A história de um padre folião se cruza com a da Novo Império para dar origem a uma das mais tradicionais cerimônias de pré-carnaval de Vitória. E se tem um "imperiano de fé" - com o perdão do trocadilho -, este é o padre Roberto Camillato, que há 24 anos realiza a bênção das bandeiras da escola.
Capixaba nascido na Vila Rubim, padre Roberto sempre foi afeito ao carnaval. Desde criança, tem recordações do antigo Império da Vila, escola anterior e que deu origem à Novo Império. Além disso, diz que vem de família o gosto pelo carnaval: pai, mãe e tios desfilavam, nos anos 1940, em bailes de máscaras de Vitória, e amigos no carnaval de rua.
Roberto Camillato
Padre
"É de família o 'ser' carnavalesco. Gosto, sim, do carnaval, que é a festa do povo, que se reúne num anseio popular de tradição e manifestação cultural a se afervorar com sadia e respeitosas atitudes comportamentais éticas e morais. É festa do coração de uma cultura também, e própria nossa. Eu sou do povo. Onde está o povo, eu quero estar junto"
Por 17 anos, padre Roberto foi pároco na Paróquia de Nossa Senhora da Providência, no bairro Morumbi, em São Paulo. Lá, frequentava os ensaios da Vai-Vai, tradicional escola de samba paulistana. Ele conta que, na última semana dos ensaios, havia uma bênção a toda a escola, antes dos desfiles. Camillato se tornou pároco do então Santuário de Santo Antônio em 2000 e, com aval da diretoria da Novo Império, instituiu em fevereiro do mesmo ano a bênção às bandeiras com a Missa no Santuário-Basílica.
Importante lembrar que o carnaval e o catolicismo têm uma relação de coexistência. A festa foi decretada no século XI pelo Papa Urbano II, como uma forma de "despedida da carne", antes de começar o período de sacrifício da Quaresma. Era a época de se esbaldar, cometer excessos, fazer galhofa, antes de iniciar os quarenta dias de jornada espiritual.
Padre Roberto assume que já recebeu críticas pela postura e pela cerimônia de benzimento às bandeiras. No entanto, lida bem com elas, pois tem a convicção de que o carnaval é uma festa de igualdade, de celebração e de alegria do povo.
Roberto Camillato
Padre
"Carnaval é festa neutra quanto a concepções religioso-desiguais. É festa onde todos (classes sociais, cor, religião, conectadas com a cultura popular-artística) se sentem e se postam como iguais. Não há 'festa-folia' tão própria em que todos se sentem iguais quanto o carnaval. Críticas sobre a minha interação e participação, eu já recebi, sim. De pessoas que não alcançam o sentido do se estar junto ao povo nas mais diversificadas manifestações com sadia postura, e até mesmo com as bênçãos que às bandeiras-pavilhões ocorrem se dar "
Embora apaixonado pela Novo Império, padre Roberto nunca desfilou pela escola. Esta oportunidade estava marcada para acontecer em 2022, quando foi realizado o enredo sobre Santo Antônio, padroeiro da comunidade, da agremiação e da cidade de Vitória. Mas o padre preferiu se guardar, já que o desfile aconteceu durante a quaresma. Porém, animado, afirma que acompanhará os desfiles direto do Sambão do Povo neste ano, onde volta e meia é visto durante os carnavais.
Roberto Camillato
Padre
"Eu nunca desfilei. Estava previsto eu desfilar com a Velha Guarda da Novo Império em 2022, no enredo sobre Santo Antônio. Mas, como aconteceram os desfiles na Quaresma, reservei-me por não participar. Estarei neste sábado, sim, em mesa de pista, presente que ganhei de amigos ligados à agremiação. Diz-se até que se eu não estiver lá, assistindo ao desfile, a Novo Império não se contenta e não se realiza (risos)"
A cerimônia de bênção das bandeiras da Novo Império acontece nesta terça-feira (30), a partir das 19h. Torcedores, desfilantes e componentes da escola se reúnem na quadra da escola, em Caratoíra, para o momento de fé. A celebração foi realizada até 2022 na Basílica, porém Camillato não é mais pároco de lá. Por isso, foi transferida para a quadra da escola.
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