Falta de ação no cumprimento de um dever. Essa definição de omissão deixa claro o que é praticado, ou deixar de ser, pela Liga Espanhola de Futebol no caso de atos racistas contra jogadores de futebol. Além disso, o racismo é considerado crime de ódio na Espanha e prevê pena de um a quatro anos de cadeia, o que até hoje não foi aplicado a nenhum torcedor criminoso. Os três que foram detidos no caso recente com o brasileiro Vinícius Júnior já foram soltos.
Vamos mostrar o passo a passo dessa omissão que chegou a um ponto insustentável com o lamentável número de dez casos em três anos, todos direcionados ao atacante brasileiro que joga no Real Madrid.
Cabe algumas informações que deixam clara a falta de ação da Liga Espanhola, a famosa "Lá Liga", que na realidade não liga para o que realmente deveria.
Linha do tempo
- 1982: O lendário jogador camaronês Thomas N'kono, que jogava pelo Espanyol, time da Liga, foi chamado de Mono - macaco em espanhol - por todo o estádio do Zaragoza e nenhuma providência foi tomada.
- 2004: Samuel Eto'o foi chamado de macaco por torcedores do Getafe.
- 2005: Ronaldo Fenômeno e a mãe dele receberam ofensas racistas por parte da torcida do Málaga, e ele teve que ser substituído na partida.
- 2014: Os casos foram se multiplicando e um dos mais famosos aconteceu com Daniel Alves, quando torcedores do Villarreal atiraram bananas no campo de jogo em direção ao jogador, que se preparava para cobrar um tiro de canto.
- 2020: O ganês Inaki Williams foi chamado de macaco pela torcida do Espanhol quando jogava pelo Atlético de Bilbao.
- 2021: Vinícius Júnior, ofendido com atos racistas pela torcida do Barcelona.
- 2022: Vinícius Júnior é alvo de ofensas racistas pelas torcidas do Mallorca, do Atletico de Madrid e do Valladolid.
- 2023: Vinícius Júnior passou por mais seis casos de ofensas racistas, sendo o último a torcida do Valencia, quando o jogador não suportou mais e ao reagir, acabou sendo expulso de campo de forma ardilosa pela arbitragem, que omitiu imagens do ocorrido.
Com a reação do jogador, surgiram os discursos oportunistas sobre o caso. A Fifa, que deveria agir fortemente de cima para baixo, está apenas no discurso até o momento. A CBF, que já havia marcado um amistoso caça-níquel exatamente na Espanha contra a seleção da Guiné, quer transformar o amistoso em um oba-oba que ela está chamando de "marco" contra o racismo quando, na verdade, deveria cancelar o jogo em um sinal claro de protesto.
Em quase vinte anos atuando dentro de campo como árbitro, é verdade que eu já escutei de tudo, mas chegou a hora de um basta. Até porque desde 2019 a Fifa já deu a prerrogativa clara aos árbitros para agir nesses casos. O código disciplinar da entidade máxima do futebol mundial passou a prever ações em três etapas por parte da arbitragem.
- Adiamento do jogo se os atos racistas forem observados antes do jogo começar - o que foi o caso neste último episódio contra Vinícius Júnior;
- A suspensão temporária da partida se os casos ocorrerem durante o jogo - o que também ocorreu neste mesmo jogo;
- O encerramento da partida se os atos não cessarem após a suspensão temporária, inclusive decretando a derrota da equipe causadora do encerramento do jogo.
Como vimos, nada disso foi feito como deveria, o que configura omissão total da arbitragem e das autoridades esportivas. O que esperar das autoridades civis e criminais que reiteradamente arquivam casos semelhantes como os citados acima? Não dá para esperar mais nada. É hora de começar a agir como se deve em um caso desses. Com energia e firmeza. Ponto final.
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