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Perícia do ES traz nova reviravolta a caso de jovem morto no Sambão

Laudo da Polícia Científica descarta que suposto autor do disparo seja a pessoa que foi  denunciada pelo Ministério Público

Vitória
Publicado em 15/01/2025 às 00h30
Crime no Sambão
Crédito: Arte - Camilly Napoleão com Adobe Firefly

Pouco mais de um ano após uma perícia realizada no Rio de Janeiro mudar os rumos da investigação do assassinato de um jovem no Sambão do Povo, em Vitória, surge uma nova versão. Desta vez é uma análise realizada no Espírito Santo, e que não confirma o reconhecimento da última pessoa denunciada como o autor do disparo que matou a vítima.

O laudo produzido pela Polícia Científica capixaba informa que há diferenças físicas, de cor da pele e de altura entre a pessoa indicada como tendo feito o disparo, no laudo carioca, e a que foi denunciada pelo Ministério Público do Espírito santo (MPES) pelo crime, Wesley Gomes da Silva. (Veja detalhes abaixo).

E conclui informando que o resultado do exame “contradiz fortemente” a hipótese de que Wesley  seja o suspeito que aparece no vídeo do momento do crime.

A perícia carioca

Pedro Henrique Crizanto, 20 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça durante ensaios técnicos das escolas de samba, em fevereiro de 2023. Dias após o crime um menor foi apreendido e apontado como o autor do disparo.

Inconformada com a situação, a família do jovem morto acionou o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por intermédio do advogado Renan Sales, que solicitou a realização de uma perícia, feita no Rio de Janeiro.

O alvo do trabalho foram imagens produzidas no Sambão do Povo, no dia 1º de fevereiro, por volta das 22h50. Elas mostram o registro de uma briga, em meio a um aglomerado de pessoas em ambiente aberto, quando um disparo é ouvido e na sequência a dispersão das pessoas. Entre eles estava Pedro Henrique.

O resultado do trabalho foi de que “o disparo não foi realizado pela pessoa de camiseta branca”.  A informação se refere ao menor apreendido e que já recebeu uma medida socioeducativa. Na sequência tem-se a informação sobre o autor do tiro: “A pessoa de camiseta amarela apresenta movimento corporal indicativo de ser o autor do disparo”.

Posteriormente, uma pessoa identificada como Wesley Gomes da Silva, o Pé de Monstro, foi presa e denunciada pelo MPES como o autor do crime, o que foi aceito pelo Juízo da 1ª Vara Criminal de Vitória.

Foi esta perícia feita pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que subsidiou a reabertura da investigação.

Nova perícia

Mas em setembro do ano passado, a pedido da defesa de Wesley, foi autorizada a realização de uma nova perícia. O objetivo era identificar se a “pessoa de camisa amarela”, apontada como autor do disparo, era Wesley ou tem semelhanças físicas com ele.

A Polícia Científica do Espírito Santo analisou imagens de pessoas no Sambão do Povo (chamadas de imagens questionadas), que foram comparadas com fotos do denunciado pelo crime.

O texto informa que as imagens dos três vídeos analisados apresentavam “baixa qualidade e resolução na área de interesse, o que não permitiu realização do exame de comparação facial”.

Mas conclui com base nas comparações feitas entre o vídeo do crime e imagens fornecidas por órgãos públicos: “O resultado do exame contradiz fortemente a hipótese de que o réu Wesley Gomes da Silva seja o indivíduo suspeito que aparece nas imagens do vídeo”.

O laudo relata que a pessoa suspeita no vídeo tem "compleição física franzina", cor da pele mais escura e com estatura menor.

A análise também foi feita em relação a uma outra pessoa, cujo nome não está sendo divulgado por não aparecer na denúncia. No texto é informado que sobre ele também não foi possível encontrar “características individualizantes que permitam atribuir a identidade”.

O laudo, do dia 27 de dezembro do ano passado, foi anexado ao processo no último dia 9.

Contradições

O advogado Bruno Won Doelinger, que faz a defesa de Wesley, aponta que seu pedido decorre das contradições que havia no processo.

“Chegaram ao meu cliente por uma denúncia anônima, por ele ter características parecidas. Mas as diferenças são gritantes e a nova perícia revela isto. Meu cliente tem 1.90 metros de altura, bem superior a pessoa presente no vídeo”, relata.

Com base nas informações ele pretende solicitar a soltura de Wesley. “Está claro que meu cliente não é a pessoa apontada no vídeo como o autor do disparo”, explica, acrescentando que outras provas foram solicitadas e vão ajudar a complementar as informações.

“Houve uma briga que ocasionou a morte do jovem. A perícia do Rio aponta que o tiro partiu da pessoa de camisa amarela, mas o que se confirmou agora, com a nova perícia, é que esta pessoa não é o Wesley”, assinala.

Ele acrescenta que os demais processos que Wesley respondia na Justiça estadual já foram sanados. “Em outro caso ele também foi absolvido pela perícia”, relata.

E o que acontece agora?

Segundo o Ministério Público do Espírito Santo (MPES),  a análise da corporação capixaba foi feita em local diferente e não considerou o momento do tiro.

Acrescenta que no camarote, trecho usado pela segunda perícia, haviam várias pessoas com camisa amarela. “Em princípio não muda nada”, foi informado.

O assistente de acusação, advogado que representa a família do jovem assassinado, Renan Sales, solicitou ao Juízo da 1ª Vara Criminal de Vitória, responsável pelo Tribunal do Júri, que o processo siga seu curso e que Wesley seja encaminhado a julgamento.

No documento ele diz: “A nova perícia realizada pela Polícia Científica em nada altera o cenário existente, pois realizado em recorte fático completamente diferente daquele que vitimou Pedro Henrique Crizanto”.

De acordo com Sales, a perícia carioca foi realizada com base nas imagens que registraram o momento do tiro.

“A nova perícia, realizada pela Polícia Científica, foi feita com um recorte diferente, no camarote. O que me força a concluir que é uma tentativa, um ato de desespero da defesa do réu de tirar o foco do que importa, que é quem proferiu o disparo”, assinala.

Ele acrescenta que todas as informações sobre o crime vão ser apresentadas aos jurados. “O que importa não é quem é a pessoa de camisa amarela que estava na briga no camarote. Não tenho dúvida do ato desesperado de tirar o foco de quem está no processo e isto será apresentado e mostrado aos jurados em momento oportuno.”

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