As mensagens no celular de José Antonio Marim Nogueira, mais conhecido como Toninho Pavão, preso no início de outubro, e no equipamento de outro traficante também detido, revelam detalhes sobre as negociações do tráfico no Espírito Santo. Além dos acordos para o fornecimento de drogas e de armas, há até imagem de uma suposta plantação de maconha.
Em uma das conversas, Pavão lamenta a perda de uma carga de 12 toneladas de maconha apreendida pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Mato Grosso do Sul, no mês de abril. O material estava em um caminhão roubado.
No geral, segundo as investigações, o bate-papo traz combinações com interlocutores que queriam comprar armamentos — como pistolas de diversos calibres — e a venda de maconha.
Pavão foi preso no dia 10 de outubro pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-ES), coordenada pela Polícia Federal. Além dele foram detidas outras seis pessoas por suposto envolvimento no tráfico de drogas e ligações com a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).
Retorno ao crime
A retomada das atividades criminosas de Pavão foi identificada a partir do celular, apreendido com o traficante Charle Pinheiro Januário, 47 anos, também conhecido como “Negão”, “Sorriso” ou ‘Tchururu”, ambos companheiros de presídio.
Ele é apontado como integrante do PCC atuando no Espírito Santo, foi preso em maio deste ano, em uma operação da Polícia Civil na zona rural de São Mateus. Figurava na lista dos criminosos mais procurados na Região Norte.
Charle era foragido do sistema prisional e suas ações na facção o levaram para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, por dois anos. Contra ele, havia um mandado de prisão por condenação com pena de 30 anos e 8 meses, além de outro mandado pelos seguintes crimes: homicídio, roubo a banco, extorsão mediante sequestro, tráfico de drogas e associação para o tráfico.
Foi a análise do celular dele que levou a FICCO-ES a realizar a operação Ghosts. O nome é uma alusão ao ressurgimento de fantasmas do passado que dominavam a criminalidade no Espírito Santo.
Imagem da plantação
No celular de Charle Januário foram encontradas conversas dele com Pavão, sobre comércio de entorpecentes. Em uma delas, ele pede apoio financeiro para enviar uma “mula”, pessoa que transportou drogas para o Espírito Santo, e que precisava retornar para Umuarama, no Paraná. Foi nesta conversa que Pavão reclamou sobre a perda da carga de maconha.
O diálogo inclui ainda uma imagem, enviada por Pavão, de uma área com uma suposta plantação de maconha. Charle responde a ele que tinha “sócios” que pagariam à vista por até 500 kg da droga.
Outras revelações surgiram após a apreensão do celular de Pavão. Foram encontradas transações financeiras com supostos “laranjas”— denominação dada a quem empresta nome, documentos ou conta bancária para transações fraudulentas. Foram feitas na região do Mato Grosso do Sul, onde seria mais fácil adquirir um volume maior de maconha para revenda.
Outros indícios são de que Pavão teria se tornado um importador de maconha de estados fronteiriços para revenda a traficantes locais. O que seria viabilizado a partir de contatos com o PCC, conquistados nos presídios por onde passou.
Prisões anteriores
Pavão foi condenado a 64 anos em regime fechado por crimes variados. Cumpriu cerca de 20 anos de sua pena quando progrediu para o regime aberto em agosto de 2022. Foi detido no dia 10 de outubro em um hospital, quando fazia exames e se preparava para realizar uma cirurgia.
Ao longo das últimas duas décadas, ele protagonizou inúmeras ações na criminalidade e chegou a ser apontado na lista dos mais perigosos do Estado.
O que diz a defesa
Por nota, o advogado Wanderson Omar Simon, que faz a defesa de Pavão, informou que o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) solicitou a prorrogação da prisão temporária de todos os investigados para concluir a análise das mídias apreendidas.
“Eu impugnei o requerimento tendo em vista que o Ministério Público não apresentou justo motivo para a prorrogação da prisão temporária, já que teve tempo mais que suficiente para examinar as mídias apreendidas. Agora temos que aguardar a decisão judicial. O prazo da prisão temporária se encerra amanhã (dia 8)”, explicou o advogado.
Ele reafirmou que o seu cliente está sendo investigado em um processo que tramita sob sigilo. “Houve busca e apreensão em sua casa, mas não foram encontradas armas ou drogas, nada ilícito. Espero que o andamento das investigações esclareçam os fatos”.
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