Era 3 de março de 2007 quando o Espírito Santo foi surpreendido com a vinda para a carceragem da Polícia Federal de um dos traficantes mais perigosos do Brasil, o Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar. Com ele, no mesmo voo, retornava ao Estado um outro criminoso que havia sido enviado ao presídio federal de Catanduvas, no Paraná, acusado de participação em ataques e queimas de ônibus: Rogério Silva, o Rogerinho do Village, assassinado nesta quarta-feira (7) em uma rua de Cachoeiro.
Um ano antes, Beira-Mar havia praticamente inaugurado o novo modelo de segurança máxima sob gestão federal, no Paraná. Para lá também havia sido enviado, na mesma época, Rogerinho, apontado como um dos mandantes dos incêndios a ônibus na Grande Vitória.
Ele era ainda acusado de tráfico internacional de drogas — no que acabou sendo condenado —, além de ter sido responsabilizado pelo assassinato de uma testemunha do crime organizado no presídio de Cachoeiro, morte que teve repercussão no crime do juiz Alexandre Martins de Castro filho.
Um forte esquema de segurança foi organizado na ocasião para transportar os dois detentos do Aeroporto de Vitória para a sede da Polícia Federal, em Vila Velha, onde chegaram por volta da 0h30.
Foram transportados de Catanduvas para o Estado em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Beira-Mar veio acompanhar audiências dos processos em que era réu em uma cidade perto da divisa entre o Espírito do Santo e o Rio. Já o traficante capixaba Rogério Silva prestou depoimento à Justiça de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado.
Na ocasião, a informação era de que evitou-se voos separados por contenção de despesas. O custo da viagem foi orçado em cerca de R$ 34 mil.
A vinda de Beira-mar gerou protestos do governador à época, Paulo Hartung, que afirmou ter ficado sabendo pela imprensa e classificou a viagem como “absurda”. Já o superintendente da PF no Estado, Geraldo Dias Guimarães, afirmou que a Polícia Federal não era “babá de presos”.
No dia 6 de março, por volta das 8h50, os dois retornaram para Catanduvas. Foram levados ao aeroporto em um camburão da Polícia Federal, sob forte escolta: nove motos da Guarda Municipal de Vitória, três radiopatrulhas da Polícia Militar e quatro blazers da Federal, com homens fortemente armados.
O comboio passou pela Avenida Beira-Mar, que teve as principais vias interrompidas. O percurso foi de, aproximadamente, 20 minutos até o aeroporto e atraiu muita atenção. A interdição causou congestionamentos. O veículo que transportava Beira-Mar e Rogerinho entrou pela portaria do terminal de cargas e seguiu direto para a pista, onde o avião da PF já os aguardava.
Antes de saírem do camburão, o narcotraficante e Rogerinho passaram por exames de corpo de delito, feitos por uma médica do Departamento Médico Legal de Vitória. Após a liberação, os presos desceram do camburão e ajoelharam-se na pista para colocação das algemas e de um cinto de segurança.
No período em que esteve no Estado, a família de Rogerinho tentou visitá-lo na carceragem da PF. Uma das filhas reclamou que não conseguia informações sobre a situação dele. Confira abaixo alguns crimes em que se ele envolveu.
Transferência de Beira-Mar e Rogerinho para presídio federal
Vida na criminalidade
Por décadas Rogerinho comandou o tráfico em Cachoeiro e na Região Sul do Estado junto com vários membros de sua família — esposa, filhos, irmã, sobrinhos. A filha, Sayonara Moreira Lima, é considerada herdeira do crime e já figurou na lista dos mais procurados do Estado. O nome do traficante está ligado a diversos crimes. Confira alguns casos:
2002 - Assassinato do agricultor Manoel Corrêa da Silva Filho
Durante reconstituição do crime, Rogerinho assumiu a autoria do assassinato do agricultor Manoel Corrêa da Silva Filho, ocorrida 1h30 após ele ser transferido para o Presídio Monte Líbano, em Cachoeiro de Itapemirim, em novembro de 2002. Manoel era considerado uma das principais testemunhas do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) contra o coronel da reserva da Polícia Militar, Walter Gomes Ferreira.
Em janeiro do mesmo ano, ao ser preso em Cariacica, Manoel denunciou a participação do oficial em diversos crimes de homicídios, como mandante ou na intermediação. Disse ainda que ele estaria planejando a morte de autoridades policiais, juízes e promotores, indicando como “autoridades marcadas para morrer”. No ano seguinte, o juiz Alexandre Martins de Castro Filho foi assassinado e o coronel Ferreira foi um dos condenados pelo crime.
2005 - Toque de recolher
Mais de 5 mil pessoas que residiam no bairro Village da Luz, em Cachoeiro de Itapemirim, além da maioria dos estabelecimentos comerciais tiveram sua liberdade restrita por um toque de recolher imposto pelo tráfico. Por volta das 9 horas, os lojistas foram “convidados” a fechar as portas, devido à morte de uma antiga moradora do bairro, mãe de Rogerinho do Village. Creche e escolas fecharam.
2005 - Detido ao visitar esposa na cadeia
Após dez anos cumprindo pena, Rogerinho foi solto e preso no mês seguinte em operação da Polícia Civil em bairros de Cachoeiro. Ele era suspeito de mandar matar três jovens por dívidas de tráfico. A prisão ocorreu quando ele seguia para visitar a mulher, que estava na cadeia sob acusação de envolvimento com tráfico de drogas.
2006 - Ataques a ônibus
Mais de 15 ônibus foram incendiados em ataques ocorridos na Grande Vitória. A situação trouxe a Força Nacional de Segurança para o Estado. No final do ano, 15 das principais lideranças dos presídios capixabas considerados as mais articuladas com o crime organizado e com o tráfico de drogas — entre eles estava Rogerinho — foram transferidas para o Presídio Federal de Catanduvas. A cúpula da Segurança Pública estadual, na ocasião, apontou que eles ordenaram o ataque aos ônibus.
2007 - Condenações por tráfico internacional de drogas
Em outubro de 2007, a Justiça Federal condenou Rogerinho do Village a 18 anos e seis meses de prisão por tráfico internacional de drogas. Ele atuava na Região Sul do Estado e já havia sido condenado pelo crime em 2005.
Morte na rua
Rogério Silva, de 57 anos, foi assassinado a tiros no meio da rua, no bairro Rubem Braga, Cachoeiro de Itapemirim, Sul do Espírito Santo, na tarde desta quarta-feira (7).
Estava preso desde julho de 2010, condenado pelos crimes de homicídio e tráfico de drogas. Cumpria pena na unidade Semiaberta de Vila Velha, e recebeu o benefício da saída temporária nesta quarta-feira (7), pouco antes de ser morto. O crime e sua motivação ainda estão sendo investigados.
* Com o apoio do Centro de Documentação (Cedoc) de A Gazeta.
LEIA MAIS COLUNAS DE VILMARA FERNANDES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.