Lixeiras públicas, sacos de areia, restos de madeira, entulhos, colchões, pedras, entre outros objetos estão sendo utilizados para a montagem de barricadas em ruas públicas com o objetivo de atrasar ou até impedir a atuação da Polícia Militar e da Guarda Municipal. É uma das muitas ações dos criminosos identificadas nas chamadas áreas conflagradas da Grande Vitória, onde a atuação do tráfico é mais intensa, e onde lançam mão até de câmeras para vigiar as operações policiais.
O fato foi apontado em um levantamento realizado pela Polícia Militar sobre a atuação das facções criminosas em comunidades do Espírito Santo, com destaque para as cidades da Grande Vitória. O documento faz parte de um projeto apresentado ao governo do Estado, com estratégias de cunho mais social para enfrentar o crescimento das áreas de tráfico.
Algumas destas áreas estão localizadas na região de atuação do 4º Batalhão da Polícia Militar, que atende bairros como Boa Vista, Soteco, Divino Espírito Santo, Guaranhuns, Gaivotas, Araçás, Ibes, Itapuã, Soteco, Cocal, Ilha dos Aires, Cristóvão Colombo, entre outros localizados em Vila Velha.
Segundo o texto militar, os criminosos tentam dificultar o livre acesso das viaturas aos bairros para ganhar tempo para que os traficantes possam fugir. E acrescenta que “há olheiros que avisam, por meio de assobios, sobre a chegada das viaturas”.
Relatos sobre a existência das barricadas estão em vários boletins feitos por policiais militares indicando que as barricadas tem se tornado “ações rotineiras”, principalmente nas regiões conhecidas como pontos de distribuição de drogas.
Locais onde imóveis abandonados são utilizados por traficantes e ainda por usuários de drogas envolvidos com furtos para se esconder. “Em especial no Beco da Lica, em Divino Espírito Santo, e na favelinha do Ibes”, informa o texto, acrescentando ainda bairros como Boa Vista e Itapuã, com destaque para a Rua Gameleira.
Há relatos ainda sobre a realização dos bailes mandelas e de conflitos frequentes ocorridos entre os grupos rivais nas disputas por domínio territorial.
A atuação com barricadas, segundo fontes da corporação militar, também têm sido utilizadas no acesso a alguns bairros do Território do Bem, em Vitória, como é o caso de São Benedito e Bairro da Penha. A região é citada como a que registra o maior número de confrontos com a polícia no Estado.
Central do crime
Também foi identificado no bairro Guaranhuns, em Vila Velha, a existência de uma central de videomonitoramento do crime, onde os traficantes estariam “obrigando os moradores a instalar câmeras em locais estratégicos em troca de wi-fi com internet ilimitada”.
“Durante patrulhamento pelas vielas do bairro, uma equipe localizou câmeras escondidas nos becos onde o tráfico atua, principalmente nas esquinas”, diz o texto militar, acrescentando que os chefes do tráfico, que se escondem no Rio, utilizam as mesmas câmeras para monitorar a região.
Imagens presentes no documento produzido pela PM revelam que os equipamentos foram instalados em casas localizadas em esquinas, o que permite aos olheiros monitorarem a região durante todo o dia, acompanhando não só as ações policiais, mas a presença de rivais das facções e fazer controle do tráfico local.
Ações semelhantes foram identificadas pela polícia em Canarinho, Pedro Canário, e ainda em Vasco da Gama, Cariacica, há pouco mais de dois meses.
Plano para reduzir criminalidade
Os dados sobre confrontos fazem parte de um estudo realizado pela Polícia Militar sobre as áreas conflagradas pelo tráfico na Grande Vitória, apresentado ao Governo do Estado no início do mês de março, com propostas para reduzir os índices de criminalidade nas áreas mais vulneráveis do Estado.
Foram propostas ações de cunho social, voltadas ao desenvolvimento da região, com melhorias na infraestrutura que garantam mobilidade urbana e acessibilidade; geração de emprego e renda; ampliação de serviços públicos, como a abertura de novas ruas e alargamento das vielas e becos, além de pavimentação; regularização fundiária e iluminação pública.
Por nota, o governo do Estado informou que o documento "passará por avaliações de viabilidade nas instâncias governamentais competentes".
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