Uma perícia semelhante a de filmes americanos foi realizada nos laboratórios da Polícia Científica do Espírito Santo para descobrir os detalhes do confronto ocorrido entre criminosos e policiais militares na Avenida Leitão da Silva, em Vitória, no ano passado. Um dos disparos decorrentes da troca de tiros foi fatal para um idoso internado em um quarto de hospital. Entre os recursos utilizados pelos peritos, há o que mostra em vídeo, a partir de imagens de drone, a trajetória dos múltiplos disparos, um deles atingiu a vítima.
O confronto no entorno de Gurigica teve início na noite do dia 24 de julho do ano passado, um sábado, em ocorrências que resultaram na morte de duas pessoas e uma terceira ficou ferida. Passava pouco das 2 horas do dia seguinte, um domingo (25), quando tiros começaram a ser ouvidos e criminosos desceram para as proximidades da avenida. Policiais chegaram ao local e o conflito se iniciou.
No dia seguinte os peritos foram à região em busca de vestígios de uma cena de crime complexa, onde precisava ser identificado de qual arma partiu o tiro que matou Daniel Ribeiro Campos da Silva, de 68 anos. E mais, saber se ela pertencia aos criminosos ou aos policiais.
O material encontrado e posteriormente analisado apontou para três regiões de disparo, duas delas atrás do hospital e uma terceira, em outro ponto próximo à avenida, onde um carro foi queimado e cujos disparos atingiram um prédio em Bento Ferreira. Os peritos foram ainda a outros locais que tinham sido alvo dos tiros. Um deles foi o quarto onde a vítima estava internada, e onde o “buraco” por onde a bala passou ajudou a entender de onde ela tinha partido.
Foram estes elementos - o que foi deixado nas áreas de disparo, como os estojos das balas, e ainda os “buracos” deixados nos pontos que receberam os tiros -, é que permitiram aos peritos refazerem a trajetória dos disparos.
Um dos locais de onde os tiros partiram fica exatamente atrás do hospital, em uma vegetação a cerca de uns 33 metros de altura. “O quarto da vítima ficava no último andar do hospital, de frente para onde estavam os criminosos”, explica o perito Régis de Almeida Farani, que atua na seção de reprodução simulada e exames especiais.
O modelo tridimensional desenvolvido pela perícia permitiu observar a dinâmica do conflito e que os criminosos atiravam contra os policiais que estavam do outro lado da rua. E que na rota dos tiros estava o quarto de Daniel. Garantiu ainda elementos seguros para a investigação que estava sendo realizada pelo delegado Marcelo Cavalcanti, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória.
“Como perito nós não procuramos confirmar uma narrativa. Deixamos que os vestígios nos contem o que aconteceu. E foi o que fizemos. O modelo desenvolvido, além de ilustrar a rota dos disparos, mostra, principalmente, que outras trajetórias não seriam condizentes com o material que encontramos”, relata Farani.
Armas identificadas
O material por eles recolhido levou a um conjunto de seis armas usadas pelos criminosos. Quatro pistolas acabaram sendo apreendidas nos meses que se seguiram em operações das polícias militar e civil e três foram relacionadas ao conflito.
Uma delas foi apreendida em Aracruz e era a única compatível com a bala que atingiu a vítima no hospital. Posteriormente, na investigação realizada pelo delegado, foi possível confirmar que ela pertencia a Guilherme de Oliveira Florentino, conhecido como Gui Capeta, e que ele foi o autor do disparo que matou Daniel.
A equipe da perícia balística também identificou que uma das armas apreendidas com um dos envolvidos no confronto tem relação com um outro homicídio ocorrido em Cariacica. Outro ponto, segundo Régis, é que as análises permitiram descartar as armas dos policiais dos disparos que atingiram o hospital.
No início deste mês a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou nove pessoas pelo envolvimento na morte do paciente Daniel e ainda nos conflitos.
A Polícia Científica foi criada em 2022, e reúne o Instituto de Identificação, Instituto de Laboratórios Forenses, Instituto de Criminalística e Instituto Médico Legal, realizando perícias criminais variadas, como os exames laboratoriais, as perícias médico-legais, os exames de corpo de delito, e a identificação humana, civil e criminal.
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