Vivemos em um tempo em que muitos casais, ao terem filhos, priorizam a construção de um legado material, como heranças, uma sólida provisão financeira e uma boa formação acadêmica. No entanto, frequentemente, esquecem de preparar os próprios filhos para se tornarem o verdadeiro sucessor do legado. De nada adianta deixar uma fortuna para um herdeiro despreparado, pois, sem maturidade, responsabilidade e caráter, ele dificilmente fará bom uso daquilo que seus pais lutaram a vida inteira para conquistar. A diferença é clara: herdeiro é quem recebe os bens por direito; sucessor é quem de fato vai conduzir o legado com sabedoria.
Existem exemplos claros de sucessões que deram muito errado, como a disputa entre os herdeiros de Elvis Presley, que quase levou a mansão Graceland à falência. Em contrapartida, o legado de Walt Disney foi cuidadosamente planejado, permitindo que sua empresa prosperasse por gerações. Falar sobre morte, herança e o futuro pode ser desconfortável, mas é necessário. Famílias que tratam desse tema com franqueza, compartilhando preocupações, desejos e expectativas, tendem a reduzir significativamente as chances de conflitos.
Quando ouvimos falar em planejamento sucessório, a primeira coisa que vem à mente, geralmente, são grandes fortunas e estruturas complexas. Mas, a verdade é que, planejar a sucessão nada mais é que uma organização antecipada da transferência de bens e responsabilidades para os herdeiros, visando garantir que o patrimônio de uma pessoa seja distribuído de forma eficiente e sem conflitos após sua morte. Esse processo envolve estratégias que buscam evitar disputas familiares, reduzir impostos e proteger os interesses de todos os envolvidos, independentemente do tamanho do patrimônio.
Planejar a sucessão ganhou ainda mais relevância com a proposta da reforma tributária, que sugere o aumento das alíquotas do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação) para até 8%. Esse cenário está fazendo com que cada vez mais famílias busquem alternativas para proteger seu patrimônio e facilitar a sucessão dos bens. Por esse viés, tal conscientização é positiva, pois alerta as famílias para a importância de se planejar com antecedência. No entanto, há um risco crescente: muitos profissionais estão "vendendo" soluções rápidas e pontuais como se o processo fosse muito simples e padrão.
A constituição de uma holding familiar, por exemplo, é apenas uma das etapas da organização patrimonial, existem várias estratégias disponíveis para dar complementação ao processo, como testamentos, doações em vida, previdência privada, seguros de vida e até fundos de investimento específicos. Além disso, o processo sucessório envolve profissionais que vão além dos advogados e contadores. A inclusão de um planejador financeiro, por exemplo, é de extrema importância para garantir o bem-estar financeiro das próximas gerações e a manutenção do patrimônio ao longo do tempo. Muitas vezes, psicólogos também são chamados para ajudar a lidar com as emoções que vêm à tona nessas conversas.
Dependendo da complexidade do processo, o trabalho pode incluir todos esses profissionais e várias estratégias, e essas abordagens simplificadas podem deixar lacunas importantes, já que o planejamento sucessório é um processo personalizado para cada família, que exige uma análise cuidadosa de todo o patrimônio e das relações familiares, para assim, saber escolher as soluções mais adequadas e mais eficientes.
No final, constituir uma holding ou comprar uma apólice de seguro de vida são só exemplos de estratégias que complementam o processo, o que realmente importa é proteger não apenas os bens materiais, mas também os laços familiares e o sustento da família. O planejamento sucessório bem-feito é aquele que não só preserva o patrimônio, mas garante a paz e a união entre aqueles que continuarão o legado da família.
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