
O incêndio que destruiu uma fábrica de fantasias no Rio de Janeiro na manhã desta quarta-feira (12) retoma o debate sobre as condições de trabalho dentro dos barracões e fábricas do carnaval. Pelo menos 21 funcionários se feriram, 10 em estado grave, e a maioria com queimaduras nas vias aéreas pela inalação de fumaça.
Nunca houve acontecimento parecido no Carnaval de Vitória, mas é importante que se abra a discussão sobre as condições de trabalho em toda arena de carnaval do país. Em Vitória, o debate gira em torno, principalmente, do terreno onde são construídos os carros alegóricos, anexo ao Parque Tancredão.
A fábrica que pegou fogo no Rio de Janeiro é um espaço terceirizado que presta serviço para pelo menos sete escolas de samba da Série Ouro, segunda divisão do carnaval carioca. Império Serrano, Unidos de Bangu e Unidos da Ponte concentravam toda a produção de fantasias naquele galpão. Porto da Pedra, União do Parque Acari, União da Ilha e Arranco também tinham parte da produção de fantasias na fábrica. Ainda não se sabe a dimensão dos prejuízos, nem a causa do acidente, mas existe a possibilidade de todo o material ter sido perdido.
O que nós temos a ver com isso
Enquanto consumidores do espetáculo e apaixonados por carnaval, nós nos comovemos e temos o dever de cobrar das autoridades a melhoria das condições de trabalho dentro das escolas de samba. A fabricação de fantasias e alegorias, pelo próprio intuito do espetáculo, é feita com materiais muito inflamáveis - espumas, colas, tintas - expondo os trabalhadores ao risco de incêndios.
Importante que seja enfatizado novamente: nunca houve no Carnaval de Vitória situação semelhante à do Rio. O ponto que queremos discutir, aqui, é a respeito da melhoria das estruturas, justamente para que continuemos sem ocorrências.

Por isso, a coluna entrou em contato com o presidente Edson Neto, da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial de Vitória (Liesge), na manhã desta quarta-feira (12), enquanto ele acompanhava uma vistoria do Conselho Regional de Engenharia do Espírito Santo (CREA-ES), que aconteceu tanto no terreno do Tancredão, quanto no Sambão do Povo.
"Disponibilizamos extintores de incêndio para cada uma das escolas de samba, para cada barracão. Do Grupo Especial ao Grupo de Acesso B, todo mundo tem o seu extintor no seu barracão. Temos parcerias com os órgãos competentes, Corpo de Bombeiros, governo do Estado, Crea, e pedimos que, de 15 dias em 15 dias, eles façam vistorias por lá. A instalação elétrica foi toda acompanhada por eles. Mas é fato: o sol está muito quente, tem chuva também. Existe o risco, mas durante esses anos todos, nunca tivemos incidentes como estes, graças a Deus", pontuou.
O sonho da Cidade do Samba
No Carnaval de Vitória, o principal ponto de atenção e de cobranças dos trabalhadores do samba é o terreno anexo ao Parque do Tancredão, próximo ao Sambão do Povo, onde são confeccionadas as alegorias das escolas dos grupos de acesso e de duas escolas do Grupo Especial - Novo Império e Imperatriz do Forte. A Jucutuquara produz as alegorias num terreno ao lado.
O sonho do sambista capixaba é ver esse terreno ser transformado na Cidade do Samba capixaba, o que daria mais conforto aos trabalhadores, muitos dos quais hoje trabalham ao relento, sob sol e chuva.
A construção é inspirada no complexo de mesmo nome que existe no Rio de Janeiro, onde os galpões abrigam as 14 escolas do Grupo Especial, e têm estrutura para a produção tanto de fantasias, quanto de carros alegóricos. Você viu em primeira mão aqui nesta coluna que a primeira promessa foi feita em janeiro do ano passado. Em julho, foi apresentado o projeto 3D, e a promessa é de que as obras comecem logo após o carnaval deste ano.
Liesge mantém o prazo e reforça compromisso
O presidente da Liesge declarou à coluna que o prazo se mantém, e que as obras da Cidade do Samba capixaba devem começar logo após os desfiles deste ano.

Edson Neto
presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial de Vitória (Liesge)
"Hoje, dependemos do andamento da Prefeitura de Vitória, são questões burocráticas a serem seguidas. Uma empresa já foi lá onde estão confeccionando os carros alegóricos e fez furos no solo para avaliar o peso e instalar os galpões, onde vai ser possível fazer a cobertura. A promessa que foi feita pra gente é de que, no dia do desfile, nós teremos a licitação da obra da Cidade do Samba"
Edson Neto
presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial de Vitória (Liesge)
"Vamos ficar no pé e pressionar, porque o Carnaval de Vitória está escasso de espaço. Hoje, cinco escolas do Grupo Especial gastam dinheiro alugando barracões, o que não será mais preciso com a entrega da Cidade do Samba. A Cidade do Samba não é um luxo, é uma necessidade, que dá mais conforto aos trabalhadores e reduz os riscos da exposição a materiais inflamáveis. Ganham a organização e ganham os trabalhadores, com mais dignidade, já que hoje trabalham debaixo de sol e chuva. A Cidade do Samba é uma necessidade do nosso carnaval, é o passo que falta para a profissionalização."
Procurada pela reportagem para tratar do assunto, a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação informou, em nota, que o projeto da Cidade do Samba deverá ser finalizado no primeiro semestre deste ano. "É importante destacar que o planejamento foi fruto de um diálogo extenso com as escolas de samba, garantindo a participação ativa de todas na definição dos detalhes."
A Cidade do Samba atenderá, segundo a administração municipal, à demanda logística do desfile das escolas de samba de Vitória, oferecendo uma infraestrutura moderna em um espaço de 16 mil m².
O projeto inclui dois galpões que abrigarão sete barracões destinados às escolas do Grupo Especial, onde serão confeccionados adereços, alegorias e montados os carros alegóricos.
"Além disso, o espaço contará com diversas instalações para uso coletivo, como uma praça de eventos, sede administrativa, pet park, parque kids, estacionamento, quiosque com rooftop e uma orla urbanizada com deck, atracadouro para embarcações e arquibancadas alagáveis. Essa obra é uma ação do Projeto Vitória de Frente para o Mar", conclui a secretaria, na nota.
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