Na madrugada de 5 de agosto, enquanto Tóquio ainda acordava, um vento gelado de incerteza já soprava pelos corredores financeiros do mundo. Em questão de horas, o que parecia ser um início de semana comum transformou-se em um verdadeiro furacão de aversão ao risco, arrastando bolsas de valores de Tóquio a Nova York para um terreno desconhecido. O índice Nikkei da bolsa japonesa registrou uma queda histórica de mais de 12%, a maior já registrada, evocando memórias sombrias da "Black Monday" de 1987 nos EUA.
No epicentro desse turbilhão, investidores de todos os cantos do planeta tentavam entender o que havia desencadeado tamanha tempestade, mas as respostas pareciam tão evasivas quanto a estabilidade que tanto ansiavam. O índice de volatilidade VIX, conhecido como o "termômetro do medo" de Wall Street, saltou 112%, atingindo seu nível mais alto desde o pico da pandemia em 2020.
Embora seja difícil apontar uma única razão para o pânico generalizado, alguns fatores específicos podem ter contribuído para essa volatilidade extrema:
• Tensões geopolíticas no Oriente Médio: A possibilidade de um aumento nas tensões geopolíticas na região do Oriente Médio gerou incertezas adicionais, alimentando a volatilidade dos mercados.
• Possível desaceleração da economia americana: Dados recentes sobre o mercado de trabalho dos EUA sugerem uma possível desaceleração econômica mais acentuada. O medo de uma recessão mais forte nos Estados Unidos alimentou o pessimismo entre os investidores.
• Realização de lucros no setor de tecnologia: Após um ano de fortes ganhos, os investidores podem estar realizando lucros em ações de tecnologia, especialmente devido às avaliações elevadas. Esse movimento contribuiu para o aumento da aversão ao risco.
• Redução da exposição de Warren Buffett: A notícia de que Warren Buffett, um dos investidores mais respeitados do mundo, reduziu significativamente sua exposição a algumas de suas principais posições também gerou preocupação entre os investidores, que passaram a questionar a relação risco-retorno dos ativos.
• Alta das taxas de juros no Japão: A elevação das taxas de juros no Japão pode estar desencorajando operações de carry trade (veja abaixo), fortalecendo o iene e prejudicando as empresas japonesas que dependem fortemente de exportações. O iene valorizou-se 14% em relação ao dólar nas últimas três semanas, pressionando ainda mais o mercado.
O carry trade, uma estratégia de investimento menos conhecida, consiste em tomar empréstimos em uma moeda com juros baixos para investir em ativos denominados em outra moeda que oferece juros mais altos. A ideia é lucrar com a diferença entre as taxas de juros. No caso do Japão, onde a taxa de juros é historicamente baixa e já foi até negativa, os investidores são incentivados a tomar empréstimos em ienes — atualmente com uma taxa de 0,25% ao ano — para investir em moedas de países com juros mais altos, como o real brasileiro. No entanto, se o iene se valoriza, como aconteceu recentemente, o custo de devolver o empréstimo em ienes aumenta, fazendo com que os investidores dessa estratégia encerrem suas posições com perdas.
A combinação desses fatores resultou em uma queda acentuada nos mercados, refletindo o medo de uma recessão global iminente. No entanto, o movimento atual exige cautela por parte dos investidores. Embora o pânico seja compreensível, as reações do mercado parecem exageradas diante das incertezas atuais, especialmente em relação à possível recessão nos EUA, que foi desencadeada por apenas um indicador. A história mostra que a economia americana já enfrentou inúmeras recessões, e o dólar continua sendo a principal moeda de reserva de valor global. Portanto, é fundamental avaliar cuidadosamente os movimentos do mercado, pois surgem muitas oportunidades em meio à volatilidade.
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