Formado em engenharia civil pela Ufes, pós-graduado em Finanças pelo IBMEC-MG e com mestrado em Administração pela Fucape, geriu o clube de investimentos Investvix entre 2011 e 2015. É assessor de Investimentos na Valor Investimentos desde 2016

Por que os fundos imobiliários não param de cair

Muitos investidores têm se desfeito de suas cotas, movimento que, não apenas pressiona os preços para baixo, mas também intensifica a volatilidade, que se reflete em uma desvalorização superior ao que os fundamentos justificariam

Publicado em 28/10/2024 às 08h16

Nos últimos meses, os fundos imobiliários (FIIs) têm enfrentado um período desafiador, com quedas significativas nas cotas. Esse movimento reflete, principalmente, o atual ciclo de alta de juros no Brasil, que pressiona o valor presente dos ativos de renda variável. No início do ano, havia a expectativa de queda da Selic, mas o Banco Central manteve e até ampliou os juros para combater a inflação. Esse cenário tornou a renda fixa mais atrativa, afetando o mercado de FIIs.

Com a Selic em alta, os títulos públicos e outras opções de renda fixa de longo prazo passaram a oferecer retornos mais elevados e menos voláteis, atraindo investidores que, em outro momento, optariam por FIIs. Em um ambiente em que a renda fixa está com retornos atrativos, o mercado de fundos imobiliários perde competitividade e, consequentemente, muitos investidores têm se desfeito de suas cotas. Esse movimento não apenas pressiona os preços para baixo, mas também intensifica a volatilidade, que se reflete em uma desvalorização superior ao que os fundamentos justificariam.

Entenda as diferenças entre investir em imóveis e fundo imobiliário
o momento dos fundos imobiliários é de desafios e ajustes. Crédito: Sean Pollock/Unsplash

Essa alta de juros ocorre em um cenário de incerteza fiscal no Brasil. Com o aumento dos gastos públicos e uma dívida crescente, o mercado vê uma dificuldade em estabilizar o endividamento do país, o que reforça a expectativa de que os juros se mantenham altos no longo prazo. Esse cenário é particularmente negativo para os FIIs, que, com um custo de capital elevado, são diretamente afetados pela pressão dos juros altos.

Ciclicidade e oportunidades nos FIIs 

Para entender a dinâmica dos FIIs, é útil compará-la ao efeito de uma mola: em momentos de alta de juros, a “mola” dos FIIs se comprime, reduzindo o valor das cotas. Contudo, quando o ciclo se reverte, com a queda dos juros, essa mola se distende e as cotas tendem a se valorizar novamente. Esse movimento é típico de ativos que projetam fluxos de caixa futuros, ou seja, a desvalorização atual, embora real, deve ser temporária.

Para o investidor que foca em renda, essa queda nas cotas não precisa ser motivo de pânico, pois a maior parte dos fundos imobiliários segue gerando dividendos constantes, derivados dos aluguéis dos imóveis. Fundos que possuem ativos em setores como logística, escritórios e shoppings continuam a mostrar resiliência, uma vez que os aluguéis desses segmentos permanecem aquecidos, favorecidos pela redução da vacância, crescimento do PIB e desemprego em baixa. Assim, enquanto o valor das cotas oscila com o mercado, os dividendos pagos por esses fundos seguem estáveis, mantendo a atratividade para quem busca renda passiva.

FIIs x renda fixa: fadiga e oportunidade

Desde 2020, a renda fixa no Brasil voltou a pagar taxas elevadas, criando uma alternativa atrativa para investidores mais conservadores. Para muitos, os FIIs tornaram-se menos interessantes, especialmente porque nos últimos anos a renda fixa proporcionou retornos superiores aos FIIs, com menor volatilidade. Essa “fadiga” do investidor em relação à renda variável, em um ambiente de juros altos, tem levado ao desmonte de posições em FIIs, aumentando a pressão de venda sobre as cotas e ampliando a queda de preços.

No entanto, vale lembrar que os FIIs ainda oferecem uma vantagem competitiva: a geração de fluxo de renda por meio dos aluguéis, o que representa uma forma de “renda passiva” constante. O mercado imobiliário segue aquecido e os fundos de tijolo – aqueles lastreados em imóveis reais – estão bem posicionados para manter a remuneração dos investidores. Esse rendimento mensal está menos sujeito à volatilidade das cotas e mais ligado aos contratos de locação, o que pode ser interessante para quem investe com foco no longo prazo.

Aproveitando o momento para investimentos de longo prazo

Embora a alta dos juros tenha criado um ambiente desfavorável para os FIIs no curto prazo, esse cenário também abre uma janela de oportunidades. Com a pressão nos preços, há fundos imobiliários de qualidade cujas cotas estão sendo negociadas a preços descontados, mas que mantêm bons ativos e uma gestão eficiente. Para o investidor de longo prazo, essa pode ser uma chance de adquirir cotas a preços mais baixos e obter dividendos superiores, com a expectativa de valorização futura quando o ciclo de juros se inverter.

Assim, embora o cenário fiscal e de juros traga volatilidade, investidores que conhecem o comportamento cíclico dos FIIs e buscam renda passiva podem ver valor no momento atual. Afinal, os FIIs oferecem uma combinação de rendimentos e potencial de valorização que se torna vantajosa em um horizonte de longo prazo. Navegar por esses ciclos com conhecimento permite aproveitar oportunidades que surgem em meio a desafios, com um olhar atento para a relação entre fundamentos e preço.

Em resumo, o momento dos fundos imobiliários é de desafios e ajustes. A volatilidade e a pressão dos juros devem ser encaradas como parte da natureza cíclica desses ativos, mas, para quem busca uma renda estável e pensa a longo prazo, os FIIs continuam sendo uma opção atrativa. Com uma boa seleção de ativos e paciência para lidar com o ciclo econômico, o investidor pode se beneficiar da recuperação futura do setor, extraindo valor mesmo em meio às oscilações atuais.

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