Curso de Residencia
ArcelorMittal Tubarão
Os caminhos percorridos por Mônica tiveram por base o exemplo do pai. Estudo, disciplina, processos seletivos e trabalho conduziram-na à área industrial, uma história que virou espelho para a nova geração da família – a sobrinha de 7 anos pensa em seguir os passos da tia.
Na trilha de Fernanda, hoje gerente, o desejo de abraçar uma carreira sólida nasceu na adolescência, quando atuava como menor aprendiz e via metalúrgicos em atividade.
Para Rubiana, tudo começou no laboratório, nas bancadas cercadas por recipientes de produtos químicos. Ao longo dos anos, naquele mesmo espaço, a experiência e os experimentos resultaram em avanços: de laboratorista a técnica e, mais tarde, a supervisora.
Três mulheres, uma “matéria-prima” em comum nos relatos. O “espelho” que reflete a imagem profissional de Mônica para a sobrinha, a trilha que encaminhou Fernanda e a química que deu a fórmula para a carreira de Rubiana vieram do aço, mais precisamente da indústria do aço.
É no setor siderúrgico que elas encontraram a oportunidade para conquistas, numa área ainda majoritariamente masculina que emprega 120 mil pessoas no país, segundo dados do Instituto Aço Brasil.
Tradicionalmente, trata-se de um campo com trabalhos divididos em turnos. O preconceito evidenciava-se quando o pensamento, sobretudo no meio operacional, era o de que equipamentos e máquinas são mais bem manuseados por homens. Quebrar esse estigma foi desafiador, mas vem se mostrando cada vez mais viável e compensador a partir de ações de conscientização e incentivo.
Conheça a seguir estas três histórias, alinhadas a iniciativas que promovem diversidade e inclusão no trabalho, impulsionando, ainda, a ocupação feminina em cargos de liderança.
Mônica Diniz Barcelos, de 37 anos, operadora de dessulfuração, cultivou, ainda criança, o sonho de trabalhar e se destacar na área industrial. O primeiro e maior exemplo veio de casa, com uma memorável imagem de infância: a satisfação do pai por poder exercer um ofício nessa atividade. “Então, me espelhei muito nele.”
Em 2007, Mônica conquistou uma vaga na ArcelorMittal Tubarão, integrando a primeira turma de mulheres maquinistas da empresa, como operadora trainee ferroviária.
Os estudos também contribuíram para o encorajamento e o empoderamento no decorrer desses 15 anos. Formada em técnica em Transportes, ela também cursou Letras enquanto já estava empregada na siderurgia e concluiu MBA em Gestão de Pessoas.
Os degraus da escada metálica que sobe hoje ao entrar no turno levam-na a uma sala de controle na Aciaria, equipada por monitores e painéis. Lá a profissional faz parte de um time que tem, entre outras funções, avaliar e reduzir o teor de enxofre na panela de ferro-gusa – vinda dos altos-fornos – para garantir a boa qualidade do aço.
Para Mônica, estar nesse lugar também significa inspirar outras mulheres de diferentes gerações, como a sobrinha de 7 anos. “Alimentei meu sonho. Confirmo que a escolha foi mais que certa quando a vejo dizendo: ‘Dindinha, quando eu crescer, quero trabalhar lá, assim como você e meu pai’”.
A engenheira metalúrgica Fernanda Aparecida Silva, 39, deu seus primeiros passos profissionais há 24 anos. “Não foi um sonho que veio do meu pai. Mas ele é metalúrgico, trabalhou muito tempo em uma empresa que atua com fundição de peças. A metalurgia já estava no sangue desde cedo”, destaca.
Com 15 anos, Fernanda foi contratada como menor aprendiz na Unidade de Tubarão e, por admirar a equipe de engenharia que lá atuava, pensou: "É aqui que eu quero trabalhar". "Admirava demais os engenheiros porque eles sempre foram muito respeitados pela bagagem técnica e pela resolução de problemas. O meu sonho foi então ser engenheira."
Naquele momento, a então adolescente despertou-se para a carreira técnica e retornou à empresa com 18 anos, como auxiliar. Consolidou caminhos e se apaixonou por trabalhar com gente. Lançou-se, então, para um novo desafio: assumir cargos de liderança. “Queria olhar para as pessoas e fazer com que elas pudessem sonhar e entregar o seu melhor”, complementa.
