Em frente à penitenciária ela recebe o pacote de uma outra mulher. A orientação é para o introduzir no corpo e passar pela fiscalização do sistema prisional. A droga deveria ser entregue ao seu companheiro, que a fez transportar o produto ilícito alegando estar sendo ameaçado por outro preso. Mas ela foi flagrada pelo scanner corporal, que identificou a presença do entorpecente.
As imagens do equipamento eletrônico revelam que, assim como ela, muitos que visitam as penitenciárias quinzenalmente usam o próprio corpo para levar drogas para os presos. (Veja vídeo acima)
Há quem espalhe as buchas pela parte interna da roupa, distribuindo por vários pontos. Outros colocam no cós ou no fundo da calça, nas roupas íntimas, em gorros e até envoltos em panos pretos, acreditando que assim o material não será visualizado nos equipamentos eletrônicos.
As mulheres usam a parte de baixo do sutiã, colocam em absorventes ou dentro deles, e até embaixo de unhas de gel já foi encontrado cocaína. Mas a forma mais frequente é pela região pélvica, com a introdução de pacotes com as buchas.
Levam para o interior dos presídios maconha, cocaína, haxixe, fumo, medicamentos — como viagra —, fósforo, cabeça de isqueiro, entre outros produtos. O crack não é muito aceito pela massa carcerária em decorrência das alucinações que provoca, o que acaba chamando a atenção para o usuário.
Burla ao sistema
As tentativas, em geral, ocorrem nos dias de visitação. E são mais frequentes nas unidades em regime fechado. Elas abrigam os presos condenados, que correspondem a quase metade dos 23.936 que estão nos cárceres capixabas.
Os que conseguem vencer a barreira da fiscalização eletrônica e das revistas manuais, precisam fazer a entrega no pátio, em meio a dezenas de outros familiares e que também estão no local.
Outra forma bem comum de entrega de drogas nos presídios ocorre nas visitas íntimas, quando a pessoa reclusa pode passar um tempo em um quarto com a sua companheira.
É o momento em que a mulher tem mais liberdade para retirar o pacote que foi introduzido e que, em geral, carrega um número maior de buchas de drogas variadas.
Mas o que é feito com a droga?
Assim como quem faz o transporte, os presos também utilizam o próprio corpo para armazenar os produtos ilícitos. Engolem os pacotes para evitar que sejam encontrados nas revistas feitas pelos policiais penais ao término da visitação, sejam elas sociais ou íntimas.
E na cela, vomitam o produto. Alguns precisam ficar de cabeça para baixo, apoiados na parede, e com o apoio de colegas e forçar o vômito. Os que não conseguem precisam aguardar que ele desça pelo intestino.
Após a limpeza, a droga é dividida em pequenas unidades, que equivalem à parte superior de uma tampa de pasta de dente. Com as dificuldades para a sua obtenção, seu custo é mais caro. E cada unidade é comercializada a R$ 50 para outros presos.
A extorsão
A circulação e consumo de drogas dentro do sistema penal é sustentada por um círculo vicioso. Os familiares do preso, que também é um usuário, acabam assumindo as dívidas junto aos traficantes. E ficam reféns das cobranças que se avolumam; das ameaças frequentes, incluindo a de morte da pessoa presa; e das extorsões.
Muitas mulheres, várias delas mães, acabam concordando em levar drogas para as unidades para quitar as dívidas. E de vítimas acabam se transformando em criminosas, que vão ser detidas e responderem a processo por tráfico.
As cobranças dos familiares costumam ser feitas pelas “esposas” do tráfico, que fornecem os pacotes para as aliciadas. O material é embalado várias vezes, em plásticos, camisinhas e, em alguns casos, recoberto até com fita isolante preta.
Foi o que relatou a mulher que recebeu a encomenda em frente a unidade prisional e que acabou sendo flagrada. Informou aos policiais que seu marido estava sendo ameaçado de morte. E aceitou levar a droga ao presídio.
O combate
De acordo com a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), que é responsável pela gestão do sistema penal, mesmo com a intensificação da fiscalização nos dias de visitas e até nas revistas nas celas, ainda ocorre a entrada de drogas nas unidades.
Informa que tem atuado de forma rígida para impedir a entrada de materiais ilícitos, com revistas regulares nas celas e durante a entrada de visitantes.
Para isso, são utilizados equipamentos eletrônicos, como os scanners corporais, portas com detector de metais, entre outros, que auxiliam na identificação de drogas e demais objetos. Mas ocorrem as exceções.
Há ainda as denúncias de facilitação para a entrada da droga, praticada por quem atua no presídio. Casos investigados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), com o apoio do setor de inteligência da Sejus. Um deles foi revelado na Operação Trash Bag, em que a entrada ou não de droga era utilizada como forma de poder contra os presos. Um policial penal foi preso.
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