligência Romualdo Gianordoli Neto, a reação dos moradores decorre do enfraquecimento da facção criminosa na região, a partir das investigações e Operação Conexão Perdida, realizada no final do mês passado no Rio e no Espírito Santo, com a prisão de dez pessoas.
“Houve uma grande insatisfação dos moradores a partir do último corte e se revoltaram com a situação. Antigamente, com a facção estando mais forte, não tinham coragem para se rebelar, mas agora, vendo a atuação das forças de segurança, viram que é possível lutar por seus direitos”, pondera o subsecretário.
Segundo Romualdo, novas apurações e operações vão continuar sendo realizadas na região em busca de outras lideranças, como o MK, que ainda não foram detidas. Há equipes, segundo ele, dedicadas na busca destes criminosos. “Vão ser presos”, acrescenta.
No Espírito Santo foram detidas três pessoas, entre elas a esposa de um dos líderes da facção, e um empresário do ramo de internet, que se passava como vítima, mas era um dos autores da extorsão.
A operação mobilizou mais de 300 policiais. No Rio de Janeiro, ações foram realizadas com o apoio das forças policiais fluminenses.
As investigações identificaram que os líderes da facção no Espírito Santo utilizavam a extorsão de empresários dos setores de internet, gás e água como principal fonte de renda. Para atuar em áreas dominadas pelo grupo, essas empresas eram obrigadas a pagar uma mensalidade.
Os valores obtidos eram movimentados por meio de contas bancárias diversas, incluindo uma lotérica e um "banco paralelo" localizado no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
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