Há cinco anos, ela se tornou gerente de Planejamento de Oficinas. Ao lado de outros três gerentes, lidera há cinco meses 212 colaboradores diretos e 855 terceirizados. “São mil vidas para a gente transformar todos os dias nos melhores profissionais que essa área pode ter.”
A palavra que define seu percurso também é “orgulho”, sobretudo ao rever o início.
Fernanda defende que ocupar um cargo de chefia em um campo antes visto como masculinizado é importante para estimular outras mulheres. Acredita que o olhar feminino, humanizado e focado nas pessoas, pode agregar à área siderúrgica.
Rubiana Brandão, 40 anos, é supervisora do Laboratório de Meio Ambiente. Sua carreira foi totalmente concretizada no mesmo laboratório em que trabalha hoje. De laboratorista, passou para técnica e, depois, chegou ao cargo de supervisora. Foi uma das primeiras mulheres a ocupar um posto de liderança na ArcelorMittal Tubarão.
Durante algum tempo, acrescenta, as pessoas estranhavam o fato de ela estar em um lugar de comando. No entanto, não encontrou objeções ao assumir a função . “Nossa cultura é de valorizar as pratas da casa, independentemente se for mulher ou homem”, afirma.
O sentimento também é de missão cumprida pelo pioneirismo empreendido. Para iniciar seu caminho, inspirou-se em uma amiga que também estava à frente de uma equipe. Hoje, Rubiana também é referência para outras mulheres do seu time.
Para ela, as dificuldades maiores ocorrem fora do ambiente de trabalho, com as obrigações de ser mãe, dona de casa e esposa. “A gente sabe que, culturalmente, essas cargas ficam mais para a mulher. A gente consegue conciliar. Existe uma força dentro de nós que faz com que isso não seja um obstáculo.”
Por isso, a supervisora acredita que a contratação de mulheres como líderes quebra paradigmas.
As histórias de Mônica, Fernanda e Rubiana são marcadas por conquistas e aproveitamento de oportunidades, mas ainda estão longe de representar um quadro ideal de igualdade e ocupação no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), apenas 37,4% dos cargos de liderança são preenchidos por mulheres. O levantamento, de 2019, aponta que somente 54,5% das mulheres brasileiras com 15 anos ou mais estavam ativas no mercado de trabalho.
No caso da ArcelorMittal, o número de mulheres dentro da empresa vem crescendo desde 2017, mas foi a criação de um Programa de Diversidade e Inclusão, em 2019, que impulsionou o movimento.
“Quando começamos o programa, já percebíamos um aumento tímido. Tínhamos 8,1% de mulheres, em 2017, depois 8,15%, 8,30%. As coisas foram crescendo e hoje temos 13%”, afirma Rodrigo Gama, gerente-geral de Pessoas, Saúde e Segurança.
Ele e as analistas de Diversidade e Inclusão Bianca Silva Santos e Alba Valéria Rosário são responsáveis por conduzirem o programa. “Queremos não só aumentar a diversidade na empresa, mas também dar todas as condições: as estruturas físicas, a segurança psicológica, um ambiente de trabalho receptivo”, completa Gama.
A empresa anunciou, em 2021, a meta de registrar 25% de participação de mulheres em cargos de liderança até 2030. Atualmente, a Unidade de Tubarão já atingiu 17%. Para os três colaboradores, abraçar, dentro da companhia, a diversidade presente na sociedade é uma evolução.
“Quando pensamos em evolução, conseguimos perceber que as mulheres estão presentes desde a base da empresa até os altos cargos de liderança. Como mulher, para mim é muito importante ver essa representatividade feminina em qualquer cargo da empresa”, explica Bianca.
Alba Valéria acrescenta: “Acreditamos numa mudança que seja sustentável. Não queremos mulheres a qualquer custo. Queremos que esse aumento seja gradativo, que cresça a quantidade de mulheres, que haja mais mulheres na linha de sucessão e que isso se torne um processo natural”.
Este conteúdo de marca foi produzido pelos alunos do 25º Curso de Residência em Jornalismo como parte do projeto Residente Sombra, uma das atividades inseridas nesta edição 2022 do programa. O trabalho teve a orientação da editora Andréia Pegoretti.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta