Investir. Uma palavra que muitas vezes evoca imagens de emoção, risco e adrenalina. E se eu lhe dissesse, no entanto, que investir, na verdade, deveria ser algo chato, entediante e de longo prazo?
Pode parecer contraintuitivo em um mundo onde o mercado financeiro é retratado como uma montanha-russa emocionante, mas a verdade é que os melhores investimentos são aqueles que são tão emocionantes quanto assistir à grama crescer. Bons investimentos demandam tempo para maturar.
Quantas histórias você já ouviu de alguém que comprou um terreno ou outro imóvel qualquer décadas atrás por uma pechincha, apenas para, anos depois, ao decidir vender, obter uma pequena fortuna? Esse é o tipo de investimento que, enquanto se desenvolve, não gera manchetes emocionantes, não resulta em conversas animadas com amigos, mas, sim, em anos de paciência e contratempos até que, finalmente, o tempo faça o seu trabalho e um bom lucro apareça.
O mesmo pode ser dito sobre ações. Considere o exemplo de investidores que compraram ações de empresas sólidas há 20 anos e as mantiveram. Aqueles que investiram no Banco Itaú em 2004, por exemplo, multiplicaram seu capital por quase 20 vezes, obtendo um retorno médio superior a 16% ao ano no período. No entanto, qual é a chance de um investidor que acompanha o mercado diariamente manter uma ação por 20 anos? Muito pequena, já que qualquer movimento no mercado pode desencadear uma reação emocional e o levar a agir impulsivamente.
No curto prazo, o mercado é eficiente e volátil, atraindo muitos pela ideia de operar essa volatilidade e ganhar dinheiro rápido. No entanto essa é uma estratégia perigosa, e a realidade é que a grande maioria dos traders individuais que a tenta acaba perdendo dinheiro.
A verdadeira chave para o sucesso financeiro está na paciência, na disciplina e na visão de longo prazo. Não se trata de tentar prever os movimentos do mercado na próxima semana ou no próximo mês, mas sim de escolher investimentos sólidos, monitorá-los e deixar o tempo e o poder dos juros compostos fazerem seu trabalho. Ajustes serão necessários no caminho, mas não com a frequência que muitos imaginam.
Lembro-me de Howard Marks em "O Mais Importante para o Investidor", dizendo mais ou menos assim: "Quando eu era menino, existia uma frase popular que dizia, 'Não fique apenas sentado, faça algo!' Mas no mundo dos investimentos, eu inverteria para, 'Não faça algo, apenas fique sentado.' Crie uma mentalidade que você não faz dinheiro nos investimentos no que você compra e vende; você faz dinheiro (espero) no que você segura para o longo prazo."
Um estudo feito pela Fidelity Investments sobre os seus melhores investidores e o que eles descobriram surpreende: os seus melhores investidores são aqueles que esqueceram que têm uma conta lá ou que já morreram e deixaram seus investimentos sem movimentação.
Quando ocorre o falecimento de uma pessoa e a família fica lutando pela herança, os anos intocados da carteira são os anos com a melhor rentabilidade. Isso ocorre porque o viés de aversão a perdas nos leva a vender o que é bom e a manter o que é ruim. É fundamental aprender a lidar com essa limitação comportamental para evitar uma má gestão da sua carteira de investimentos.
Portanto, da próxima vez que sentir a tentação de buscar atalhos ou se deixar levar pela emoção do mercado, lembre-se: os melhores investimentos são aqueles que são tão chatos e entediantes que você quase se esquece de que os possui. E, no final das contas, é exatamente assim que você constrói riqueza de verdade.
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