Desde 2017, está a pleno vapor, no Espírito Santo, o chamado “Projeto Político Militar”, fundado após a greve de policiais e bombeiros militares, sob coordenação do coronel Carlos Wagner Borges, diretor de Comunicação do Corpo de Bombeiros. O projeto tem como objetivo a eleição de candidatos filiados ao movimento – algo em que já tiveram considerável êxito na eleição de 2018 –, mas não só isso. Em conversa com a coluna, o coronel desconstrói alguns sensos comuns.
O primeiro deles: não há a menor subordinação ou atrelamento do projeto nem ao bolsonarismo nem ao PSL. Em tese, segundo ele, um representante do projeto pode se lançar candidato a vereador ou prefeito em 2020 por um partido de esquerda. Segundo: o projeto não pretende lançar apenas candidatos a prefeito oriundos de forças policiais.
Terceiro e mais importante: embora atores como Capitão Assumção (PSL), integrados ao projeto, tenham sido eleitos no ano passado, a visão de seus idealizadores para a segurança pública nada tem a ver com a lógica de que violência só se resolve com repressão.
Confira, abaixo, a entrevista completa do Coronel Wagner.
O que é, afinal, o Projeto Político Militar? O que vocês defendem?
Entendemos que segurança não se faz com tiro, pancada e bomba, mas com políticas públicas que compõem os ingredientes do sistema público: infraestrutura, saneamento básico, saúde, educação, lazer... Quando todos os ingredientes que compõem o Estado funcionam, nós temos segurança pública. Do contrário, vamos trabalhar a vida inteira na reação ao que gera insegurança pública, na linha do “tiro, pancada e bomba”. Acreditamos na segurança justa: segurança com justiça. Quando ela é adquirida através de uma excelente prestação de serviço pelo Estado, aí, sim, criamos uma sociedade segura.
Eleitoralmente, quais são os planos?
Planejamos colocar homens tanto militares como civis nos 78 municípios do Estado tanto no pleito de 2020 como nos demais que vão surgir. Isso tanto no Executivo como no Legislativo.
Qual será o perfil dos candidatos?
Queremos lançar pessoas que tenham a visão de que a segurança não se faz só com tiro, pancada e bomba e que tenham uma visão de que precisamos de todos os setores funcionando bem para termos uma sociedade segura e justa.
Vocês vão lançar só militares?
Não. Onde a gente não tenha ninguém com o nosso pensamento ou que seja competitivo, podemos lançar um civil, desde que siga o pensamento do projeto. Queremos fugir da ideologia político-partidária de quem promete e não entrega.
Então vocês não têm ligação com nenhum partido?
O projeto não tem partido nenhum. Não queremos ficar amarrados a ideologia partidária de um sistema político-partidário falido em nosso país. Entendemos que precisamos de um partido político para nos candidatarmos, portanto, vamos ter que concorrer por um partido. O Projeto Político Militar vai direcionar os partidos de acordo com a conjuntura em cada região. Não vamos ficar atrelados a ideologia partidária, de jeito nenhum. Quando ficamos atrelados, não conseguimos desenvolver os projetos que visam ao interesse da nossa sociedade. Mesmo que um candidato do projeto venha a estar dentro de um partido para concorrer, seguirá sendo independente. Não queremos a velha politicagem se aproveitando da força militar, principalmente neste momento em que as forças policiais estão em alta.
Coronel Wagner
Não queremos a velha politicagem se aproveitando da força militar, principalmente neste momento em que as forças policiais estão em alta.
Isso vale para o PSL?
Claro! Repito: nosso projeto é independente e não está alinhado a nenhum partido. O PSL é partido político. Nosso movimento é totalmente apartidário.
E se um membro do projeto quiser concorrer a vereador de Muqui, digamos, pelo PT ou pelo PCdoB?
Será analisado. Não tem impedimento, porque o projeto não tem ideologia partidária. Quando temos ideologia, de direita ou de esquerda, isso acaba influenciando nessa decisão. Mas o que buscamos é justamente fugir disso.
Mas o PSL incorporou vários políticos oriundos das forças militares. Logo, os militares não vão, naturalmente, optar pelo PSL?
Essa ligação de força que eles falam é mentirosa. Não existe isso. Hoje você tem, na Assembleia, o Quintino e o Assumção, que são PSL. Só que, antes de serem PSL, eles são Projeto Político Militar. Não tem essa de que o PSL vai indicar os candidatos do projeto, de jeito nenhum! Na Grande Vitória, para prefeitos, vamos indicar candidatos que não são PSL e que não são militares. Para vereador, só vamos indicar militares.
Coronel Wagner
Não tem essa de que o PSL vai indicar os candidatos do projeto, de jeito nenhum! Na Grande Vitória, para prefeitos, vamos indicar candidatos que não são PSL e que não são militares.
Mas o projeto é militar e, como é notório, dentro das forças militares, há muitos simpatizantes e apoiadores do presidente Bolsonaro, cujo partido é o PSL. Isso não leva o projeto a ser absorvido pelo PSL?
Se estivéssemos desorganizados, já teríamos sido engolidos pelo PSL. O PSL quer surfar na onda do presidente. Mas o presidente antes era PSC. Se o Bolsonaro tivesse sido eleito pelo PSC, estaríamos surfando pelo PSC. Não existe PSL, Podemos, PT, partido nenhum no Projeto Político Militar. Não permitiremos que isso ocorra. O que acontece é que nos tornamos objeto de desejo de partidos políticos hoje, por aquilo que representamos. Não queremos ser instrumento de ideologia para partido algum.
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