Desde que a Selic foi elevada para 13,75% a.a., ficando nesse patamar por um bom tempo, o Banco Central esperou a hora de agir, iniciando os cortes nos juros assim que a inflação começou a dar sinais de queda de forma disseminada, sem influência de eventos extraordinários.
Agora que estamos em ciclo de baixa, surgem duas barreiras importantes, uma externa e outra doméstica.
Nos Estados Unidos, os juros estão altos e estáveis, no topo do ciclo de alta. A discussão por lá é quando eles vão começar a cair. O problema é que a inflação americana não está cedendo como esperado. Esta semana foi divulgado o CPI — equivalente ao nosso IPCA — a 0,3% no mês de janeiro de 2024 (3,1% em 12 meses). O núcleo da inflação, que retira alimentos e energia, mais sujeitos a sazonalidades, ficou em 0,4% no mês e 3,9% em 12 meses. Para eles, é muita coisa, ou seja: não devem baixar os juros tão cedo.
Se voltarmos à ata do Comitê de Política Monetária que definiu a Selic em 11,25% no final de janeiro, veremos que há uma grande preocupação do Copom em relação aos juros americanos e de outras economias desenvolvidas. A primeira frase da ata foi “o ambiente externo segue volátil, marcado pelo debate sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias”. E mais à frente, o Comitê deixa claro que, se os juros ficarem altos lá fora, haverá uma limitação para a queda por aqui.
Se nossos juros ficam muito baixos em relação aos juros americanos, o fluxo financeiro pode ficar (mais) negativo. Nesse cenário, é preferível tomar dívidas no Brasil e investir no exterior, principalmente em renda fixa. Isso pode elevar o dólar e contaminar a inflação, obrigando o Brasil a subir os juros de qualquer jeito. Melhor, neste caso, é antecipar o fim do ciclo de baixa deixando os juros um pouco mais altos, aguardando para ver o que acontece lá fora.
Internamente, não foram nada boas as notícias sobre o déficit nas contas públicas brasileiras. Promessas não cumpridas, projeções não atingidas, arrecadação modesta e gastos crescentes fizeram o déficit nominal do setor público consolidado ficar em cerca de R$ 249 bilhões no ano de 2023. Não é sustentável. O Brasil não conseguirá fechar suas contas em alguns anos se não fizer ajustes. E não há indício de que o ajuste virá pelo gasto, mas pelo aumento de impostos.
Dívida pública maior, em consequência do déficit público, significa mais riscos para quem compra os nossos títulos públicos. E o mercado acaba pedindo mais juros. Se não pagarmos os juros que o mercado pede, o investidor, principalmente o estrangeiro, pode levar o seu investimento para outros países, novamente fazendo o dólar subir e contaminando a inflação.
E não custa lembrar que nossos juros são mais altos que os juros americanos porque o mercado vê mais risco aqui do que lá. Ter juros básicos mais baixos, de forma permanente, também passa pela credibilidade que nós construímos (ou não) e pela segurança de que nós somos capazes de controlar nossa dívida.
Qual é o remédio? Continuar cuidando da inflação desde já, assim como o Copom vem fazendo, inclusive analisando todo o balanço de riscos, interno e externo.
Isso começa por um juro adequado. Não é mais alto ou mais baixo, subindo ou caindo no grito ou no desespero. Em juros e em política monetária, não existe espaço para artificialidades. A consistência e a condução técnica do Banco Central vão encontrar seu prêmio lá na frente, na forma de uma economia mais forte e mais estável.
Quanto às contas públicas, esse é um problema tão sério quanto a inflação. Sabemos que não é só o Brasil que tem dificuldade de pagar suas contas, até países desenvolvidos vivem situação parecida (mas não igual). É um discurso duro, é chato, é antipático. Mas não tem jeito. Enquanto nós não aprendermos que não há nada de bom em gastar mais do que se arrecada, vamos continuar patinando e perdendo as tantas oportunidades que se apresentam para o nosso país.
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