
Uma investigação federal resultou na prisão de um pai que estuprou a filha de 11 anos nos Estados Unidos (EUA), onde residiam. Após ser denunciado às autoridades daquele país, o acusado fugiu para o interior do Espírito Santo, onde passou a residir entre as cidades de Pancas e Baixo Guandu. Foi localizado e preso no último dia 11, em seu novo esconderijo, a cidade mineira de Conselheiro Pena.
No início do mês a Justiça do Espírito Santo já havia aceitado a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) contra o pai, que vai responder pelo crime de estupro de vulnerável. No documento é dito que o crime foi praticado sob “constrangimento, com grave ameaça e violência física”.
Os depoimentos apontam que a criança vinha sendo vítima de abusos variados, nos momentos em que ficava com o pai, e há indícios de que as ações também tenham alcançado uma outra criança, o irmão mais velho, de 13 anos, que é autista.
Há relatos ainda de que meses antes, o homem havia estuprado a mãe das crianças, de quem estava separado. O fato teria ocorrido em um momento de fragilidade da mulher, que fazia tratamento contra um câncer de pele.
A investigação
Os crimes aconteceram em meados de setembro de 2020, em um estado americano onde a vítima ainda reside. A criança continuou sendo ameaçada a não revelar as ações paternas, o que só ocorreu meses depois, quando as investigações começaram a ser realizadas pelas autoridades norte-americanas.
Mas em fevereiro de 2021, após décadas vivendo nos EUA e próximo a obter o green card — autorização para residir e trabalhar permanentemente nos EUA —, o pai retornou para o Brasil, se abrigando em cidades do interior capixaba onde passou a contar com o apoio de parentes e da namorada.
Mas no mesmo ano, acionada pela família da vítima e com informações da Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI), da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília e do Serviço de Segurança Diplomática (Diplomatic Security Service –DSS), a Polícia Federal iniciou uma investigação que resultou na abertura de um inquérito em 2022. Vítimas, testemunhas, especialistas em diversas áreas foram ouvidos por videoconferência, paralelo ao levantamento de provas.
O inquérito foi concluído em 2024 e encaminhado ao MP, que decidiu por denunciar o pai, com argumentos que foram aceitos pela Justiça estadual no último dia 7. Com a decisão judicial ele se tornou réu em ação penal.
Mensagens e o bolsa-família
No ano de 2024, quando a investigação ainda estava sendo realizada, o pai decidiu enviar mensagens para os filhos, onde dizia que gostaria de voltar a vê-los e ainda dava dicas para a vida deles.
A vítima entrou em pânico, com medo de que ele voltasse a ter contato com ela. Os textos foram enviados pela Netflix e surpreendeu a criança no momento em que assistia a um filme. O material foi encaminhado pela mãe às autoridades policiais.
Outra descoberta foi de que o denunciado tinha se inscrito no programa federal bolsa-família, no ano de 2023, e desde então passou a receber um benefício mensal de R$ 600. No processo é dito que, sem trabalhar formalmente para não ser localizado, ele passou a receber auxílio do governo.
Após ser localizado em endereços nas cidades de Pancas e Baixo Guandu, com postagens de fotos nas redes sociais dos parentes e da namorada, foi solicitada a prisão do denunciado, com base no risco que poderia representar para as crianças.
O pedido foi feito em janeiro deste ano, pelo advogado que representa a família da vítima, Herison Eisenhower Rodrigues do Nascimento. Foi aceito pela Justiça estadual no início de abril e cumprido em uma operação policial em Minas Gerais, na cidade de Conselheiro Pena, para onde o acusado havia se mudado. Também foi determinada a suspensão do passaporte dele.
Procurado, o advogado confirmou que havia solicitado a prisão do acusado, mas se recusou a dar mais detalhes, informando que o processo tramita sob sigilo.
Em busca de Justiça
Desde 2021 a tia das crianças, que vive no Espírito Santo, realizou uma verdadeira peregrinação pelos setores de segurança em busca de Justiça. Após muitas portas fechadas, conseguiu ser ouvida por um policial federal, que iniciou a investigação.
Ela relata que a irmã vive nos Estados Unidos há muitas décadas, e que foi casada por 15 anos com o agressor de seus dois filhos, que são norte-americanos. Conta que desde que foi informada dos fatos, e da vinda para o Estado do acusado, se esforçou em busca de Justiça.
“Minha sobrinha passou por momentos muito difíceis após o estupro, até com automutilação, e segue sob acompanhamento. O que nós desejamos é que haja justiça, que ele seja condenado por seus crimes”, pondera.
O advogado de defesa do agora réu não foi localizado, mas o espaço segue aberto para sua manifestação.
* Os nomes do acusado e o dos familiares não estão sendo informados neste texto por se tratar de um caso que envolve crianças em situação de vulnerabilidade.
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