No mercado financeiro, os momentos de pânico costumam ser, paradoxalmente, os de maior potencial para quem tem paciência e visão de longo prazo. É exatamente o que estamos vendo agora com os fundos imobiliários (FIIs). Conforme abordei neste mesmo espaço algumas semanas atrás, a alta das taxas de juros dos títulos longos do governo vem provocando uma forte desvalorização das cotas dos FIIs, o que está assustando os investidores, em especial os pequenos, que dominam esse mercado.
O que está por trás disso? A explicação é técnica: o aumento da taxa de desconto reduz o valor presente dos fluxos de caixa futuros, que, no caso dos FIIs, são os aluguéis. O problema é que, muitas vezes, o investidor pessoa física, que não compreende bem o produto, reage instintivamente ao ver as quedas no preço das cotas. O resultado é uma venda em massa, sem avaliação dos fundamentos. Até mesmo FIIs com carteiras lastreadas em CRIs indexados ao CDI, que teoricamente deveriam se beneficiar do cenário de alta dos juros, têm sofrido quedas expressivas. Isso demonstra que há mais emoção do que racionalidade no movimento.
E os fundamentos? Permanecem sólidos. Os imóveis continuam lá, alugados, gerando a mesma renda mensal, reforço aqui que o que mudou não foi a qualidade dos ativos, mas, sim, o custo do dinheiro no mercado. Em outras palavras, a queda nos preços reflete um ajuste técnico e não um problema estrutural. Para o investidor atento, isso deveria soar como um sinal de compra, não de venda.
Historicamente, os melhores momentos para investir são os mais desafiadores. Quando o mercado está em alta, todos querem comprar; quando os preços caem, o medo domina e as oportunidades passam despercebidas. É o famoso "comprar ao som dos canhões e vender ao som dos violinos". Quem tem a coragem de ir na contramão da manada e comprar ativos de qualidade a preços descontados tende a colher os melhores frutos no longo prazo.
Para quem investe ou pensa em investir em FIIs, a principal lição é: foque na renda. Lembre-se de que a cota oscila, mas o aluguel, salvo imprevistos, continua sendo pago. Se o objetivo é construir uma renda passiva consistente, o preço da cota importa menos do que a qualidade dos ativos no portfólio do fundo. E momentos como este, de quedas acentuadas, são oportunidades de comprar mais renda por menos dinheiro.
O mercado financeiro sempre foi e sempre será marcado por ciclos. Saber lidar com eles é a chave para o sucesso. Em vez de fugir do pânico, aproveite-o. Afinal, os fundamentos não mentem: os imóveis continuam lá, e a chance de transformar volatilidade em oportunidade está ao alcance de quem tem paciência e visão estratégica.
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