Um laudo médico complementar, entregue à Justiça estadual nesta segunda-feira (19), aponta que o cenário da morte da médica Juliana Pimenta Ruas El-Aouar, de 39 anos, pode ser outro. O documento, apresentado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), relata que o trauma constatado na cabeça da vítima ocorreu enquanto ela ainda estava viva e que sua morte aconteceu pelo menos uma hora antes do serviço médico de urgência ter sido acionado pelo marido.
Juliana morreu em um hotel em Colatina. Ela era casada com Fuvio Luziano Serafim, 44 anos, ex-prefeito da cidade mineira de Catuji, que foi denunciado pelo MPES por feminicídio.
De acordo com o laudo, a morte ocorreu por dois motivos: broncoaspiração e asfixia. “Decorreu da ação conjunta de dois mecanismos: intoxicação por morfina (e sinergia entre fármacos sedativos) e edema cerebral resultante de traumatismo cranioencefálico”, é dito no texto do Serviço Médico Legal de Colatina.
Na sequência é informado: “é possível afirmar que foram traumatismos ocorridos em vida os responsáveis pelas hemorragias no subcutâneo do couro cabeludo e também pela hemorragia subaracnóidea (em nível intracraniano) identificadas na vítima”.
É explicado que o extravasamento de sangue encontrado no local do trauma não acontece após a morte. “Uma vez que a interrupção da circulação sanguínea na morte mantém o sangue estagnado no interior dos vasos, sem pressão para que infiltre as malhas teciduais dos arredores, mesmo em caso de trauma com dano vascular”.
Em outro ponto é dito ainda que, “possivelmente a vítima veio a óbito entre 4h e 8h da manhã de 2 de setembro de 2023”.
A avaliação médica, segundo o MPES, “refuta a versão apresentada pelo denunciado, o ex-marido”, ao se referir a ligação feita por ele para o atendimento de urgência, onde relata que Juliana ainda estaria convulsionando.
O marido saiu do quarto onde o casal estava hospedado por volta das 8h17min, indo ao quarto do motorista do casal, Robson Gonçalves dos Santos, pedir ajuda para socorrer Juliana, segundo cronologia do MPES. Horário em que a vítima já estaria morta, aponta o laudo.
“Somente às 9h16min consta o registro de ligação do Sr. Fúvio ao SAMU. Então, 59 minutos depois que ele saiu do quarto, ele acionou o SAMU, que por sua vez chegou às 9h36min, constatando o óbito”, é informado no texto do recurso enviado ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo no início deste mês. A ele foi anexado o laudo complementar.
Na ocasião foi solicitado uma revisão da decisão da 1ª Vara Criminal de Colatina, que no final do mês de julho decidiu extinguir a ação contra o marido com o argumento de que não houve feminicídio e que a morte tinha sido causada pela variedade de drogas consumidas pela vítima. Decisão que a defesa de Fuvio reafirma (veja abaixo).
O que diz a defesa
Acionado na noite desta segunda-feira (19), o advogado Pedro Lozer Pacheco Junior, ainda não tinha tido acesso ao laudo complementar.
No início deste mês, quando se manifestou sobre o recurso apresentado pelo MPES, informou que já havia sido provado, em uma defesa de mais de 60 páginas, que seu cliente não matou a esposa. “Nós mostramos, ponto a ponto, a veracidade de que as acusações não têm fundamento e que a morte de Juliana foi por broncoaspiração. Demonstramos a total ausência de prática de crime doloso contra a vida”, explica.
Acrescentou, na ocasião, que os mais de 38 depoimentos ouvidos pela 1ª Vara Criminal de Colatina mostraram que o casal era viciado em drogas em grau máximo e que não houve violência da parte de Fuvio.
“Já no interrogatório o entendimento foi o de que não havia motivos para mantê-lo preso. E ao analisar as alegações finais, a Justiça entendeu que ele não cometeu crime doloso e o absolveu”.
"É normal o MPES recorrer, vamos ser intimados e apresentar as contrarrazões, mostrando que ele não praticou crime doloso contra a vida. Vou sustentar as razões para manter a absolvição”, assinala Lozer.
O que aconteceu
A suspeita inicial, após a morte da médica, era de que tinha sido vítima de feminicídio. No dia anterior ela havia passado por um procedimento cirúrgico em um hospital da cidade. Os exames toxicológicos realizados no corpo dela e no marido constataram que ambos usaram diversas substâncias tóxicas após o procedimento.
Fuvio foi preso por suspeita de participação no crime. A Polícia Civil o autuou por homicídio qualificado por motivo torpe, sem que a vítima tivesse direito à defesa e por ela ser mulher. Na sequência ele foi denunciado pelo MPES. No último mês de julho a 1ª Vara Criminal de Colatina decidiu que ele não iria a julgamento pelo crime.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.