Um amigo me questionou sobre a possibilidade de dolarizar suas economias para custear a faculdade de Medicina da filha. Minha resposta imediata foi negativa. Em um cenário de taxas de juros elevadas no Brasil, o dólar geralmente perde terreno, e não vejo motivos sólidos para abandonar os rendimentos generosos de nossa renda fixa em favor da incerteza da moeda americana.
No entanto, esse questionamento me deixou pensativo e achei prudente aprofundar minha resposta. Felizmente, confirma-se que minha resposta inicial estava correta. Em várias janelas de tempo, o dólar não supera a rentabilidade dos Certificados de Depósito Interbancário (CDI) e, em muitos casos, fica abaixo da inflação.
A valorização do dólar não segue uma tendência uniforme. Normalmente, há breves períodos de forte valorização, seguidos por períodos prolongados de estabilidade ou queda nos preços. A mídia frequentemente nos bombardeia com notícias negativas sobre a economia e o ambiente de negócios no Brasil e cria grande alarde quando o dólar se fortalece. Isso leva muitos a acreditarem que o dólar sempre sobe e é sempre um bom investimento, o que não condiz com a realidade.
Nos últimos anos, devido a debates políticos intensos e à alta da bolsa americana, a ideia de "dolarização" do patrimônio foi facilmente vendida. No entanto, nos últimos dois anos, o IVVB11, um ETF que replica a média da bolsa americana, está negativo em 3,2%, e o dólar desvalorizou 4%.
As finanças comportamentais explicam essa corrida ao topo do ciclo, tanto na bolsa quanto no dólar. O medo de perder uma festa, considerando que, nos anos anteriores houve valorizações significativas, levou muitos a investirem no momento errado. Infelizmente, muitos perderam dinheiro porque olharam apenas para os rankings de desempenho dos últimos 12 meses. Quem entrou na onda da “dolarização” deixou 25% de retorno do CDI nos últimos 2 anos na mesa.
É importante ressaltar que, para dolarizar parte do patrimônio, não é necessário enviar dinheiro para o exterior. Existem fundos dolarizados disponíveis em nosso sistema financeiro que investem nos mercados globais, oferecendo diversas alternativas. Portanto, quando faz sentido abrir uma conta em uma corretora offshore e fazer uma remessa de dólares?
Isso é relevante quando você pode utilizar esses dólares no exterior, em viagens, por exemplo, visto que os custos de transação e impostos são menores nesse caso, ou quando deseja acessar produtos financeiros específicos, como investimentos no mercado imobiliário americano ou mesmo títulos de renda fixa em dólares, que hoje encontram-se no patamar mais atrativo em muitos anos, em função das altas de juros recentes.
Em resumo, ter recursos depositados nos Estados Unidos pode fazer sentido, mas está longe de ser a solução mágica para todas as aplicações financeiras. É preciso analisar o momento do ciclo econômico para tomar essa decisão e contar com uma orientação sólida para escolher onde investir após a remessa de dinheiro. A decisão deve ser motivada mais pelo aumento da diversificação do portfólio de investimentos e menos pela busca por retornos extraordinários.
Portanto, não se deixe levar por notícias alarmantes sobre o Brasil seguindo o caminho de outras economias problemáticas, como Argentina e Venezuela. Nossas instituições estão bem consolidadas para evitar crises significativas. Não há risco no horizonte de volta da inflação, muito menos de confisco da poupança. O mercado financeiro, tanto aqui quanto lá fora, está repleto de boas oportunidades.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.