A percepção da dinâmica econômica global ainda está atrelada aos choques e desdobramentos da pandemia. Os governos em geral lançaram mão dos chamados estímulos monetários e fiscais pelo brusco golpe que as economias do mundo sofreram.
Como consequência disso, as fissuras nas cadeias globais de produção e nos mercados geraram um quadro de alta inflação. Sabemos que a isso atinge a muitos, principalmente os mais vulneráveis.
Contudo, nos últimos meses, uma medida que tem ecoado em inúmeros bancos centrais afora é a retirada gradual dos estímulos e a normalização das políticas monetárias diante de um ambiente de travas do crescimento econômico.
É nesse contexto que podemos perceber as movimentações das instituições e enxergar as previsões de modo factível. O Banco Central Europeu (BCE) começa a se mover na direção de subir os juros, seguindo o caminho já indicado pelo Federal Reserve (Fed).
Um exemplo disso tem sido os argumentos da presidente do BCE, Christine Lagarde, em que declara que a maior parte do avanço de preços se deve à alta dos custos de energia e de alimentos e às rupturas na cadeia produtiva global.
Em parte, Lagarde está correta. No entanto, alguns analistas têm se preocupado com o risco desses choques de oferta terem efeitos secundários na inflação. O mercado de trabalho está demorando a engrenar. Tal como cá, mas de forma mais amena, a taxa de desemprego na zona do euro atinge 7%. A consequência desse dado é a de que poderá alimentar reajustes reais de salários que superem os ganhos de produtividade.
Por outro lado, nos Estados Unidos os dados do mercado de trabalho, divulgados na sexta-feira (04), registraram a criação de 467 mil empregos. Isso porque os analistas contavam 150 mil vagas. Os rendimentos voltaram a subir e desemprego subiu levemente de dezembro para janeiro (de 3,9% para 4%, respectivamente).
Com os números na ponta do lápis, o risco de uma inflação de salários se torna mais palpável aos americanos. Por isso, há críticas de que o Fed está atrás da curva no processo de alta de juro.
As recentes notícias de desaceleração econômica da China também é um ingrediente importante e que impacta diretamente os países emergentes. O Brasil é um exemplo claro, pois apresenta uma situação fiscal frágil.
Nesse sentido, a deterioração do cenário fiscal e a alta da inflação, que geraram o ponto de inflexão da política monetária, somadas às incertezas eleitorais, acrescenta ao prato principal a pimenta da volatilidade no mercado acionário.
O ganhador do Nobel, Harry Markowitz, traz um ponto extremamente relevante em sua Teoria Moderna de Portfólio e que cai como uma luva atualmente aos investidores brasileiros. Há 25 anos, ele dizia que a diversificação é o único “free lunch” ("almoço grátis") em finanças, já que traz a possibilidade de ampliação do retorno para um determinado nível de risco ou redução do risco para um determinado retorno.
Em outras palavras e sem falar “financês”, é importante, na montagem de carteiras diversificadas, aliar produtos descorrelacionados, pois é a melhor forma de obter resultados consistentes a longo prazo, mesmo em cenários turvos e de alta inflacionária.
Este vídeo pode te interessar
Leia mais colunas Seu Dinheiro
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.