O mercado financeiro é cíclico, temos os períodos que se sucedem de altas e baixas, na bolsa e nos juros. Em geral, quando os juros estão em alta, vemos a bolsa em queda e vice-versa, o que é natural, visto que uma renda fixa mais atrativa vai diminuir o ímpeto do investidor em buscar ativos de risco — e isso tem se intensificado no Brasil nos últimos meses.
No ano passado, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos de ações sofreram resgates de R$ 27,1 bilhões. Motivados por uma Selic que voltou aos dois dígitos, investidores locais que haviam entrado forte na bolsa entre 2019 e 2020, resolveram sacar suas posições e correr para os juros, que finalmente voltavam a oferecer o tão almejado 1% a.m.
Este ano, com as tensões que se instalaram após as eleições, aliadas às incertezas no mundo, com a possibilidade de uma crise bancária se instalar na Europa e Estados Unidos, o movimento se intensificou. Em menos de três meses, já temos R$ 21 bilhões em resgates processados. À medida que o tempo passa, o investidor que entrou na Bolsa lá atrás vai sendo tomado pela angústia de não ver os seus recursos valorizarem e joga a toalha, engrossando a fila de resgates, realizados, muitas vezes, com prejuízos significativos. Muitos devem estar hoje falando: "Bolsa nunca mais!"
Esse fluxo negativo na Bolsa faz com que os preços das ações de diversas companhias com bons fundamentos apresentem quedas muito fortes no ano, gerando boas oportunidades para o momento, mas, infelizmente, como ser humanos, não estamos programados para sermos vencedores no mercado financeiro.
Seguimos a manada e nos deixamos tomar pelo medo de “perder a festa” e só entramos com força em aplicações de risco quando elas já valorizaram muito e já não têm mais tanto a entregar. Aconteceu com o bitcoin, acontece com a Bolsa e, quando temos empresas negociando a preços descontados, como agora, somos impulsionados a correr para o retorno garantido da renda fixa.
Eu não sei se a Bolsa vai voltar a subir semana que vem, mês que vem ou ano que vem, mas sei que, cedo ou tarde, o ciclo mudará e verificaremos fortes altas na maioria das ações e, então, o fluxo se inverterá com os fundos de ações recebendo depósitos cada vez maiores por parte dos investidores comuns, que, mais uma vez, entrarão atrasados.
O bom portfólio de investimentos não procura acertar timings de entrada. Já está provado que é quase impossível ao investidor comum ter retornos acima da média tentando acertar topos e fundos. Uma carteira diversificada deverá ter renda fixa, fundos multimercados, fundos imobiliários e ações ou fundos de ações.
André Motta
Assessor de investimentos da Valor Investimentos
"Momentos como o presente exigem sangue frio para se reduzir as posições mais conservadoras e aumentar as posições em renda variável. Quando o ciclo virar, vai valer a pena"
Os resultados divulgados pelas companhias na temporada de balanços que agora se encerra, mostrou muitas empresas em situação confortável, capitalizadas e pagando excelentes dividendos. Um levantamento que fiz na base de dados economática mostrou que, na mediana, hoje, temos um nível de dividendos mais de 50% superior ao que era pago pelas companhias em 2018, ou seja, é uma ótima oportunidade de se montar uma carteira com foco em renda de longo prazo.
Abaixo, trago para vocês 5 ações que a casa de análises Lumi Research recomenda em sua carteira com foco em dividendos:
- Vale
- Banco do Brasil
- Gerdau
- Klabin
- Banrisul
Procure uma orientação adequada, não faça aventuras, como comprar ações de companhias em recuperação judicial ou com dívidas elevadas, compre de forma parcial companhias sólidas e com boas perspectivas de pagamento de dividendos e, mensalmente, acumule mais ações. Em alguns anos, você verá que o retorno auferido foi maior do que se você tivesse aplicado em um fundo de renda fixa.
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