Na coluna do dia 11 de maio, eu escrevi sobre a complexidade do cenário global pós-pandemia e a dificuldade do investidor se posicionar frente às tensões geopolíticas, aceleração inflacionária e as mudanças estruturais trazidas pela crise sanitária. No último dia 7, a invasão coordenada do Hamas em território israelense colocou uma dose extra de incerteza nesse já turbulento cenário.
Antes de especular sobre os possíveis desdobramentos econômicos decorrentes do conflito, é importante dizer que estes dependem fundamentalmente das proporções que a guerra tomará e se outros países serão envolvidos.
Se a guerra continuar restrita apenas à Faixa de Gaza, os impactos econômicos devem ser limitados. Entretanto não se pode descartar que o conflito tome proporções regionais, com o envolvimento de outros países do Oriente Médio — como o Irã, que é apoiador do Hamas — ou até globais, com envolvimento de Estados Unidos e Rússia — o que parece uma possibilidade mais remota).
Em um cenário de um conflito restrito à Faixa de Gaza ou se alastrando para outros países da região, o principal impacto para a economia global será via preço do petróleo. Países como Arábia Saudita, Iraque, Irã e Emirados Árabes estão entre os principais produtores de petróleo do mundo e um eventual envolvimento no conflito poderia comprometer a oferta global do óleo. Com uma diminuição da oferta, os preços tenderiam a aumentar.
Os desdobramentos de uma elevação relevante no preço do petróleo seriam de grande proporção, dado que este é uma das principais fontes de energia para diversos países e um item com grande impacto sobre os índices inflacionários. Em um cenário que a maior parte do mundo ainda não conseguiu controlar a espiral inflacionária causada após a pandemia, uma escalada no preço do petróleo pode tornar ainda mais difícil a batalha dos Bancos Centrais, fazendo com que os juros no mundo inteiro tenham que permanecer em patamares elevados por mais tempo.
No entanto, o mercado até então não precifica um cenário de escalada severa do conflito. Os preços do petróleo, que chegaram a subir quase 10% na segunda-feira seguinte ao ataque do Hamas, voltaram para os patamares que negociavam antes da eclosão da guerra. As taxas de juros negociadas a mercado e as bolsas globais também negociam com relativa tranquilidade. O que está nos preços parece ser realmente um conflito que fica contido na Faixa de Gaza. Se for esse o caso, os impactos para Brasil devem ser contidos.
De qualquer forma, esse evento deve ser mais um ponto de atenção ao selecionar investimentos de risco e requer um acompanhamento próximo de seus desdobramentos. Mais uma dose de complexidade para este cenário global nada descomplicado.
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