Eram dias dormindo em cadeiras de praia, na calçada da Avenida Beira Mar, no Centro de Vitória. Os foliões chegavam a ficar mais de uma semana acampados. Era tanto convívio, tanta gente diferente, que dali saiam amizades, partidas de baralho e até churrascos comunitários. Tudo para garantir as entradas pro desfile das escolas de samba de Vitória.
Uma diferença enorme se pensarmos que, hoje, compramos os ingressos pela internet, no conforto das nossas casas. Volta e meia, no samba, alguém comenta: "Lembram de quando a gente dormia na fila para conseguir os ingressos?".
Para relembrar esse momento, e abrir a caixinha da memória de muitos sambistas, vasculhamos os arquivos de A Gazeta para saber quem eram os foliões animados que topavam enfrentar horas de fila e colocar familiares e conhecidos na espera para conseguir ainda mais ingressos.
O primeiro a comprar ingressos em 2008
Um dos primeiros registros dessa época é de Maurinho Carnaval, ex-mestre-sala da Unidos de Jucutuquara. Nem ele se lembrava de que tinha sido o primeiro a comprar ingressos de pista em 2008 - anos depois, ele confessa que preferia curtir o desfile das mesas de pista, que são os lugares mais disputados da avenida. Maurinho se lembra que chegou a organizar a fila e até a idealizar um esquema de senhas, para impedir a ação de furas-filas.
"Eu sempre fui muito fanático pelo carnaval e a família toda é envolvida no carnaval. Todo mundo queria mesa, camarote, queria um lugar na avenida. Eu sou fã de mesa porque você tá perto do desfile. O folião está passando e praticamente pega na mão dele. A fila começou a crescer, começou a dar confusão. Eu criei uma senha e fui distribuindo. Todo mundo respeitava aquela senha, todo mundo passou a me respeitar. Eu fui tipo um líder da fila do carnaval", brinca, lembrando da história.
Maurinho Carnaval
Ex-mestre-sala, foi o primeiro a comprar os ingressos de pista do Carnaval de Vitória em 2008
"Eu pegava um comerciante dali, falava: 'toma meu telefone, você vai fazer um favor pra mim. Quando você começar a ver que tem gente já querendo encostar pra fazer fila, você liga pra mim'. Aí ele ligava para mim, eu já descia de carro e botava três pessoas na fila, cada um pra comprar o número máximo de ingressos"
Até a família de Maurinho entrou no esquema. Ele conta que, certa vez, ele e mais três familiares conseguiram comprar um total de 40 ingressos. Toda a família foi pro Sambão do Povo. O empresário conta que também levava comida e fazia churrasco na fila.
"Eu levava o caminhão baú da minha empresa, a gente fazia churrasco, jogava baralho a noite toda. No outro dia o pessoal já estava levando carne também, virava uma festa maravilhosa. O bacana era o respeito da fila", enfatizou o ex-mestre-sala, que confessa que tem saudades da época.
Uma semana dormindo na fila
Era dezembro de 2010 e o folião Marcelino Loureiro já estava na fila para comprar o ingresso do Carnaval do ano seguinte! Foram várias as vezes em que ele dormiu na fila. Marcelino diz que já passou até uma semana acampado para conseguir as entradas.
"Juntávamos a família, os amigos e ficávamos às vezes até uma semana ali, concentrados para comprar aquelas benditas mesas e camarotes. Era muito legal, um clima muito familiar. Foram anos de amizade, com companheirismo, todos respeitavam a fila", conta o guia de turismo. Ele diz que, pela duração da fila e pela amizade que se formava naquela situação, já dava para sentir o clima de Carnaval.
Marcelino Loureiro
Folião ficou na fila em dezembro de 2010 para comprar ingressos pro Carnaval de 2011.
"Hoje o Carnaval de Vitória é uma potência. A gente compra os ingressos pelos sites de empresas credenciadas pela Liga. Mas o bom, mesmo, era ficar naquela fila. O Carnaval começava mais cedo ali. Ficávamos às vezes até uma semana consecutiva naquelas filas"
Ainda tem ingressos disponíveis
Como Marcelino disse, hoje a compra de ingressos ficou muito mais prática. Mas, nem por isso, menos concorrida. A menos de duas semanas dos desfiles, acabaram os camarotes e as (disputadas!) mesas de pista do sábado (11), dia do Grupo Especial.
Os ingressos que ainda restam estão sendo vendidos pelo site Brasil Ticket. Ainda tem alguns lugares nas mesas de pista para a sexta-feira (10), dia do Grupo A - de acesso. As mesas com quatro lugares custam R$ 500, mais taxa de conveniência.
Também tem ingressos de arquibancada, que custam R$ 70 na sexta-feira e R$ 90 para o sábado. Se comprar o passaporte para os dois dias, o valor fica em R$ 140. Todos os ingressos de arquibancada têm meia entrada.
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