Uma nova estrutura da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES) será criada em uma região de Vitória onde atua uma das principais facções criminosas. A nova companhia independente terá suas ações focadas na Região do Bairro da Penha, também conhecida como Território do Bem, e que reúne seis bairros e três comunidades. É considerada uma unidade estratégica, cujo desafio será reduzir os indicadores de violência e criminalidade, mas também melhorar o relacionamento com os moradores.
Um projeto de lei do governo estadual está sendo preparado para ser encaminhado à Assembleia Legislativa, e a expectativa é de que seja votado ainda este ano. Será alterada a estrutura organizacional da corporação, com a criação de cargos para a nova unidade.
A proposta foi apresentada em agosto, em documento assinado pelo secretário de Segurança, Leonardo Damasceno, e segundo o sistema de acompanhamento das ações da administração estadual, já passou por várias pastas. Atualmente está sendo analisado pela Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger).
À coluna foi relatado que a nova companhia independente, vai atuar exclusivamente na região, com um modelo de policiamento mais comunitário, com estratégias que ainda estão sendo traçadas.
A área compreende os bairros da Penha, Bonfim, São Benedito, Consolação, Gurigica, Itararé e as comunidades do Jaburu, Engenharia e Floresta. Está situada entre as avenidas Leitão da Silva, Vitória, Marechal Campos e Maruípe e a Rua Carlos Alves.
A nomenclatura Território do Bem foi criada entre 2006 e 2007 por lideranças comunitárias dessas localidades, marcadas pela violência. Reúne bem mais de 30 mil habitantes e surgiu de ocupações populares entre as décadas de 1920 e 1970.
Como ainda não foi encontrado um local para sediar a nova companhia na região, ela funcionaria provisoriamente no 1º Batalhão da Capital. A região já conta com dois destacamentos, que é uma estrutura bem menor, localizados no Bairro da Penha e em São Benedito.
As dificuldades
Um plano apresentado pela PM, em março deste ano, com o objetivo de reduzir os indicadores de violência, apontava que em 2023, 45% dos confrontos com a polícia no município de Vitória ocorreram na Região do Bairro da Penha. Em relação à Região Metropolitana, eles correspondem a 10%.
Este ano, três bairros do território somaram 49 homicídios. No ano passado, os seis bairros que o compõem totalizaram 85 mortes violentas, total que superou 2022, quando foram registradas 70. Dados que resultam da guerra do tráfico.
Na região foi preso este ano Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, a principal liderança, que estava em liberdade, da facção criminosa Primeiro Comando de Vitória (PCV), como sede no Bairro da Penha. Ele estava escondido na casa de familiares, em Bonfim.
É ainda marcada por tiroteios e disputas do tráfico com a comunidade vizinha, liderada pelo Terceiro Comando Puro (TCP), o que deixa a população refém. São conflitos e disputas que descem os bairros e alcançam as principais avenidas que circundam o território, com fechamento de ruas e confrontos policiais. Um deles resultou na morte de um idoso internado em uma unidade hospitalar da região.
Por outro lado a comunidade se ressente das ações policiais, reclamando da violência empregada nas operações. Relatam que a maioria dos que lá vivem não são criminosos e pedem paz, respeito aos seus direitos e uma política de segurança mais inclusiva.
O próprio plano da polícia já apontava que a região precisa de ações de cunho social, voltadas ao desenvolvimento, com melhorias na infraestrutura que garantam mobilidade urbana e acessibilidade; geração de emprego e renda; ampliação de serviços públicos, como a abertura de novas ruas e alargamento das vielas e becos, além de pavimentação; regularização fundiária e iluminação pública.
Outra novidade
Será criada ainda uma outra companhia independente voltada a prevenção à violência doméstica e proteção à mulher. Ela deverá ser comandada por uma major. O projeto acompanha iniciativas já adotadas em outros estados.
A unidade é considerada um passo importante no enfrentamento deste tipo de violência. Iniciativa que surge em um ano que tem sido violento para as mulheres. Já foram registrados 32 feminicídios e 61 tentativas, contra 35 e 78, respectivamente, no ano passado. Até o final de outubro também já tinham ocorridos 17.227 ocorrências de violência doméstica.
A gestão da companhia terá o desafio de reunir as ações de sucesso adotadas em outros pontos do país e que possam ser implantadas no Espírito Santo. Deverá funcionar, temporariamente, no Quartel do Comando Geral, em Maruípe.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.