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O motivo da briga em presídio no ES que feriu irmãos Vera e mais 4

Repercutiram na penitenciária de segurança máxima os conflitos e as disputas dos grupos criminosos nas ruas e comunidades sob sua influência

Vitória
Publicado em 11/02/2025 às 03h30
Presídio
Crédito: Arte : Camilly Napoleão com Adobe Firefly

A tradicional disputa por territórios, aliada à extorsão praticada contra empresários, comerciantes e moradores, acirrou os ânimos das lideranças de grupos criminosos detidas na Penitenciária de Segurança Máxima 2 (PSMA 2), em Viana.

E estão entre os motivos investigados para o conflito ocorrido na manhã desta segunda-feira (10), que resultou em seis detentos feridos e levados para hospitais da Grande Vitória, incluindo os dois irmãos Vera, assim denominados em referência à mãe.

À coluna foi relatado que a briga envolveu integrantes do Primeiro Comando de Vitória (PCV) e do Terceiro Comando Puro (TCP). Esta última facção criminosa tem como lideranças os irmãos Luan Gomes Faria, o Kamu, e Gabriel Gomes Faria, o Buti. Os dois foram presos em 2023 e seriam os principais alvos.

Parte da revolta dos faccionados do PCV seria contra o avanço dos Vera em relação a algumas bocas de fumo. A informação sobre a expansão de território chegou ao presídio que abriga as principais lideranças criminosas, consideradas as de maior periculosidade, e não foi aceita pelos traficantes.

Também pesou as informações recebidas  sobre as extorsões contra comerciantes, empresários e moradores. E que estariam inclusive atingindo áreas sob influência do PCV. Uma prática por eles repudiada e que vinha sendo adotada pelos rivais.

O TCP foi alvo no final do mês anterior de uma operação da Polícia Civil, denominada Conexão Perdida, realizada no Espírito Santo e no Rio de Janeiro pela Polícia Civil. Foram cumpridos mandados de prisão e busca e apreensão e entre os detidos estava a companheira de Luan, Emily Maria Barros Almeida, de 27 anos. Presa no bairro Itararé, em Vitória, tinha um papel importante no esquema.

Ela e o grupo são acusados de coagir empresários comerciantes a pagarem quantias elevadas para continuar operando em comunidades sob influência do TCP, oferecendo seus serviços, como de internet. Há quem chegou a pagar até R$ 15 mil por mês.

Emily era uma das pessoas que recebia os valores pagos pelas vítimas na própria conta bancária e enviava o recurso a um banco clandestino montado pela quadrilha no Rio de Janeiro, onde o valor passava por um processo de lavagem até ser sacado em espécie.

Em apenas um ano, a movimentação com as extorsões chegou a R$ 43 milhões. No Estado, um empresário chegou a ser preso por atuar em conjunto com os traficantes.

E como Buti e Kamu estão presos, o comando das operações criminosas ficou a cargo do irmão deles, Bruno Gomes Faria, o Nono, que permanece foragido e escondido no Rio de Janeiro.

Os irmãos Vera:  Gabriel Gomes Faria, o Buti, e Luan Gomes Faria, o Kamu.
Os irmãos Vera: Gabriel Gomes Faria, o Buti, e Luan Gomes Faria, o Kamu. Crédito: Fonte: PCES

Briga

Segundo informações da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) — responsável pela gestão das unidades prisionais capixabas —, o conflito ocorreu dentro da galeria, durante o momento de convívio.

Teve início tão logo entraram no ambiente. Foram utilizados “chuchos”  contra alguns dos presos, um deles ficou com algo semelhante a um vergalhão enterrado na parte de trás do pescoço.

Seis ficaram feridos. “Foram socorridos e atendidos, inicialmente, na Unidade de Saúde Prisional, dentro do Complexo de Viana”, foi dito em nota da Sejus. Os ânimos foram contidos pela Polícia Penal, que iniciou a investigação da ocorrência.

Um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) será aberto para investigar a motivação e responsabilizar os envolvidos, informou a Sejus. Em paralelo, a Polícia Civil também investiga os fatos, considerando que houve tentativas de homicídio.

As apurações iniciais apontam que dois internos já assumiram terem realizado o planejamento dos ataques. E que eles vinham sendo ameaçados pelos rivais do TCP e decidiram antecipar a ação para não morrerem.

O foco eram as duas lideranças do TCP — Kamu e Buti. As ações deles não são aceitas pelos integrantes do PCV.

De olho nas ruas

As forças de segurança passaram esta segunda-feira (10) em alerta, verificando áreas conhecidas como sendo de atrito entre as duas facções. O objetivo é evitar que o conflito iniciado na unidade prisional se espalhasse para as ruas. E durante a noite o trabalho continuou sendo executado.

À coluna foi relatado que, inicialmente, o problema aparenta estar contido no sistema penal, sem repercussão nas ruas.

O monitoramento denominado de saturação, realizado pela Polícia Militar, conta com o apoio das equipes da Força Tática, do Batalhão de Missões Especiais (BME), o Batalhão de Operação com Cães, continuará sendo executado por pelo menos 48 horas. 

Feridos no conflito

  • Kassiano Peixoto Belmont - Foi socorrido com algo parecido com um vergalhão fincado em suas costas, na altura do pescoço. Passou pelo centro cirúrgico e estava em observação. Seu estado de saúde, até o final da noite desta segunda-feira (10), era estável
  • Thiago Ferreira Costa - Seu estado de saúde, até o final da noite desta segunda-feira (10), era estável
  • Gabriel Gomes Faria, o Buti - Seu estado de saúde, até o final da noite desta segunda-feira (10), era estável
  • João Paulo Ferreira Dias - Já retornou para o presídio após atendimento médico hospitalar
  • Carlos Eduardo da Silva Costa -  Já retornou para o presídio após atendimento médico hospitalar
  • Luan Gomes Faria - Seu estado de saúde, até o final da noite desta segunda-feira (10), era estável

Além dos irmãos Vera, foi atingido no conflito João Paulo Ferreira Dias, que faz parte de uma família com ligações com a criminalidade. Era conhecido como o “dono do morro”, referência à Piedade. E as disputas de poder em 2018 deram origem à sequência de crimes que ocorreram na região, incluindo os irmãos Ruan e Damião Reis.

Contra Kassiano Peixoto Belmont existem, no site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), diversos processos por homicídio. Foragido da Penitenciária Máxima 1, foi capturado no Rio.

Os advogados de defesa dos presos não foram localizados, mas o espaço segue aberto para manifestações.

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