Neste fim de semana, ao apresentar o desempenho excepcional das ações da Magazine Luiza entre o período compreendido entre dezembro de 2015 e dezembro de 2020, quando estas se valorizaram 675 vezes, causei espanto para a toda a turma de MBA, para quem eu ministrava aula. Afinal, 675x é algo quase surreal. Quem tivesse investido R$ 10.000 nas ações teria saído com R$ 6,75 milhões.
É claro que apresento esse exemplo para causar um impacto e mostrar a assimetria do investimento em ações, no qual você pode perder no máximo 100% do valor investido, mas, por outro lado, pode ver seu capital ser multiplicado por 10, 15 ou 20 vezes. Você não precisa acertar em todas as operações; acertando algumas poucas, seu resultado já seria muito superior ao da renda fixa.
No entanto, temos um problema! Nosso cérebro não está programado para obter ganhos expressivos como o apresentado pelas ações da Magazine Luiza. Carregamos vieses comportamentais diversos que trabalham a todo momento contra mantermos uma posição vencedora. Você deve lembrar do ditado: mais vale um pássaro na mão do que dois voando.
Sim, ele faz muito sentido. Possuímos uma forte aversão a perdas e, ao ver uma ação valorizar-se significativamente, ficamos tentados a vendê-la e “salvar” o lucro, principalmente se ela começar a devolver parte do lucro auferido. Logo, para quem começou com R$ 10.000, manter, por exemplo, R$ 500.000 em apenas uma única ação seria quase impossível. A grande maioria dos investidores comuns já teria vendido suas ações bem antes disso.
Esses vieses comportamentais são fruto dos estudos de Finanças Comportamentais iniciados por Daniel Kahneman e Amos Tversky, o que rendeu um prêmio Nobel de Economia para o primeiro. Conhecê-lo e, dentro do possível, enfrentá-los é o grande desafio do investidor comum. Eu ousaria dizer que escolher uma boa ação para comprar é até relativamente fácil, quando comparado ao desafio de lidar com nossas limitações comportamentais. Listo abaixo alguns dos principais vieses comportamentais estudados:
• Viés de Aversão à Perda: Tendência de evitar perdas, levando a decisões conservadoras e menos arriscadas. Vendemos posições vencedoras e mantemos posições perdedoras.
• Viés de Disponibilidade: Avaliar a probabilidade de um evento com base em exemplos recentes ou informações facilmente acessíveis. Nossa memória do passado recente supera com folga as memórias do passado mais distante.
• Viés de Ancoragem: Ser influenciado por informações iniciais ao tomar decisões, mesmo que sejam irrelevantes. Principal exemplo aqui é do investidor que se recusa a vender uma ação abaixo do preço que a comprou, mesmo sabendo que os fundamentos da companhia em questão pioraram muito e que a realidade agora é outra.
• Heurística da Representatividade: Basear decisões em estereótipos ou similaridades, ignorando dados estatísticos mais relevantes. Se alguém próximo ganhou dinheiro com determinada estratégia, é o suficiente para assumir que esta estratégia é vencedora em qualquer cenário.
• Viés de Superconfiança: Tendência de superestimar as próprias habilidades e conhecimentos, levando a decisões excessivamente otimistas. Somos otimistas por natureza e minimizamos os riscos negativos que se apresentam em nossas análises.
Esses não são os únicos, há outros. A ideia aqui é apenas introduzir o tema, visto que muitas pessoas dedicam muitas horas de estudos, fazem diversos cursos, com o objetivo de aprimorar-se tecnicamente no tema Finanças e deixam de lado a parte comportamental, que é tão ou mais importante que a parte técnica.
O melhor caminho para o sucesso neste caso é o autoconhecimento. Ao operar respeitando nossas limitações, com posições adequadas ao que suportamos de risco, a riqueza virá com o tempo; no entanto, a pressa por ela pode fazer com que ela nunca seja alcançada.
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