As crianças da sua família tem acesso à educação financeira? Se a resposta for "não", comece você mesmo a ensiná-las. Além de ensinar, você aprende e reforça o aprendizado, o que gera proficiência.
Ensinar algo complexo não exige simplificação, basta repetição. Muitas pessoas acham que para instruir sobre assuntos mais elaborados é preciso fazer voz de criança, jeito de criança, desenhar como criança.
Falar sobre finanças exige repetição, seriedade e paciência. Gosto de dar o exemplo da minha sobrinha.
Uma vez, fomos ao supermercado e ela pediu um chiclete. Deixei que escolhesse. Era um no pote rosa. Ao chegar ao caixa, ela viu um pacote de chiclete no formato de melancia, só ouvi: “Olha, tia! Deixa eu levar esse?”. Fui objetiva, serena e mansa: “Querida, você terá que escolher entre um ou outro. Eu posso pagar os dois, mas como educadora financeira tenho que te ensinar o caminho mais difícil: o da escolha!”.
Não fiz cara de dó, não fiz voz infantil, não fiquei olhando. Ela teve o tempo da fila para pensar, olhar e tocar os dois (quando é possível, deixe tocar! Isso já elimina a curiosidade, na maioria das vezes). Chegou a tentar mais uma vez (o que achei bom!): “Deixa, tia!”. Eu disse: “Não, querida!”. Rapidamente, ela viu que estava chegando nossa vez e que não flexibilizei. Escolheu o rosa.
Muito tempo depois, voltamos ao supermercado e ela pediu direto o que tinha formato de melancia. Senti que se tornou até mais objetiva na hora de pedir as coisas. Parece que agora reflete antes o que quer porque sabe que limitarei.
Outro caso foi quando precisei comprar algo que tinha em uma loja de criança. Ela viu a maquiagem de uma personagem famosa e pediu. Eu falei que iria pensar. Enquanto a atendente embrulhava o que precisava, refleti. E perguntei: “Você vai usar esse monte de maquiagem? Todas?”. Ela disse: “Talvez!”.
Então, negociei para estimulá-la a entender o meu "não": “Não é nenhuma data especial, não tenho certeza se é bom você tão nova usar toda essa maquiagem. Então, não te darei por hora. Se um dia eu achar que posso te dar, te presentearei em uma data especial”.
Com o tempo, pega-se a prática, e garanto que o argumento valerá até para si mesmo. Ao fazer isso com a criança, fica natural negar para você mesmo.
Outra tática importante é usar as palavras “caro” e “barato”. A criança vai memorizando os valores e associando à grandeza e à importância daquele bem. Uso essas palavras, principalmente, quando nego o uso de algo em casa. Digo que ainda não tem idade e destreza, se deixar cair para comprar outro será caro.
Nas lojas e nos supermercados, fale abertamente que não vai comprar essa ou aquela marca porque está caro, que pode escolher entre as opções mais baratas e aponte os produtos. Isso serve, também, para produtos não saudáveis. Esclareça que, embora o produto esteja barato, não faz bem para a saúde. Ou que, além de caro, não é adequado.
Não espere a escola, a prefeitura, o estado, o governo ensinar. Comece já! Apenas comece! No início, os efeitos são mínimos, mas, no futuro, serão grandiosos.
Tenham um bom final de semana e se preparem para o Dia das Crianças. Seja mais presente nesse dia especial e dê menos presentes.
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