Iniciamos o ano praticamente certos de que era uma questão de tempo até o FED (Federal Reserve Board, o Banco Central dos EUA) iniciar seu processo de corte de juros. Com algum otimismo, teria sido no mês passado, em março; já os mais pessimistas falavam em setembro. Hoje, há dúvidas se isso ocorrerá ainda neste ano, o que espalhou ceticismo pelos mercados mundo afora.
O processo de investimentos passa sempre por uma análise de cenários, com todos se posicionando de acordo com o que avaliam de riscos e probabilidades de eventos futuros. Mais uma vez, a economia americana surpreende com uma retomada de vigor, alimentando uma inflação resiliente, por volta de 3,5% ao ano, logo acima da meta praticada naquele país, que é de 2,0% ao ano. Assim, teremos juros altos por mais tempo, com o objetivo de esfriar um pouco a economia por lá e fazer com que os números convirjam para a meta.
Os juros americanos são a referência mais importante no mercado financeiro mundial, visto que os títulos de dívida dos Estados Unidos são considerados o maior porto seguro do mercado, o chamado ativo livre de risco. Em tese, todos os demais títulos de renda fixa do mundo pagam uma taxa maior, com um prêmio de risco, em relação aos títulos americanos.
O fato de o mercado trabalhar com esses juros mais altos por mais tempo resulta num movimento global de portfólios, onde investimentos mais bem remunerados, com baixo risco, deixam menos atrativos os produtos de renda variável e títulos de dívida de outros países mais arriscados, como o Brasil. Assim, nossos títulos do Tesouro Direto voltaram a oferecer juros reais acima dos 6% e, com efeito cascata, muitas ações na Bolsa sofreram com o cenário de aversão a risco presente.
É verdade que, por aqui, também o governo não ajuda, com a sua incapacidade de equalizar o gasto público e seu viés de aumento constante de despesas. Aconteceu o que se temia: o arcabouço fiscal aprovado no ano passado já está sendo remendado para permitir uma despesa maior. Isso aumenta a incerteza sobre a trajetória da dívida pública brasileira, o que resulta em maior prêmio de risco nos nossos títulos e o pagamento de mais juros na dívida.
Em paralelo, o dólar se valoriza, o que gera pressões inflacionárias e faz o Banco Central manter a Selic também mais alta. No entanto, hoje a principal pressão sobre os juros e sobre nossa moeda ainda vem de fora. O mercado ainda não precifica com maior força o descontrole das contas públicas brasileiras, no entanto, cedo ou tarde, isso vai começar a fazer preço.
Em outubro do ano passado, tivemos um estresse parecido nos mercados, com as bolsas caindo forte em função da disparada dos juros nos Estados Unidos e, em novembro, vieram dados positivos que mudaram o ânimo global. Hoje, todos estão pessimistas e descrentes da capacidade da política monetária reduzir a inflação à meta; porém não podemos descartar que a inflação americana surpreenda para baixo.
Assim, o momento é para, gradativamente, se aproveitar oportunidades, em títulos prefixados e indexados à inflação, e na Bolsa, que apresenta várias ações, com bons fundamentos, negociando a taxas de retornos bem atrativas a longo prazo. Uma hora a inflação americana cede, o bom humor volta a se fazer presente, as taxas de juros recuam e os ativos voltam a se valorizar. Nenhuma crise dura para sempre!
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