Com um filho preso, ela era uma das articuladoras da Frente Estadual pelo Desencarceramento no Estado (Desencarcera-ES), movimento que trata das violações de direitos ocorridas nos presídios. Mas investigações realizadas pelo Ministério Público do Espírito Santo levaram a sua prisão, em 2023, e sua posterior denúncia como integrante da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). As apreensões feitas em sua casa revelaram dados da estrutura da organização criminosa e seus membros.
Eliana Lopes Bernardino Valadares, mais conhecida como Branca, foi presa durante a Operação Sintonia. O material encontrado em sua residência resultou em 45 pessoas denunciadas em Vitória. Também viabilizou a realização de operações adicionais que desencadearam outras ações, como a Operação Sintonia Fina, na Serra, com 2 réus; outras em Vila Velha, com um total de 29 réus; e em Viana, com um total de 33 réus. Ao todo foram denunciadas 64 pessoas como integrantes do PCC no Estado.
Além de “catuques” — bilhetes com recados dos presos —, foram localizados vários manuscritos que vinham sendo guardados ao longo dos anos, e um notebook, que continha a estruturação e articulação do PCC, a suposta vinculação de Branca e de seu filho, Felipe Bernardino Valadares, o Tchuck ou Beiço — que está detido em presídio capixaba —, com a organização criminosa e os planos de expansão no sistema prisional.
Chamou a atenção o volume de “cara crachá”, que é uma espécie de ficha de registro dos integrantes do PCC. Traz dados minuciosos, como um cadastro da organização, com nome completo, seus apelidos de origem e batismo, data do batismo, “quebrada” de origem e de atuação atual, onde esteve custodiado, data da última saída, se tem função na organização criminosa, seus padrinhos, entre outras informações.
Segundo processo que tramita na Justiça estadual, em um dos “catuques”, o filho de Branca explica para a mãe as funções do “cara crachá” e acrescenta que é o documento ao qual ela deve se referir quando for falar em nome do filho perante os “irmãos” da facção em São Paulo.
Função no crime
Na estrutura do PCC, Eliana ocuparia a função de “Bate Bola”, que é o integrante da facção que tem um familiar que ajuda fora do ambiente prisional e fica em contato com outros familiares dos faccionados presos, e também com os integrantes da Sintonia (os chefes), levando e trazendo os retornos. Seu filho, Felipe, ocupava a função de “bate bola geral” na Penitenciária de Segurança Máxima I (PSMA 1) onde estava preso na ocasião das investigações.
Branca, segundo relatado em várias denúncias contra os integrantes feitas pelo MPES, atuava como elo de comunicação, entre os faccionados presos e a “Sintonia das Trancas”, criando uma forma de comunicação dos presos com o comando da facção. Uma das ações apontadas nos processos era a de dar o retorno aos presos de informações sobre suas matrículas e resumos de batismos.
Nos bilhetes dos presos foram identificados além de diversos contatos com conteúdo criminoso relacionado a tráfico de drogas, porte, posse e comércio ilegal de arma de fogo; homicídios. Havia ainda dados de novos integrantes do PCC e, segundo relatos do MPES nos processos, informações para viabilizar a expansão da facção criminosa na unidade prisional, bem como sua articulação para ganhar força e influência.
As investigações apontam ainda que, quando Felipe foi transferido para a Penitenciária Estadual de Vila Velha 1 (PEVV-1), Branca passou a ter contato com outros familiares de presos, “intermediando negociações financeiras para a obtenção de vagas de trabalho conhecidas no ambiente prisional como ‘camisas’, estudo e outras vantagens indevidas no âmbito do estabelecimento prisional para os demais integrantes do PCC”, é relatado em um dos processos.
É apontado ainda que isto permitiu a Felipe conquistar maior espaço na facção criminosa, na medida em que, com o apoio da mãe, conseguia expandir a estrutura do PCC no sistema prisional, realizando o batismo e o cadastro de detentos.
Julgamento
O processo de Branca é um dos que estão tramitando na Justiça estadual. Nesta quarta-feira (12) começam a ser julgadas 15 pessoas que foram denunciadas em uma das ações de Viana. Eles respondem por integrarem a organização criminosa paulista PCC e se dedicarem, no Espírito Santo, a práticas de crimes como tráfico; associação para o tráfico; porte, posse e comércio ilegal de arma de fogo; corrupção de menores e homicídios.
A coluna não conseguiu contato com a defesa de Eliana, mas o espaço segue aberto para a manifestação de seu advogado.
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