Desde que Sérgio Rial anunciou ter encontrado “inconsistência contábeis” de R$ 20 bilhões nos balanços das Americanas, o interesse por suas ações pelo investidor pessoa física disparou. A forte queda das ações despertou aquele gostinho de “oportunidade”, afinal, elas já caíram 90% desde que o escândalo estourou e qualquer leve recuperação pode proporcionar retornos na casa dos 3 dígitos. Esse raciocínio está correto, porém ele está muito mais relacionado à prática de um jogo de azar do que com o mundo dos investimentos.
Operar a volatilidade do mercado de ações, apenas na crença, no desejo, de que o futuro será aquele que se quer, é um dos maiores erros da pessoa física que se aventura na Bolsa, em geral, não em busca da construção de um portfólio de crescimento patrimonial de longo prazo, mas, sim, de atalhos que lhe permitam obter grandes retornos em curto espaço de tempo. Há uma passagem famosa de Warren Buffet, que uma vez foi perguntado: "Seu método é tão simples, por que outros não o replicam?" E a resposta dele foi: “Porque ninguém quer ficar rico devagar”.
Essa pressa resulta em milhões perdidos ao longo dos anos em esquemas fraudulentos e pirâmides. Todos anseiam por uma oportunidade, pelo pote de ouro ao fim do arco-íris, e se iludem com promessas falsas de retornos elevados. Se te oferecerem retornos de 2% todos os meses — pouco mais de duas vezes o que pagam os títulos do Tesouro Selic hoje, com liquidez e consistência —, desconfie! A chance de perda de 100% do seu capital será real. É impossível obter 2% ao mês? De jeito nenhum, mas não de maneira uniforme e consistente, sem volatilidade, isso é inviável a longo prazo.
Muitos usam de produtos complexos e com certo charme, como os criptoativos, para gerar narrativas de que encontraram a fórmula mágica de fazer dinheiro, para atrair milhares dispostos a arriscar sua poupança em promessas milagrosas, captam muito e depois desaparecem ou são presos, e o dinheiro vai para o ralo.
O poder dos juros compostos em prazos mais longos é incrível, com nossa taxa atual de juros é possível, em 15 anos, multiplicar por quase 7 vezes o capital investido com pouco risco, com uma boa carteira de ações talvez seja possível multiplicar por 15 vezes, alguns fundos já entregaram retornos assim no passado, porém como podem verificar isto leva tempo, demanda paciência, haverá períodos muito bons e períodos ruins, como o que atravessamos nos últimos 2 anos. Não será com uma renda fixa turbinada de curto prazo que se fará fortuna pois infelizmente ela não existe.
Sobre as ações da Americanas, se são um bom negócio ou não? A reposta mais honesta é: não sei. Há variáveis diversas em aberto que podem fazer com que a companhia siga em frente ou mesmo desapareça, mas é certo que ela não recuperará todos os 90% do valor que perdeu.
Se comprando nos preços atuais se terá um bom lucro ou não, é uma questão de sorte, porque, racionalmente, hoje ninguém pode afirmar o que acontecerá no futuro com nossa tradicional varejista, mas, infelizmente, nas redes sociais, as especulações seguem em alta, com muitos se aventurando e aplicando valores altos na compra das ações sem qualquer base técnica para isso. E se a companhia seguir o mesmo caminho das empresas X? ou da Oi e tantas outras que ficaram pelo caminho?
Acho que todos da minha geração possuem um carinho especial pelas “Lojas Americanas”. Vaminhar pelo centro de Vitória, comer um X-búrger em sua lanchonete e comprar balas e chocolates a granel era o programa preferido de muitas crianças, dentre as quais me incluo, e é com tristeza que venho acompanhando seu calvário atual. Torço pela sua sobrevivência e recuperação.
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