Felipe Storch Damasceno é economista com mestrado e doutorado em Administração e Contabilidade. É professor de Economia e pesquisador dos impactos sociais e econômicos de políticas públicas. Também é consultor, palestrante e comentarista na CBN Vitória

O impacto das bets: dinheiro para comida das famílias vai para apostas

Entre 2018 e 2023, gastos com apostas aumentaram quatro vezes; prática começa a prejudicar o orçamento destinado à alimentação, e recursos destinados a esses jogos já superaram gastos com lazer, cultura e produtos pessoais

Publicado em 01/10/2024 às 13h00
Apostas bets
Em agosto de 2024, os brasileiros gastaram R$ 20,8 bilhões em apostas. Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil

Nos últimos anos, o cenário das apostas no Brasil tem mudado de maneira significativa, impactando tanto o orçamento das famílias quanto a economia do país. A crescente popularidade das apostas, especialmente no formato on-line, transformou-se em uma preocupação social e econômica. Entre 2018 e 2023, o tamanho das apostas no orçamento familiar aumentou impressionantes quatro vezes, refletindo uma mudança de comportamento que merece atenção.

Em agosto de 2024, os brasileiros gastaram R$ 20,8 bilhões em apostas. Esse número alarmante revela um padrão de consumo que ultrapassa categorias muitas vezes consideradas essenciais. Dados mostram que os gastos com apostas já superaram aqueles relacionados a lazer, cultura e produtos pessoais. Mais preocupante ainda é o fato de que essa prática começa a afetar o orçamento destinado à alimentação, uma área crítica para a sobrevivência das famílias. À medida que os recursos se desviam para o jogo, a capacidade de atender às necessidades básicas se torna cada vez mais comprometida.

Uma questão ainda mais grave é que cerca de R$ 3 bilhões do Bolsa Família foram direcionados a apostas. Esse fato evidencia uma relação preocupante entre a assistência social e o vício em jogos. O Bolsa Família, programa crucial para a proteção da população mais vulnerável, está sendo utilizado por alguns para sustentar hábitos de apostas, resultando em um ciclo de endividamento e instabilidade financeira.

Adolescentes têm sido particularmente afetados, utilizando cartões de crédito para realizar apostas e, em alguns casos, buscando empréstimos com agiotas. A insensatez dessa prática é alarmante, pois muitos jovens ainda estão em fase de formação financeira e podem não compreender os riscos associados ao endividamento. Esse fenômeno não apenas prejudica a saúde financeira das famílias, mas também pode resultar em sérios problemas emocionais e sociais entre os jovens.

No que diz respeito aos métodos de pagamento, a maior parte das apostas ocorre via Pix, um sistema de pagamento instantâneo que facilita a transferência de valores. Essa modalidade tem se tornado a preferida dos apostadores devido à sua conveniência. No entanto, 15% das apostas são realizadas por meio de cartões de crédito, o que indica um potencial aumento do endividamento, já que muitos apostadores podem não estar cientes do impacto que isso pode ter em suas finanças a longo prazo.

Economicamente, o crescimento das apostas não traz necessariamente benefícios positivos. Enquanto gera receita, pode aumentar a desigualdade e o endividamento, criando um ciclo de dependência. O desafio para as autoridades é encontrar um equilíbrio entre regulamentação e a proteção dos cidadãos, especialmente os mais vulneráveis.

Em resumo, o impacto das apostas no orçamento familiar e na economia brasileira é dual. Por um lado, há um aumento notável na quantidade de dinheiro gasto em apostas, o que resulta em consequências diretas e severas na vida das pessoas. Por outro lado, essa situação levanta questões sobre a necessidade de regulação e conscientização. Proteger os mais vulneráveis deve ser uma prioridade, à medida que o Brasil navega por essas águas incertas e potencialmente perigosas.

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