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Morro do Macaco: após tragédia ambiental, a insegurança do tráfico

As famílias que sobreviveram ao deslizamento ocorrido há 40 anos vivem hoje em locais de atuação do tráfico, com seus conflitos pela disputa de território

Vitória
Publicado em 16/01/2025 às 00h30
Morro do Macaco
Crédito: Arte: Camilly Napoleão/Foto: Fernando Madeira

Quatro décadas após a tragédia ambiental que atingiu dezenas de famílias no Morro do Macaco, em Vitória, os sobreviventes que permaneceram na comunidade e os que perderam suas casas e foram transferidos para o bairro Feu Rosa, na Serra, vivem hoje sob um outro tipo de insegurança: a violência do tráfico de drogas e de suas extorsões.

Relato feito à coluna por policial que atuava na região de Tabuazeiro e que participou do socorro às vítimas, em 1985, é de que a comunidade era tranquila e que pouco era acionado para atender ocorrências de crimes, sendo os casos mais comuns os patrimoniais, como furtos e roubos, e brigas entre familiares ou vizinhos.

Uma realidade que começou a mudar no caminho para os anos 2000, quando a presença do tráfico de drogas passou a se fazer mais presente. E a década que se seguiu foi marcada pela união de alguns criminosos, o que se configurou a partir dos anos 2010, com o surgimento no Estado das facções criminosas.

Vida em meio à guerra

Os bairros onde os sobreviventes da tragédia e seus familiares vivem hoje são marcados por situações típicas da guerra do tráfico: disputas e conflitos entre grupos por territórios, monitoramentos em pontos estratégicos, trocas de tiros, confrontos com a polícia, toque de recolher  e operações policiais.

Um exemplo é o Morro do Macaco, onde vivem cerca de 3.231 pessoas, segundo levantamento realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), com base no Censo 2022 do IBGE.

De acordo com o delegado Romualdo Gianordoli, subsecretário de Estado de Inteligência (Sei) da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), a situação local piorou quando os três “irmãos Vera” — em referência ao nome da mãe deles — tomaram a área, assumindo as bocas de fumo.

“Começaram a expansão, mas sempre com a proposta de conquista de novos territórios com muito armamento, o que levou a região a um salto de belicosidade e virou um problema da segurança pública”, conta.

A liderança do grupo estava nas mãos de Luan Gomes Faria, o Kamu, integrante da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) e considerado o mais agressivo e voltado a ataques e conflitos. No final de 2023, ele e o irmão Gabriel Gomes Faria, o Buti, foram presos em operações policiais. Os dois se preparavam para promover um ataque a rivais do Bairro da Penha

O comando passou para o terceiro irmão, Bruno Gomes Faria, o Nono, que fugiu para o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Lá, conta com o apoio de dois gerentes para “comandar” a facção a distância, ambos com mandados de prisão ainda não cumpridos, e escondidos na mesma cidade que Nono.

Um deles é Renan Freire Teotônio, o Carneiro, que coordena a distribuição e os envios de entorpecentes, armas de fogo, acessórios e munições para as regiões do TCP na Grande Vitória, e que envolve, além do Morro do Macaco, Engenharia, Conquista e Nova Almeida.

Segundo Romualdo, após as prisões, com a atuação mais frequente da Polícia Militar e a distância das lideranças, o tráfico foi enfraquecendo. O que fez com que migrassem para outras modalidades de crimes, como os roubos, praticados até pelos gerentes da facção.

E começaram a focar na prática de extorsões, segmento de atuação de Marcos Luiz Pereira Júnior, o MK, o segundo gerente de Nono. Mesmo à distância, ele fiscaliza empresas provedoras de internet instaladas nas pontos  de influência do TCP e cobra pedágios de empresários, proprietários e administradores de empresas para atuarem em suas regiões.

O novo bairro

Os sobreviventes que foram levados para Feu Rosa, na Serra, não enfrentaram situação diferente, sendo também alvos da guerra do tráfico. O bairro, segundo o Censo 2022 do IBGE, é o segundo mais populoso da Serra, abrigando 17.897 pessoas.

De acordo com o chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Serra, delegado Rodrigo Sandi Mori, duas gangues dominam o território.

À coluna, policiais contaram que o bairro foi criado em uma área onde os registros de crimes eram mais frequentes, dada a proximidade com outras localidades do município que já enfrentavam problemas de violência. O que acabou se intensificando ao longo dos anos.

E no município que soma o maior número de homicídios, Feu Rosa sempre esteve entre os cinco onde mais se mata na Serra. “Há dois anos o número vem diminuindo em razão de diversas prisões que realizamos, inclusive de lideranças”, relata o delegado.

Vidas marcadas

Confira documentário sobre os 40 anos da tragédia que afetou a comunidade do Morro do Macaco:

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