Na minha última coluna, falei sobre o potencial de alta na Bolsa no próximo ciclo de queda da taxa Selic que se aproxima, porém não só as ações, mas os títulos de renda fixa de longo prazo também se beneficiarão.
Entre 2016 e 2020, junto com a queda da taxa Selic, verificamos também uma expressiva queda nas taxas de juros pagas pelos títulos do tesouro direto de longo prazo. Isso fez com o que o “tesouro” ficasse famoso na época, pois a marcação a mercado dos títulos proporcionou ganhos extraordinários para quem os possuía.
Para quem não sabe, um título de longo prazo após emitido não permite resgate por quem o adquiriu. Caso o investidor deseje sair antes do prazo de vencimento, ele precisa repassar esse título para outro agente, numa operação de compra e venda mesmo. No caso do tesouro direto, a outra parte é sempre o governo (Tesouro Nacional), que te vende e te recompra o título pelo preço negociado no dia. Surge então o termo marcação a mercado: o título passa a ser precificado pelo preço a que foi negociado, no último dia útil, no mercado.
Veja um simples exemplo: se o Tesouro vendeu um título prefixado, pagando juros de 10% a.a., e você o adquiriu, esse título tem um preço unitário (PU) e, à medida que o tempo passa, os juros de 10% a.a. vão sendo incorporados ao título. Suponhamos que você comprou o título com um PU de R$ 1.000; depois de 1 ano, o PU será de R$ 1.100,00, no entanto, isso só vale se os juros oferecidos pelo Tesouro para este mesmo título, com mesmo vencimento, se mantiverem estáveis. Se os juros se alterarem no meio do caminho, o PU também vai se alterar, afinal, para, no vencimento do título, ele entregar o mesmo retorno se os juros caem, o PU tem de ser maior e vice-versa.
Veja no gráfico abaixo, em laranja, a evolução das taxas de juros em percentual (eixo da esquerda) e, em azul, o PU (eixo da direita) de um Tesouro IPCA+ 2035:
No início de 2016, esse título pagava em torno de IPCA + 7,5% a.a.; essa taxa foi caindo, chegando a IPCA + 3% a.a. ao fim de 2019. Enquanto isso, o PU que estava em torno de R$ 1.500 foi subindo e atingiu, aproximadamente, R$ 3.500 no mesmo período, um retorno de ao menos 130% em 4 anos, na média, 23% a.a., bem acima da taxa contratada do título, visto que o IPCA médio do período foi de 4,31% a.a., que, somados aos 7,5%, daria um retorno anual de 12,13%.
Ou seja, a marcação a mercado proporcionou um ganho de quase o dobro do percentual contratado. Isso aconteceu porque as taxas de juros caíram e o Tesouro atualizou o preço de compra (PU) dos títulos. Quem os detinha pôde vender de volta para o Tesouro a qualquer hora os títulos com valorização acima da contratada.
Espera-se que, com a aprovação do novo arcabouço fiscal e com o início dos cortes da Selic pelo Banco Central, as taxas de juros desses títulos do tesouro comecem a cair. Na verdade, até já começaram, mas não esperamos movimento tão intenso como foi entre 2016 e 2019, esperamos bons ganhos acima do CDI e acima da inflação nesse tipo de aplicação neste próximo ciclo.
E os riscos?
Se os juros, em lugar de cair, vierem a subir de novo, no curto prazo o PU perderá valor. Você verá seu retorno negativo, porém, carregando o título até o vencimento dele, receberá a taxa contratada. Logo, o maior risco é você não conseguir levar o título até o vencimento e precisar resgatá-lo, vendendo-o de volta ao Tesouro, antes do período em que ele esteja negativo. Então, é preciso planejamento para ver o capital ideal a ser aportado nessa alternativa.
É importante alertar que comprar o título para vendê-lo antecipadamente é uma operação especulativa, pode dar certo se as expectativas se confirmarem, mas também pode dar errado e daí o investidor precisará carregar o título por muito tempo. Não se deve nunca aportar todo o capital numa operação assim, mas apenas uma parcela em que se tenha segurança de não precisar do valor num horizonte de mínimo de três anos.
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