Felipe Storch Damasceno é economista com mestrado e doutorado em Administração e Contabilidade. É professor de Economia e pesquisador dos impactos sociais e econômicos de políticas públicas. Também é consultor, palestrante e comentarista na CBN Vitória

A fragilidade fiscal e seus impactos na economia brasileira

Para reconquistar a confiança dos investidores, o Brasil precisa demonstrar compromisso com metas fiscais realistas e implementar reformas estruturais que garantam a sustentabilidade das contas públicas no longo prazo

Publicado em 27/12/2024 às 08h29
Cenário econômico do Brasil preocupa . Crédito: Pexels
Cenário econômico do Brasil preocupa . Crédito: Pexels

O Brasil enfrenta um momento crucial em sua trajetória econômica, onde a deterioração do quadro fiscal tem afetado diretamente a confiança dos investidores e, consequentemente, os principais indicadores do mercado financeiro. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, e a cotação do dólar têm refletido essa preocupação crescente com os fundamentos econômicos do país. Em 2023, o Brasil registrou um déficit primário de R$ 230,5 bilhões, equivalente a 2,1% do PIB, marcando o retorno ao território negativo após um superávit em 2022. Esse resultado preocupa especialmente porque ocorre em um momento em que o país tenta recuperar sua credibilidade fiscal e atrair investimentos estrangeiros.

A relação dívida/PIB, um dos principais indicadores de solvência fiscal, atingiu 74,3% em 2023 e tem previsão que atinja 80% em 2024, sinalizando aos investidores internacionais a necessidade de maior prêmio de risco para investir no país. Esse cenário tem pressionado o dólar, que mantém patamares elevados, impactando diretamente a inflação e limitando o espaço para redução da taxa básica de juros. A construção de fundamentos macroeconômicos sólidos é essencial para reverter esse quadro. A experiência internacional demonstra que países com disciplina fiscal consistente conseguem atrair investimentos de qualidade e manter um ambiente de negócios mais previsível. O Chile, por exemplo, manteve por anos o status de investment grade graças à sua responsabilidade fiscal, permitindo um crescimento sustentável com inflação controlada.

Para reconquistar a confiança dos investidores, o Brasil precisa demonstrar compromisso com metas fiscais realistas e implementar reformas estruturais que garantam a sustentabilidade das contas públicas no longo prazo. O novo arcabouço fiscal, embora represente um avanço, ainda precisa provar sua efetividade na contenção do crescimento dos gastos públicos. A última vez que o Brasil obteve o grau de investimento foi em 2015, perdendo-o em meio à crise fiscal e política. A reconquista dessa classificação depende diretamente da capacidade do país em estabelecer uma trajetória consistente de resultados fiscais positivos e implementar reformas que aumentem a produtividade e a competitividade da economia.

O controle da inflação, que fechou 2023 em 4,62%, também está intrinsecamente ligado à questão fiscal. Um ambiente de descontrole das contas públicas aumenta as expectativas inflacionárias, forçando o Banco Central a manter juros mais altos por mais tempo, o que prejudica o crescimento econômico.

A construção de bons fundamentos macroeconômicos não é apenas uma questão técnica, mas um compromisso necessário para garantir um futuro de crescimento sustentável com estabilidade de preços. Somente com disciplina fiscal, reformas estruturais e previsibilidade institucional o Brasil poderá atrair os investimentos necessários para seu desenvolvimento e garantir melhores condições de vida para sua população.

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