Em entrevista recente, Bruno Serra, gestor da Itaú Asset, defendeu que no terceiro trimestre deste ano podemos ver o dólar atingir o patamar de R$ 4,20. Ele deixa claro que o número é um chute, mas que os fundamentos para uma queda forte do dólar estão presentes. Quais seriam eles?
Nós vivemos um período inédito de juros baixos entre 2018 e 2020. Isso fez com que o principal produto exportado pelo Brasil, o que na nossa história recente mais atraiu dólares para cá, a nossa renda fixa, perdesse atratividade. Junto disso, empresas importantes brasileiras, que possuíam grandes dívidas em dólares como a Petrobras, aproveitaram este período para reduzi-las, evitando assim a internação dos dólares de suas exportações. Isto fez com que o real se desvalorizasse e atingisse patamares próximos a R$ 6,00 nos últimos anos.
No entanto, essa dinâmica se mostra bem diferente para 2024. Nosso diferencial de juros está alto, nossa inflação relativamente sob controle, nosso Banco Central vem se mostrando conservador no ritmo de queda da taxa Selic, o que deve manter nossa renda fixa bem atrativa ao longo do ano. Além disso, temos um boom de exportações, safra recorde, cotação do minério de ferro em alta e principalmente petróleo. O aumento de produção em curso vai aumentar de forma significativa nossas exportações do ouro negro e isso se traduzirá em uma forte entrada de dólares no país. E, agora, diferente dos anos passados, não há mais empresas exportadoras retendo suas remessas para pagamento de dívida.
Todos os motivos expostos por Bruno Serra parecem fazer sentido. Quem seria o comprador de tantos dólares aqui no Brasil? Os estrangeiros retirando recursos do país, num cenário de juros estáveis ou em queda nos Estados Unidos? Não faz sentido. Isto só aconteceria se o governo metesse os pés pelas mãos nas contas públicas, não me parece provável. A única entidade que consigo pensar seria o Banco Central, porém não consigo visualizar uma motivação forte para isto, pelo contrário um câmbio apreciado é benéfico para inflação e nos permitirá uma taxa Selic mais baixa.
A realidade é que prever o patamar do dólar é algo que nenhum economista ousa, isso já se mostrou por demais complexo. No entanto, temos motivos para entender que a dinâmica do câmbio hoje é outra, com mais motivos para uma queda da moeda americana do que para uma alta. Estamos todos presos ao viés da ancoragem do passado recente, de inflação e taxas de juros em alta, um real depreciado e uma bolsa barata, que não sobe. Acredito que isso tem mantido as expectativas pessimistas no momento e que, com o passar dos meses, começará a mudar.
Podemos sim ver uma taxa Selic abaixo dos 9%, com inflação próxima da meta de 3% e um dólar abaixo dos R$ 4,50. Acredito que dependerá mais da dinâmica da economia mundial do que propriamente de ações do governo federal e, olhando atentamente para o mundo, o bicho não parece assim tão feio. Não diria que todos os números acima são prováveis, mas hoje mostram-se bem possíveis.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.