O Espírito Santo encerrou 2019 com uma marca digna de nota no trabalho de combate à violência urbana: menos de mil homicídios dolosos registrados no ano, o melhor índice da série histórica desde 1992. Por grupo de 100 mil habitantes, o índice caiu de 28, em 2018, para 24,3 homicídios. São dados, certamente, positivos. Por outro lado, quando fazemos um recorte mais recente e mais específico, outro dado preocupa e deve acender o sinal de alerta: no último bimestre de 2019, o número de assassinatos praticados no Estado superou o do último bimestre do ano anterior.
Em novembro e dezembro de 2018, foi cometido um total de 163 assassinatos no Estado. Nos mesmos meses de 2019, houve 183 assassinatos. Nesse recorte, comparando períodos idênticos, a alta, em relação a 2018, foi de 12,2%.
Em novembro de 2018, foram registrados 79 assassinatos no Espírito Santo, contra 98 em novembro de 2019. Já em dezembro de 2018, houve 84 homicídios dolosos. Em dezembro passado, foi registrado exatamente um a mais: 85 assassinatos.
Enquanto o resultado geral do ano é celebrado pelo governo, o dos últimos dois meses, em tese, pode indicar um princípio de retomada da curva de crescimento. Por isso, entrevistamos o secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Sá, especificamente sobre esses números. Confira:
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Secretário, os indicadores de homicídios dolosos verificados no último bimestre de 2019 representa uma preocupação para o governo e, principalmente, alguma mudança na estratégia de combate ao crime no Estado?
O ano tem sazonalidades, que são períodos com comportamentos um pouco diferentes, em razão de fatores externos, fatores que nós não dominamos. Posso citar alguns. Um deles é o aumento populacional no período de férias. Então é um fator externo, que aumenta a oportunidade e aumenta também a ocorrência de crimes. Eventualmente, períodos do ano que têm saídas de presos. Como, no Espírito Santo, essa relação da disputa do tráfico é feita de forma muito belicosa, então lamentavelmente alguns presos acabam saindo e morrendo, sendo vítimas por disputa de tráfico, ou às vezes cometem outros crimes. Então isso se incorpora na chamada sazonalidade. É olhar o ano com ele mesmo nos seus meses. Quando a gente compara o ano em curso com o ano anterior, a gente observa que, em 2019, houve redução em dez dos doze meses, na comparação com 2018. Então houve um acréscimo em novembro de 2019. E, em dezembro, até agora, os números consolidados dão conta de que houve um homicídio a mais do que em dezembro de 2018: 85 contra 84. Todos os meses, com todos os homicídios, sejam mais altos ou menores, sim, nos preocupam. E fazem com que a gente se debruce sobre o estudo do crime, sobre a dinâmica do crime e sobre estratégias para a redução. Agora, quando um mês realmente foge de uma certa normalidade, a gente procura investigar o que aconteceu e que medidas a gente pode adotar. A estratégia do Estado Presente é exatamente esta: diagnóstico, planejamento integrado, ação e monitoramento.
Vocês já definiram alguma mudança de estratégia, então, no caso, ou isso está em análise?
Há determinados grupos que, muitas das vezes, estão acomodados ou dispersos, e se reagrupam para começar a disputa territorial. Isso pode acontecer, obedecendo a alguma sazonalidade ou às vezes até naquele mês em que você menos espera. Isso foi identificado, foi combatido. Agora, o crime também se desloca, como mancha criminal. Há uma dinâmica. E a gente tenta monitorar com inteligência, para fazer a prevenção e se antecipar. E, quando não consegue, você identifica, investiga e estabelece estratégias. Isso vem sendo feito ao longo do ano. Viana é um exemplo desse deslocamento da mancha criminal. As mortes que aconteceram no início do ano no município, na verdade, as vítimas não eram de Viana. Elas eram de Serra, Vila Velha, Cariacica, mas buscaram se basear em Viana, em razão da disputa fora de Viana. E acabaram sendo vitimadas lá.
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